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Uma mulher de trabalho com um projecto a doze anos

Maria do Céu Albuquerque é a candidata socialista à Câmara Municipal de Abrantes

Aos 38 anos, arrisca-se a ser a primeira mulher a presidir à Câmara Municipal de Abrantes. O PS apostou nela para ser a sucessora de Nelson Carvalho. A actual vereadora aceitou e propõe-se renovar a equipa sem cortar com o passado. Não se pronuncia sobre os adversários já conhecidos e diz que vai assumir um projecto para doze anos.

Foi apanhada de surpresa pela decisão do presidente Nelson Carvalho em não se recandidatar à Câmara de Abrantes?Não fui apanhada de surpresa no dia da conferência de imprensa. Soube algum tempo antes. O Partido Socialista entendeu, a partir do momento em que a presidente da concelhia conhecia a sua decisão, que deveria começar a falar com algumas pessoas para auscultar sensibilidades. E obviamente também fui ouvida no sentido de perceber a minha sensibilidade e vontade de poder vir a encabeçar este projecto. A minha grande surpresa foi em 2005 quando Nelson Carvalho me convidou para fazer parte da sua lista.Foi uma decisão ponderada ou não hesitou quando a convidaram?Não estava à espera. Sempre fiz o melhor que pude e dei um contributo válido em todos os projectos em que me envolvi, como o da criação do laboratório A.Logos. Foi através das minhas competências profissionais que acabei por chegar à política. Esse trabalho que fui fazendo cá em Abrantes foi sempre acompanhado pelo poder político, porque estava ligado a várias autarquias. A Câmara de Abrantes tinha um peso importante na estrutura do laboratório. E foi ao lado da Câmara Municipal de Abrantes que fui crescendo do ponto de vista profissional e político.Era filiada no PS?Na altura não. Entretanto fui também convidada para ficar à frente do tecnopólo. Ao longo da minha vida profissional, que é de cerca de 16 anos, fui sempre trabalhando para a causa pública, para as pessoas. Foi com surpresa efectivamente que recebi o convite de Nelson Carvalho em 2005 para fazer parte da sua lista. Foi uma grande honra para mim. E senti uma grande responsabilidade ao assumir esse compromisso.Ser autarca é diferente de ser responsável técnica de um serviço. O que a motivou a aceitar a candidatura a um cargo onde sabe que as suas responsabilidades vão aumentar exponencialmente?Nos anos em que estive ligada ao A.Logos e ao Tecnopólo tinha um bocadinho mais do que a componente técnica. Muito do trabalho executivo e de definição política de projectos passava por mim. Depois eram aprovados em sede própria pelos associados dessas estruturas. Por outro lado, gosto muito de trabalhar para as pessoas, para a promoção da qualidade de vida das comunidades. Quando assumi entrar na lista de Nelson Carvalho não era para fazer número. Assumi porque estava convicta que era o melhor contributo que podia dar para a minha comunidade. E pelos vistos continua a pensar da mesma forma.É com esta determinação e esta convicção de que tenho uma responsabilidade social para com a comunidade onde estou inserida, que assumo a responsabilidade desta candidatura e de tentar desenvolver um projecto para os próximos 12 anos.Já está a pensar em três mandatos?Estou a pensar num projecto. Aposto num planeamento estratégico. Tenho estado na câmara a liderar alguns projectos e instrumentos de planeamento e a acompanhar outros.Conta com os actuais vereadores do PS para a sua lista?Não lhe vou responder neste momento porque não o discuti ainda em sede própria. O PS em Abrantes sempre tem dado aos seus candidatos liberdade para a escolha das suas equipas. Tenho algumas ideias que quero discutir com a comissão política, com o partido, com os meus colegas. Pode haver alguma renovação?Vamos ver. Estou a apostar claramente numa candidatura nova, renovada, inovadora, com capacidade de realizar.A sua inexperiência política não poderá ser um óbice perante adversários mais experientes?Não me parece que a minha experiência política possa ser relativizada desse ponto de vista. Estou na câmara há mais de dois anos, mas há 16 anos que estou ao lado desta autarquia, que trabalho para os mesmos objectivos. Muito antes de estar pensada para fazer parte das equipas do PS já acompanhava o planeamento e fazia parte das comissões da própria câmara para elencar e definir uma estratégia política para o nosso concelho. Mas tenho humildade suficiente para perceber também que não posso estar sozinha. O PSD e o CDS já apresentaram os seus candidatos. Que opinião tem deles a nível político?Não vou neste momento tecer qualquer comentário acerca das pessoas que estão a encabeçar esses projectos políticos. Em democracia quem se vai pronunciar sobre a qualidade ou o perfil dos candidatos são os eleitores e vamos aguardar para ver como este processo se vai desenrolar.Possivelmente serão colegas no próximo executivo camarário. Não teve curiosidade em aprofundar o conhecimento sobre eles?