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Aprender a tourear em Vila Franca de Xira com o melhor dos mestres

Aprender a tourear em Vila Franca de Xira com o melhor dos mestres

Jovens sonham com tardes de glória nas arenas enquanto tentam imitar José Júlio

Não é por falta de um bom mestre que os alunos da escola de toureio José Falcão não vão longe. O ex-matador José Júlio passa horas e horas a transmitir o seu saber a jovens dos 8 aos 20 anos. Os alunos sonham todos com a glória das arenas. E com Espanha.

Tânia Fortunato, Pedro Noronha, Luís Moutinho, Júlio Antunes e Luís Miguel aproveitam a manhã de sábado para fazerem o que mais gostam: aprender a tourear na Escola Luís Falcão, instalada no tentadero de Vila Franca de Xira. Os jovens fazem parte de um grupo de 18 alunos que frequenta a única escola de toureio portuguesa que integra a Federação Internacional de Escola Taurinas (FIEP). Criada há 24 anos recebe alunos dos 8 aos 20 anos, oriundos, não só de Vila Franca de Xira como de Cascais, Sintra, Golegã, Benavente, Alcochete, Alenquer e Lisboa. As aulas são gratuitas e a assiduidade depende da disponibilidade dos alunos. A única condição para serem admitidos é gostarem da arte e ter boas notas na escola. “Quem não estuda não entra”, garante o maestro e ex-matador de toiros, José Júlio, que se esforça para passar o seu conhecimento e engenho aos mais novos, de segunda à sexta-feira das 16h00 às 20h00 e aos sábados de manhã. Luís Noronha é bancário e vive no bairro de Alvalade, em Lisboa. Todos os sábados, vem a Vila Franca de Xira trazer o filho, Pedro, às aulas de toureio. Diz que não faz a mínima ideia onde foi o rapaz buscar aquela paixão. “Não sei onde é que ele foi buscar esta ideia. Lá em casa ninguém é aficionado. A irmã até detesta animais.”, conta.O jovem Pedro Noronha também não sabe como tudo começou mas sabe bem o que quer. Aos 14 anos engendrou um plano para levar a família a Espanha, mal atinja os 16 anos, a idade com que se pode matar toiros no país vizinho. “Comecei por ver uns cartazes e quando tive oportunidade vim cá”, explica. O candidato a toureiro também é futebolista. Por enquanto concilia os treinos no Sporting com o toureio mas tem ideias firmes quanto ao futuro. “ O que quero mesmo é ser toureiro”, afirma. Ser a máxima figura do toureio é a ambição de todos estes jovens. Acabar os estudos em Espanha é outra. “Em Espanha pode-se matar, aqui não infelizmente”, diz Tânia Fortunato, 17 anos, que quer vingar no mundo da tauromaquia. “É disto que gosto e é isto que quero fazer. Todos os dias, depois das aulas, venho aqui treinar. É uma paixão que vem desde pequena e quero leva-la até ao fim”, explica. A mesma ambição que acompanha o pequeno Luís Miguel, 9 anos, e o mais jovem deste grupo. “Tudo o que eu quero é ser toureiro. É o meu sonho”, suspira. O mestre refreia-lhes os ânimos. “Chegar-se a toureiro é quase um milagre. É muito complicado. É uma arte muito exigente. É um universo muito elitista”, explica José Júlio. Mais do que saber, na escola José Falcão aprende-se sobretudo a sentir. “Aprendemos a ser bons aficionados, a sentirmos este mundo”, explica Júlio Antunes, 17 anos a frequentar o 11º ano de escolaridade e filho do maestro José Júlio. “Uma grande responsabilidade”, diz quem este ano já participou em quatro bezerradas, à maneira espanhola, e cortou cinco orelhas. Além da aficion ensinam-se as técnicas do toureio: o capote, a moleta, a sorte das bandarilhas e a sorte de matar. Os mais novos treinam para serem bezerristas, isto é para enfrentarem bezerras e os mais velhos preparam-se para lidar com novilhos e tornarem-se novilheiros. No momento de enfrentar o animal, dizem os alunos mais experientes que há sempre um pequeno nervosismo, mas que passa. Para o presidente da escola, António Inácio, a instituição não tem passado por dificuldades de maior. Mas admite que os transportes para os alunos chegarem ao Cabo, onde está o tentadero, não estão facilitados. “Admito que se possa vir a analisar a hipótese de se adquirir uma viatura própria para a escola”, avança. José Júlio, um pouco mais ambicioso, prevê que naquela escola surja uma escola profissional. Onde se concilie as aulas teóricas do ensino obrigatório e as práticas do ensino do toureio a pé. “Estamos à espera disso”, avança. A escola de toureiro foi inaugurada em Agosto de 1984, quando se assinalou dez anos sobre a morte do matador de toiros vila-franquense José Falcão. As actuais instalações pertencem à Companhia das Lezírias e a escola é tutelada pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, que recuperou as instalações, paga a quota da escola à FIEP e as despesas das deslocações que alguns alunos fazem a Espanha. A escola, por pertencer à FIEP tem conseguido com que os alunos tenham levado o nome da cidade de Vila Franca de Xira a diversas praças de toiros de Espanha e França. O último foi o de Manuel Luís Gomes, 18 anos, que ganhou este ano o certame de escolas taurinas, em Málaga.
Aprender a tourear em Vila Franca de Xira com o melhor dos mestres

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