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Acutilante Serafim das Neves

Há coisas espantosas. Vê lá tu que, a semana passada, andava um tipo com 26 mil e 200 euros na carteira, a passear calmamente em Santarém. Andava, digo bem. Andava mas já não anda. Quer dizer…andar até pode andar mas vai mais leve porque alguém lhe roubou a massa. É por estas e por outras que se vê a confiança que os bancos nos inspiram. Há quem prefira andar com as notas que depositá-las. Compreende-se. Assalto por assalto mais vale um assalto à moda antiga. Com pistola, faca ou coisa parecida. Que piada tem sermos assaltados sob a ameaça de taxas e juros com nomes estrangeiros? Chegamos ao pé dos amigos e dizemos que fomos roubados. Chovem perguntas, pois claro. Todos querem saber pormenores. Se nos apontaram uma metralhadora? Se o bandido tinha uma meia de senhora na cabeça? Se tinha sotaque de bairro social? Se dizemos que a arma utilizada foi uma despesa de manutenção de conta e que o assaltante usava fato e gravata, passamos por totós. Nunca mais ninguém nos leva a sério.Eu se tivesse dinheiro também não o punha no banco. Felizmente não tenho esse problema. Nem eu nem a maioria da malta que nós conhecemos. Que eu saiba ninguém foi afectado pela crise financeira. Mas fartei-me de sofrer quando soube que o Berardo, por exemplo, perdeu uma quantidade incrível de dinheiro. Ele e outros assim. Coitados. Afligi-me tanto que estava a ver que me dava uma coisa. Felizmente o Governo deu-lhes uma mãozinha. É para isso que servem os governos, pensei eu. Afinal somos todos filhos de Deus e iguais à face da Constituição. Eu acho que o Estado está a cumprir bem o seu papel social. É a todos os níveis. Dá amor e carinho aos banqueiros, reintroduz os galheteiros nos restaurantes, trata das crianças dos mais pobres. Eu acho bem. E tu? Imagina que tens uma casa sem piscina. Pimba, o Estado tira-te os filhos. Ganhas mal e não tens dinheiro para lhes comprar telemóveis e roupa de marca. Não te preocupes, o Estado toma conta deles. É uma boa política. Primeiro dá mais tempo aos pais para irem passear ou ao cinema. E o dinheiro que o Estado poupa. Sempre é melhor tomar conta dos cachopos do que arranjar casas, empregos temporários aos pais e rendimentos mínimos para as famílias. Não era na Roménia do Ceausescu que o Estado tirava os cachopos às famílias? Vais ver que com nacionalizações de bancos falidos e comissões de protecção de menores ainda chegamos ao socialismo.No teu último e-mail exortas a matula a arremessar sapatos a cobradores do fraque e outras melgas. E confessas que esgotaste as munições. Lamento ouvir isso. Apesar do teu entusiasmo pela nova modalidade acho que ela não vai fazer moda em Portugal. É uma questão cultural, Serafim. Eu falo por mim. Estou noutra. Defendo o uso de munições mais sofisticadas. Sou um adepto confesso do arremesso de peúgas. Peúgas com 15 dias de uso, de preferência. São letais. As minhas pelo menos são. Mesmo que não atinjam o alvo os efeitos colaterais são devastadores. Eu sei do que falo. Nunca me descalço sem colocar primeiro a máscara de gás. A prevenção em primeiro lugar. Para mim os conselhos da Protecção Civil são para levar a sério. É como o alerta laranja contra o frio. Assim que oiço o aviso ligo o aquecedor, vou a correr calafetar janelas e portas e não saio de casa. O patrão bem me telefona mas sem sucesso. Ordens da Protecção Civil são ordens da Protecção Civil. E eu não quero ser acusado de desobediência. Para desrespeitar autoridades já basta quando deixo o carro em cima do passeio. Não posso abusar se não levo pena agravada. Um abraço alaranjado do Manuel Serra d’Aire

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