TGV vai obrigar à demolição de quinze habitações em São João dos Montes
Urbanização do Mosteiro é a zona mais afectada e os moradores alertam para ruído e trepidação
Comboio de Alta Velocidade vai obrigar à demolição de habitações e ao corte de serventias em vários terrenos agrícolas. A presidente da Câmara de Vila Franca garante que vai “tomar posição” em relação ao traçado.
O traçado da linha de alta velocidade prevê a demolição de quinze casas na freguesia de São João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira. A revelação foi feita sábado, durante a discussão pública do projecto em Cotovios, naquela freguesia. A alternativa mais provável para o traçado irá arrasar 22 habitações em todo o concelho. As duas alternativas à passagem da linha têm um traçado comum no território da freguesia. A urbanização da Mosteiro, uma zona de moradias, é a área mais afectada. Anabela Bastos presidente da junta de freguesia de São João dos Montes, criticou traçado escolhido e apelou os responsáveis da RAVE para encontrarem outra solução.Os problemas não se resumem às casas a demolir. A autarca denunciou os valores de ruído previstos para as zonas residenciais, que atingem o máximo permitido por lei, 55 decibéis (dB). “É preciso ter em conta sintomas como as insónias, o cansaço, a fadiga, que vão afectar as populações próximas da linha”, alertou. Augusto Serrano da Agência Portuguesa de Ambiente, assegurou que serão colocadas barreiras de protecção sonora junto às habitações. “Até porque se trata de uma questão de saúde pública”, acrescentou. As vibrações, explicou, serão “minimizadas”, garantiu o técnico, mas a garantia não sossegou os presentes. O comboio de alta velocidade vai provocar também vibrações nas residências. Margarida Nascimento, moradora no lugar do Badalinho, freguesia de São João dos Montes, avisou: “não quero sentir a minha casa tremer a cada passagem do comboio”. A moradora acrescentou que “as pessoas foram para aquela local para fugir do ruído e da confusão e avisou que a RAVE tem de baixar o ruídos para valores próximos daqueles existem hoje não aumentá-los para o máximo que a lei permite”. A passagem do TGV por zonas onde existem linhas de água preocupa Filipe Reis, arquitecto morador na freguesia, e mereceu o apoio da presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Maria da Luz Rosinha classificou com um “zero” a experiência do município com a Refer, empresa que gere os caminhos-de-ferro, de que faz parte a RAVE. Na construção das estações de comboios da Póvoa de Santa Iria, Alverca e Castanheira, os responsáveis da empresa “desprezaram as linhas de água e o Instituto da Água (INAG) consentiu a forma como as passagens hidráulicas foram feitas”, acusou a presidente. E apontou às duas entidades a responsabilidade pelas inundações que levaram ao corte da Linha do Norte no concelho, em 18 de Fevereiro. Na sessão usaram da palavra mais de trinta pessoas das cerca de centena e meia que assistiram. Várias esclareceram a sua situação particular junto dos técnicos que permaneciam junto às plantas do traçado do TGV. O debate contou ainda com participantes dos concelhos de Loures e Arruda dos Vinhos. Maria da Luz Rosinha assegurou, no final da sessão, que a Câmara de Vila Franca de Xira vai “tomar posição” sobre o traçado da linha de alta velocidade “com base na discussão realizada nas várias freguesias”. O documento será entregue à RAVE e à Agência Portuguesa de Ambiente.Na Sombra do TGV O traçado da linha de alta velocidade passa em viaduto sobre vários terrenos agrícolas. Pedro Santos Costa, morador em São João dos Montes alerta que “os terrenos que vão ficar na sombra dos viadutos não vão poder ser cultivados”. O cidadão quis saber quais as casas e terrenos afectados pela sombra das estruturas. A RAVE e a Agência Portuguesa de Ambiente não souberam responder. Augusto Serrano, representante da APA, adiantou apenas que “serão tomadas medidas de minimização do ensombramento”. Uma mão cheia de incertezas“Prefiro não adiantar, em relação a cada zona, quantas casas serão demolidas. Posso dizer que são duas e conseguirmos que seja apenas uma. Mas podem acabar por ser três”, disse Carlos Fernandes, representante da RAVE, a certa altura do debate. A discussão pública tem sido marcada pela incerteza quanto aos valores e traçados determinados para a passagem do TGV no concelho, tanto quanto ao traçado, como às consequências como às soluções. Margarida Nascimento foi uma das habitantes que pediu à RAVE e à APA a lista dos terrenos a expropriar. A lista, que não é pública, não foi entregue. A residente foi aconselhada a enviar um e-mail semelhante a um primeiro que já tinha enviado, com resposta prometida “para muito breve”. Já Nuno Almeida, que está a terminar uma casa junto à confluência das duas alternativas de traçado em São João dos Montes, confessou “não ter hipótese” em qualquer um dos casos de manter a sua habitação incólume à passagem do TGV. A casa está por terminar por falta de dinheiro. O empréstimo é pago todos os meses, sobre uma casa que ainda não pode habitar. “Queria agradecer por ser afectado pelo TGV. É um orgulho servir meu país, como é óbvio”, ironizou o residente. “A câmara está ao seu lado”, garantiu a presidente da câmara, que disse ser “um sentimento perfeitamente compreensível” a revolta dos moradores. O TGV em números A linha de alta velocidade passa por várias freguesias do concelho de Vila Franca de Xira. Castanheira, Calhandriz, São João dos Montes e Vialonga são as mais afectadas. O comboio de alta velocidade vai passar de 15 em 15 minutos em hora de ponta, de manhã e ao fim do dia. Ao todo são mais de 60 composições diárias que vão atravessar a linha Lisboa/Porto. As obras de construção da linha vão impedir a construção ou agricultura numa faixa de protecção de 400 metros em torno da linha, que passará a ser de 40 metros após a conclusão da obra. Segundo dados da RAVE, o TGV vai permitir o transporte de 12 milhões de pessoas em 2030, 9 milhões só entre Lisboa e Madrid. No ano de arranque, vão ser 7 milhões de passageiros por ano a fazer o trajecto Lisboa/Porto. No arranque, vão ser quatro comboios diários. À noite, as composições só vão passar entre as 20h00 e as 23h00 entre a capital do Norte e Lisboa. A linha vai ter estações em Lisboa (Oriente), Aveiro, Leiria, Rio Maior e Porto.Vialonga “tem sempre o recurso ao tribunal”A discussão sobre o traçado do TGV também se fez em Vialonga, na quinta-feira. No salão nobre da junta de freguesia, foram poucos os lugares para aquela que foi a segunda essão de debate sobre o comboio de alta velocidade. Apesar da garantia dada por Maria da Luz Rosinha, presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, de que o TGV não iria passar no centro da freguesia, as dúvidas dos cidadãos sucederam-se. O resultado foi um desabafo da autarca, em que assegurou, que “mesmo que tudo aquilo que já foi garantido voltasse atrás, temos sempre uma palavra a dizer. E Teríamos sempre o recurso ao tribunal para impedir que as coisas avançassem”. Na sessão, os vialonguenses aprovaram um documento em forma de recomendação, para entregar à Agência Portuguesa de Ambiente (APA) que defende a alternativa B1. A hipótese é a de que a linha passe na zona da Fonte Santa, evitando o centro da freguesia, mais populoso.
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