Neto e sobrinho-neto de oleiros, João Caetano do Rosário Silva, 71 anos, é o último artesão do género em Atalaia, Vila Nova da Barquinha, onde, segundo conta, em meados do século XIX chegaram a funcionar 35 olarias de fabrico caseiro. Há 47 anos que dá vida ao barro na “Olaria dos Silvas”, como é conhecida a fábrica cor-de-tijolo onde chegou a trabalhar com mais dois irmãos e, nos tempos áureos do negócio, com outros elementos da família. A tradição atalaiense assenta no fabrico da loiça de água. Cântaros, enfusas, púcaros e barris. Há também potes para flores. De todos os tamanhos e feitios. Se antes João Caetano fazia 60 cântaros num só dia, hoje este número fica muito aquém e nem o ousa revelar.“Estamos a trabalhar para não estar parados”, atesta. O barro, esse, já não é amassado como dantes, quando era recolhido numa charneca das proximidades. Agora chega em camionetas dos lados de Alcanede e Rio Maior, sendo depositado num tanque onde fica a “auguar” durante dois ou três dias. Dali segue para um misturador que esmaga e transforma as pedras em pó. Em seguida, uma máquina corta os pedaços de barro à medida da peça que vai ganhar forma na roda de oleiro, antigamente movida à força dos pés e hoje electrificada. Antes de ir a cozer ao forno a lenha, o molde fica resguardado a secar durante três meses. “Não queria ser oleiro, queria ser médico”, confessa o artesão de olhos meigos dizendo que esta é uma arte com os dias contados. Por isso, recorda com orgulho que no dia 7 de Dezembro de 2008 o município de Vila Nova da Barquinha homenageou-o com a medalha de honra. Solteiro e sem filhos, João Caetano esteve toda a vida ligado ao mundo do espectáculo, especialmente ao teatro, contando 50 anos como actor amador. Este ano quer encenar uma peça que represente as figuras típicas da terra onde nasceu e viveu. A figura do oleiro é uma das que pretende ver evocadas no espectáculo. Elsa Ribeiro Gonçalves