Não é normal os jornalistas da nossa terra serem reconhecidos
Há dias especiais na nossa vida que podem acontecer a uma qualquer terça-feira em que o mundo não tremeu e a nossa vida ficou apenas mais curta. A responder perante um juiz, na qualidade de arguido, acusado do abuso de liberdade de imprensa, tive que me explicar sobre o facto de estar a usar o plural quando o arguido era eu e não a redacção do jornal onde escrevo. À noite, à mesa, o meu filho fez-me um desafio: um dia o pai tem que me explicar melhor que desafio é esse, o da literatura na sua vida.Não é nada fácil explicar a um juiz, quanto mais a um filho, o que nos leva a fazer determinadas opções na vida e a seguir caminhos que muitas vezes não levam a lugar nenhum a não ser a uma sensação de realização pessoal que nos faz adormecer todos os dias com um sorriso no rosto.O MIRANTE vai entregar no próximo dia 12 os prémios Personalidade do Ano a 11 figuras da nossa região que se destacaram em várias áreas de actividade. Foi com o prestígio do nosso trabalho que conquistámos o direito de premiar aqueles que entendemos merecerem o prémio Personalidade do Ano. Premiando alguns queremos dizer a todos que, mais do que jornalistas, somos também gente solidária. Para nós escrever e editar um jornal não é apenas cumprir as regras de uma profissão e, à hora marcada, fechar o computador e regressar a casa para calçar as pantufas. Queremos fazer parte da história da nossa região editando notícias mas dando também o exemplo ao nível da prática da cidadania.Não é normal em Portugal os jornalistas da nossa terra serem reconhecidos pelo seu trabalho e pela sua dedicação a uma causa. Não é normal em Portugal existir fora de Lisboa ou do Porto um grupo de jornalistas empenhados em valorizarem uma das profissões mais nobres e valorizadas entre todas as classes profissionais. Quem conhece bem a vida dos grandes jornalistas sabe que esta profissão não compensa. Não dá medalhas; não dá nome de rua; não dá dinheiro e muito menos permite ter uma vida de padre ou de poeta. Por isso é que os jornalistas morrem quase todos pobres e cansados. E morrem anónimos como quase todos os médicos, os advogados, os enfermeiros, os policias, os bombeiros, entre tantos outros profissionais que abraçam causas públicas, recebendo em troca, na grande maioria dos casos, apenas a satisfação do dever cumprido logo que chega a hora da reforma.Escrevo esta crónica a uma terça-feira, um dia especial para mim, a meio da noite, com os óculos sem uma haste, no meio de uma nuvem de fumo do meu cachimbo, num espaço sem condições para vencer o frio. Amanhã é dia de fechar a edição. Amanhã é dia de acabar mais uma missão e começar logo, logo, a pensar noutra missão impossível. Não é normal em Portugal os jornalistas da nossa terra serem reconhecidos pelo seu trabalho e pela sua dedicação a uma causa sem se meterem na política ou na vidinha cheia de gosma que entusiasma tanta boa gente.
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