É evidente que sim, mas não vou fazer comentários neste momento sobre isso. E como comenta a possibilidade de o ex-vice-presidente da câmara e militante socialista Albano Santos poder concorrer como independente?É a democracia. Neste momento o processo está aberto e todas as pessoas que se sentirem em condições de apresentar um projecto político devem apresentá-lo e depois os eleitores decidirão.Há quem considere que as listas independentes se transformaram não em verdadeiros movimentos de cidadãos independentes mas em listas de ressabiados de partidos políticos.Prefiro não comentar. O que posso dizer é que eu não o faria. Tenho uma militância recente no Partido Socialista, mas tenho uma militância muito profunda. A partir do momento que abracei este projecto no qual eu acredito era incapaz de fazer uma candidatura como independente. Só o faria acompanhada pelo meu partido.Pelos primeiros sinais antevê-se uma campanha dura.Como todas. Estamos cá para trabalhar. Uma das minhas características é ser persistente. Todos os projectos em que tenho estado envolvida levo-os para a frente.Se for eleita pensa dar pelouros aos vereadores da oposição?Não sei. À primeira vista digo que não, mas serão assuntos discutidos a seu tempo.É uma pessoa do terreno?Sim. Sou uma pessoa de ir à obra, de andar no terreno de botas de biqueira de aço e de capacete. Gosto muito desta política de proximidade, gosto de lidar com as pessoas. O meu gabinete na câmara é no rés-do-chão e posso dizer que já hoje várias pessoas da comunidade me bateram à porta para falar comigo e eu atendi-as.Se fosse presidente da Câmara de Abrantes tinha apostado na construção do açude insuflável?Tinha. O açude veio transformar a imagem da cidade, veio devolver o rio à cidade, possibilitar um espaço de fruição muito bom e é claramente um motor para potenciar a atracção de pessoas e de eventos. É uma das apostas estratégicas para o desenvolvimento da cidade, baseado muito no turismo activo e de lazer.O projecto Aquapolis tem ainda uma grande margem de crescimento.Claro que sim. Neste momento estamos a lançar concurso para construção de um centro náutico, um equipamento estratégico para aquilo que se pretende fazer em termos de dinamismo do Tejo e deste espelho de água. Vamos também avançar com a recuperação da margem sul.Ficou satisfeita quando soube que a barragem nesta zona do Tejo já não ia ser construída?Claro que sim.Que linhas de força pretende apresentar aos eleitores?Reforçando aquilo que já disse, o projecto que pretendo encabeçar é feito com as pessoas e para as pessoas. Quero pegar em todos os instrumentos de planeamento estratégico e discuti-los com o meu partido, com a comunidade… Temos um plano estratégico para a cidade, temos um plano estratégico do turismo em elaboração, temos a revisão do PDM em curso, temos em aprovação um plano integrado para a valorização do meio rural, temos um plano de valorização do centro histórico. É um património muito valioso que tem de ser trabalhado para montar este grande projecto a 12 anos.O concelho de Abrantes tem perdido população nas últimas décadas. Como é que se pode dar a volta a uma situação dessas?O que tem acontecido em Abrantes acontece também em todo o interior do país. As novas acessibilidades vieram colocar-nos num patamar completamente diferente e acho que estamos a conseguir dar a volta. O projecto que quero levar para a frente não começa do zero. Há muito trabalho que está feito e que importa continuar. De qualquer modo os tempos vão sendo outros e há um fio condutor. Em Abrantes o PS tem uma grande responsabilidade. Desde o 25 de Abril que governa o concelho, com excepção de um período de quatro anos. A governação de Nelson Carvalho foi muito virada para o equipamento. Com a cidade desportiva, a piscina aquecida, o parque urbano de São Lourenço. Equipamentos públicos que trouxeram uma mais valia muito grande para a vida dos nossos cidadãos.O campo de basebol é uma mais valia?