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Investigadores portugueses descobrem forma de usar o papel como memória

Investigadores portugueses descobrem forma de usar o papel como memória

Sistema poderá servir de pólo de atracção para a indústria do papel, das telecomunicações e da informação

Depois do transístor de papel, equipa coordenada por Rodrigo Martins e Elvira Fortunato surpreende novamente.

Uma equipa de investigadores portugueses descobriu uma forma de usar o papel como memória, depois de o ter utilizado já como suporte físico para transístores e como isolante eléctrico. "Não será para amanhã, mas num futuro não muito distante será possível abrir uma carta e ver e ouvir em papel a pessoa que a envia", explica o professor Rodrigo Martins, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa.A descoberta desta equipa de investigadores do I3N/CENIMAT (Centro de Investigação em Materiais), coordenada por Rodrigo Martins e Elvira Fortunato, vem descrita num estudo publicado na revista norte-americana "Applied Physics Letters". Os mesmos responsáveis estão agora a tentar optimizar a memória em papel como dispositivo capaz de ler, escrever e ser selectivo, tendo já recebido uma oferta de compra da patente pela Sansung, com a qual estão a negociar.Trata-se de uma tecnologia descartável, de duração até dois anos e de baixo custo, já que o papel é muito abundante, além de ter as vantagens de ser reciclável e biodegradável. "O papel é constituído por fibras embebidas numa resina que têm uma espessura de cerca de três micrómetros" (milionésimos do metro), explicou Rodrigo Martins, presidente do Departamento de Ciências dos Materiais da FCT. Para construir o dispositivo, acrescentou, começa por se depositar sobre o papel um óxido semicondutor com espessura na casa dos 40 nanómetros (milionésimos do milímetro), ou seja, 100 vezes menos espesso que as fibras, com o qual se cria um filme contínuo sobre as fibras. As fibras ficam assim interligadas em paralelo e em planos compactos dispostos por camadas, "o que faz com que numa pequena dimensão seja possível ter uma enorme capacidade de armazenar cargas iónicas", precisou. Comparando com o que se passa com um telemóvel, onde existe um condensador muito pequeno que armazena cargas, no papel há milhares de fibras, sendo isso que lhe confere a sua gigantesca capacidade, adiantou. Para pôr o dispositivo a funcionar é preciso alimentá-lo com uma corrente eléctrica, que irá entrar por um eléctrodo, a que se chama "porta", colocado numa das faces do papel, e sair por dois contactos (a "fonte" e o "dreno").O que se passa, continuou o investigador, "é que ao aplicar tensão na porta, esta vai induzir cargas eléctricas que se vão acumulando ao longo das fibras, que funcionam como o dieléctrico, ou seja, como o isolante de um condensador". E é porque o percurso a percorrer pela corrente ao longo das fibras é muito grande que é também enorme a sua capacidade de armazenamento. Finalmente, associando este dispositivo ao transístor de papel criado pela mesma equipa, será possível transmitir e guardar a informação neste suporte. "Na folha de papel eu posso fazer com que nas suas diferentes camadas apareça um jornal completo com 40 a 50 páginas ou qualquer outra informação codificada em digital, com texto, imagem e som", sublinhou.Os investigadores estão agora a estudar uma forma de tornar o dispositivo wireless (sem fios) e auto-sustentável, já que é necessário ligá-lo a uma corrente eléctrica. Uma das suas aplicações industriais mais simples será em etiquetas que poderão concentrar toda a informação existente sobre um produto, desde o seu conteúdo em detalhe até à data em que foi produzido e onde, quando chegou à loja ou qual o seu tempo de exposição.Quanto à data em que será possível prever a sua introdução no mercado, Rodrigo Martins referiu um prazo médio nunca inferior a três anos. Na sua perspectiva, os efeitos deste "conceito disruptivo" poderão ser comparáveis aos da chegada do homem à Lua, um acontecimento que agregou quase toda a indústria norte-americana, ou, à escala portuguesa, da Escola Náutica de Sagres."No séc. XVI agregámos tudo aquilo a que hoje chamaríamos os industriais, desde madeireiros a construtores, marceneiros e carpinteiros para construir a nossa nau, um navio leve, capaz de cruzar os mares no tempo das Descobertas", afirmou. Neste caso, augurou, a criação de um sistema integrado e auto-sustentável em papel poderá servir de pólo de atracção para a indústria do papel, da electrónica, das telecomunicações e da informação e, até, das bioengenharias.
Investigadores portugueses descobrem forma de usar o papel como memória

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