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Reclusos de Alcoentre encenaram peça para crianças do concelho

Reclusos de Alcoentre encenaram peça para crianças do concelho

Plateia encheu com uma centena de espectadores de palmo e meio

O grupo de teatro do Estabelecimento Prisional de Alcoentre, concelho de Azambuja, apresentou uma peça a uma centena de crianças do concelho. A história fala do Natal e os presos foram actores por um dia.

Ver Video em: http://www.omirante.pt/omirantetv/index.asp?idgrupo=2&IdEdicao=54&idSeccao=514&id=26816&Action=noticiaPor um dia Leonel esqueceu que está a cumprir pena por tráfico de droga no Estabelecimento Prisional de Alcoentre (EPA), no concelho de Azambuja. Está preso há um ano e meio e ainda lhe faltam cinco anos para poder passar o Natal em casa com a família. Na quarta-feira, 10 de Dezembro, vestiu a pele de um dos Reis Magos numa peça alusiva ao Natal. O espectáculo, preparado pelo grupo de teatro do EPA, decorreu no salão nobre da casa do pessoal do estabelecimento. A peça foi interpretada para uma plateia composta por quase uma centena de crianças provenientes de oito escolas do ensino básico do concelho da Azambuja. O facto de os personagens serem presidiários não os assustou. Já o mesmo não aconteceu com os polícias. “Metem medo”, diz o irrequieto Alfredo, de seis anos. A música começou a decrescer e de repente as atenções centraram-se no palco. Lá estava o Pai Natal, a pingar do nariz com gripe, não fosse o mote da história - “O Pai Natal está constipado”. A peça gira em torno da aventura da entrega dos presentes. O pai natal toma um xarope para a constipação, adormece e os embrulhos mágicos desaparecem misteriosamente. Acabam por ser recuperados com a ajuda dos Reis Magos. “Sinto-me muito bem a fazer isto, dá um sentido à vida. Adorei a experiência”, refere o “Rei Mago” Leonel a O MIRANTE.Para a pequenada a estrela da peça é o homem gordo vestido de vermelho. Por baixo da máscara está Sérgio. Foi detido em 2003 por tráfico de droga e faltam-lhe apenas nove meses para ir embora. Sabe que vai passar o próximo Natal em casa com a mulher e o filho, que também assistiu ao teatro, e isso vê-se nos olhos. “Esta experiência é das poucas coisas que podemos levar de um sítio destes, que a nível de cultura nos pode enriquecer bastante. Aqui aprendemos a conviver de uma maneira diferente, muita gente pensa que serve apenas para passar o tempo, mas isso não é verdade. É preciso aprender muita coisa e mesmo que lá fora não venha a fazer nada disto há algo que vou sempre recordar com alegria e com prazer: ver estas crianças entretidas e contentes com o nosso trabalho”, refere. Para Sérgio há uma nova vida lá fora e as palmas são o reconhecimento dos últimos oito meses de preparação e trabalho. “Sou um homem muito diferente”, afiança.A técnica de reeducação Maria Suzete já trabalha com o grupo de teatro do EPA há oito anos. “Esta é uma experiência positiva para os detidos a muitos níveis. São acompanhados diariamente por uma técnica, melhoram a imagem, a comunicação, trabalham o espírito de equipa, estudam porque têm que perceber aspectos técnicos do teatro, treinam e tornam-se mais humildes. Não nos podemos esquecer que homens marginais não têm muitas vezes o hábito de cumprir ordens”, refere a O MIRANTE. Também para a directora do estabelecimento prisional, Joana Patuleia, o teatro é uma forma de contribuir para a melhoria da personalidade através da promoção de “jogos de equipa” que acabam por ter efeitos muito positivos para os reclusos que se preparam para regressar à vida normal. No final da festa o pai natal despediu-se, distribuiu presentes pelas crianças e voltou para à cela.
Reclusos de Alcoentre encenaram peça para crianças do concelho

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