“Falta estratégia e visão em Vila Franca de Xira”
Vereador Rui Rei foi um dos elementos mais participativos na discussão do PDM
Setenta e duas participações no âmbito da discussão pública do PDM e discursos em cada freguesia. O vereador do PSD da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Rui Rei, recusou-se a ser um velho do Restelo e apresentou alternativas, mas defende que este não é o momento certo para uma revisão do PDM num ano que se governa para as eleições.
Se houve alguém que fez o trabalho de casa nas sessões públicas de discussão do PDM foi o senhor. Mas as intervenções poderiam ter sido mais aligeiradas e acessíveis.Nas primeiras sessões tive uma atitude pedagógica, mas a partir de determinado momento perdia-se o essencial que era descascar um documento que tem mais de mil páginas e que a maioria dos cidadãos não lê e não conhece. Alguns foram reclamar porque há um conjunto de matérias que lhes diz respeito. Outros não vão reclamar e só vão ver que lhes diz respeito daqui a uns anos quando tiverem problemas. O nosso papel aqui não foi de oposição pura e dura porque se assim fosse nem sequer tínhamos participado. Tínhamos ficado em casa para dizer depois: ‘isto não pode andar porque os documentos estão trocados’. Como fez a CDU?A CDU fez o que entendeu fazer. Não gosto de estar nas coisas a fazer de conta e o que fiz foi de forma séria. Nas primeiras sessões a câmara municipal colocou erratas no PDM. Normalmente quem está na oposição limita-se a sentar-se numa cadeira e a dizer isto está mal, não concordo. O género dos velhos do Restelo. Nós fizemos o trabalho que os serviços deveriam ter feito que foi olhar para o documento e perceber onde estavam os erros.Por exemplo?No caso do cluster aeronáutico dissemos que não só não existia como não estava nada feito. E dissemos que deveriam estar terrenos reservados para que pudéssemos incentivar a instalação de outras empresas. Este não é o momento para estar a discutir o PDM. Este deveria ser o momento para se rever o plano estratégico. Andamos meses a discuti-lo e assentava sob um pilar importante que era o aeroporto da Ota. Fizemos o documento, alterou-se o aeroporto e o que aconteceu ao nosso paradigma de desenvolvimento? Mas de que forma isso deveria estar reflectido?O plano estratégico deveria ter sido revisto para podermos dizer qual era o paradigma de desenvolvimento. E a partir dessas linhas mestras construir o PDM. Acha que um plano de acessibilidades que fala num viaduto que vai ser deitado abaixo é uma coisa para levar a sério? Porque é uma altura má para fazer a revisão?Não é o momento porque o poder político está claramente a governar para as eleições. Não está a governar preocupado com o desenvolvimento do concelho. Não é o momento para se fazer uma revisão do PDM séria e ponderada.Mas o PS está a fazer algumas concessões.Mas são concessões evidentes. De 400 participações 72 são minhas. É inegável que houve aqui algum trabalho. Não é porque nos apetece dizer que a estrada não passa ali. A revisão do PDM não é uma coisa isolada. Quando faço uma revisão do PDM tenho que ter a perspectiva do que quero ser e do que os outros vão querer ser. Loures está a querer crescer. Lisboa como metrópole vai querer crescer. Onde é que acha que Lisboa vem buscar gente? A Vila Franca de Xira, a Loures e à Amadora. O que acha que vai acontecer a concelhos como Vila Franca de Xira se não tiverem estratégia? O concelho vai tornar-se ainda mais dormitório?Obviamente. Há crescimento da população e não há estratégia de captação de novas indústrias. Não há sequer estratégias de fixação do que nós temos. O Museu do Ar sai. No PDM não está prevista a reconstrução do espaço nem sequer a ampliação. A NBP que é importante para toda a gente não é importante para Vila Franca de Xira. Critica a expansão, mas por outro lado aponta o dedo ao facto da câmara deixar fugir investimentos como o da produtora NBP.Uma coisa é a extensão pura e dura só de pessoas. Mas é preciso arranjar dinheiro para construir os equipamentos que as pessoas precisam, como os centros de saúde e as escolas. Mas a presidente diz que há equipamentos previstos em excesso. Não é isso que diz o PDM. Os equipamentos já hoje não chegam. Há escolas para todas as crianças do concelho? Não. Há médicos de família para todas as pessoas do concelho? Não. Há estradas para todos? Não. Nunca me ouviu dizer que sou fundamentalista, anti construção. O concelho suporta ainda mais construção?Enquanto tivermos espaço suportamos mais construção, mas só devemos construir na perspectiva das necessidades. Posso querer em alguns casos mais pessoas, mas tenho que querer mais empresas para que possa ter mais dinheiro para investimentos. Os concelhos da Área Metropolitana de Lisboa que tiveram políticas de desenvolvimento acertadas, como Oeiras e Cascais, atraíram um conjunto de investimentos. De que forma se pode fazer isso?Da mesma forma que Oeiras conseguiu criar um factor de atracção para que se instalasse ali as empresas de tecnologia. Quando são criados os centros comerciais 20 ou 30 por cento dos espaços já estão ocupados. São as chamadas lojas âncora que fazem o sucesso do resto. Nos concelhos é igual. Mas as questões às vezes têm que ver com as restrições das reservas ecológicas.Segundo o que sei o protocolo que está feito com Sintra [para onde vai o Museu do Ar, ver texto nesta edição] está feito num terreno que tem reserva ecológica e reserva agrícola. Então qual é o problema?Falta de estratégia e falta de visão que deveria existir em Vila Franca de Xira. Nós somos um concelho próximo de Lisboa. Porque é que a hotelaria não se instala em Vila Franca de Xira? Porque é que um Hotel se vem instalar em Santa Iria da Azóia no meio do nada? É porque lá têm outras condições.Mas o concelho já tem um grande estigma de suburbanidade.O estigma de suburbanidade temos nós, a Amadora e tem Loures. Cascais tem uma outra imagem, mas se há alguém que tem movimentos pendulares é Sintra. Tem uma zona de exclusão social e criminalidade, mas tem uma zona onde algumas empresas até se instalam. Dois dos investimentos de Vila Franca de Xira é para lá que planeiam ir: o Museu do Ar e NBP. Os rótulos mudam, mas é preciso saber o que queremos fazer.Mas a presidente já disse que estava disponível para começar a trabalhar no próximo PDM.Acho que isso é negativo. Um documento que é para vigorar dez anos já precisa de ser revisto? Então quer dizer que este documento não serve para nada.
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