É evidente que sim. Já fomos palco de vários eventos internacionais na área do basebol porque foi uma aposta claramente diferenciadora. Subscrevia-a, mesmo que pudesse pensar nela um pouco. Porque é realmente muito inovadora. É com esta aposta clara no que é diferenciador que temos de andar para a frente.Tal como o cemitério à americana?Não podemos continuar a fazer mais do mesmo. As cidades e os concelhos vão-se afirmando por aquilo que é diferenciador. É por aí que devemos ir.Concorda com a limitação dos mandatos autárquicos?Acho que tanto um modelo como outro têm algumas situações que podem causar constrangimentos. O facto de haver um limite de 12 anos obriga-me a fazer um planeamento para esse período. Por outro lado, sem limitação de mandatos podem surgir alguns problemas porque nem sempre se tem coragem de renovar. E é claramente uma necessidade ao fim de algum tempo de governação haver uma mudança de líder e de equipas. Aposto claramente na renovação em ciclos. Mas é um bocadinho constrangedor saber que são 12 anos e ponto final. Acha que essa limitação devia ser estendida a outros titulares de cargos políticos, como os deputados que aprovaram essa lei?Talvez possa vir a ser. Mas é necessário que haja uma renovação, até porque é importante que os jovens comecem a interessar-se pelas coisas da política e se sintam pertença da sua comunidade. Arrisca-se a ser a primeira mulher a presidir à Câmara de Abrantes na era democrática. Concorda com a imposição de quotas por sexos nas listas para as diferentes eleições?A participação feminina em qualquer lista devia ser uma questão natural. Acho que as mulheres assumiram um protagonismo grande na nossa sociedade pela sua capacidade de trabalho e de liderança. Tenho pena que seja necessária a imposição destas quotas para que a mulher possa ter este papel que lhe é merecido. Homens e mulheres têm sensibilidades diferentes que se complementam e os projectos são muito mais enriquecidos se houver essa pluralidade.Alguns partidos poderão ter dificuldade em arranjar tantas mulheres para as suas listas. Já começou a pensar nisso também?Já. Mas o PS em Abrantes já deu provas de que as mulheres têm um papel importante. Temos algumas das nossas freguesias lideradas por mulheres e até temos uma equipa numa das juntas de freguesia que é composta só por mulheres. Pelo menos em Abrantes penso que não vamos ter essa dificuldade.“O meu maior hobbie é trabalhar”Natural de Abrantes, casada, mãe de duas filhas, Maria do Céu Albuquerque, 38 anos, afirma-se como uma mulher “muito trabalhadora”, que gosta de planeamento estratégico mas também de trabalhar no terreno. Licenciada em Bioquímica, diz que o seu maior hobbie é trabalhar. Embora tenha outras paixões, como conhecer outras paragens. Uma viagem de gostou muito foi a Nova Iorque: “Uma cidade completamente diferente da Europa, mista de culturas, que nos prende e nos deixa uma grande vontade de voltar para conhecer mais. Há um grande respeito pela diferença”.Na leitura gosta muito de autores latino-americanos como Gabriel Garcia Marques ou Mário Vargas Llosa. Ultimamente tem também lido “algumas coisas” do escritor japonês Haruki Murakami, com quem se identifica. Mas diz que é bastante eclética a esse nível e que lê um pouco de tudo “até para perceber outras sensibilidades e outras vivências”. Um filme que a marcou “profundamente” foi a “Lista de Schindler”, de Steven Spielberg. Na música, os gostos são também diversos, do jazz à clássica, passando pelo fado ou pela ópera. “Podíamos estar aqui meia hora a falar disso”. Só heavy-metal é que não. “Não faz muito o meu género”. Na clássica, e entre as mais conhecidas, aprecia obras como “Carmina Burana”, de Carl Orff, “A cavalgada das Valquírias”, de Wagner, ou “As Quatro Estações”, de Vivaldi. Jacinta, Clã, Diana Krall são grupos ou intérpretes contemporâneos que aprecia.O percurso até chegar à política“Estudei Bioquímica em Coimbra e fiquei a fazer investigação na universidade durante dois anos. Tenho também uma pós-graduação em Higiene e Segurança Alimentar. Por razões pessoais e familiares voltei a Abrantes e vim trabalhar para o Labgat, que era um pequeno laboratório de controlo de qualidade que existia no GAT (Gabinete de Apoio Técnico) de Abrantes. Esse laboratório era uma coisa incipiente. Desenvolvia trabalho para algumas autarquias, mas era um trabalho reduzido. Havia necessidade constante de subcontratar esse trabalho fora e à conta disso fui tentando pôr de pé o projecto do laboratório a nível regional de forma a criar uma equipa. Consegui andar com ele para a frente e transformá-lo no que é hoje, o A.Logos, que é um equipamento de referência regional e até já nacional. É um laboratório acreditado, presta um serviço de qualidade aos cidadãos e aos municípios. Foi através da minha actividade profissional que cheguei à política”.

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