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Negócio das bifanas floresce em tempo de crise

Negócio das bifanas floresce em tempo de crise

Camionistas e jovens são principais clientes das roulotes à beira da estrada

Depois de uma viagem de três mil quilómetros Márcio Freitas, camionista, encosta o veículo e come duas bifanas regadas com imperial. São nove da manhã. Para os negociantes das roulotes “crise” é uma palavra que não existe.

O cheiro a cebola insinua-se mesmo às portas da fábrica de cervejas de Vialonga, concelho de Vila Franca de Xira. A carne está sempre a sair, seja bifana, prego ou entremeada. A enchente de pessoas que rodeia o balcão não é resultado de uma ousada campanha de saldos ou promoções. Simplesmente a venda de produtos que escasseiam na zona industrial de Vialonga: alimentos.A falta de restaurantes, sobretudo que ofereçam comida barata e rápida, obriga muitos funcionários a optar por alimentação mais barata. “Ainda há dias gastei oito euros para comer um bitoque em Alverca. É um abuso para aquilo que nós ganhamos”, lamenta Luís Fernandes, camionista.A maioria dos clientes destas roulotes, estacionadas um pouco por toda a estrada nacional 10, são jovens e camionistas que aqui fazem cargas e descargas. Aproveitam as roulotes para comer bem, depressa e sem gastar muito dinheiro. Os gerentes destas casas da bifana, onde a mostarda é gratuita, dizem que o negócio floresce e há até quem fale em “construir impérios”. “Além desta roulote tenho outra no Carregado e vou meter mais uma em Alverca”, diz-nos Inocêncio, proprietário. Prefere esconder-se da objectiva da máquina porque “o negócio vai tão bem” que já se começam a criar “máfias dentro deste mercado”. Rivalidades à parte, o negócio é uma mina de ouro. “A malta não tem dinheiro e prefere gastar três euros numa bifana e imperial do que seis ou sete num restaurante. Como servimos muita gente a crise ainda não se sente aqui”, conclui.Márcio Freitas acaba de chegar de uma viagem internacional. A primeira coisa que fez, por não haver outro restaurante aberto, foi encostar na barraca dos cachorros. Comeu duas bifanas e acamou-as com duas imperiais. Frescas, claro, para “condizer com o tempo”. Isto tudo antes das nove horas da manhã.“Às vezes quando andamos na estrada não temos alternativas senão parar numa destas roulottes e comer um prego ou uma bifana. Além disso, no período de crise em que estamos é complicado estar a gastar dinheiro em restaurantes”, refere Arlindo Mota, cliente de outra roulotte.A bifana e o cachorro rondam os dois euros e a cerveja custa quase um euro. O prego chega aos 2 euros e 50 cêntimos. Mas há quem ofereça outros petiscos, como a orelha de porco, o tremoço ou a sandes de ovo.Na roulote frente à central de cervejas os camionistas reúnem-se. “Nós temos o refeitório dentro da base, mas não tem grande qualidade. Por isso quando entramos às cinco da manhã e a fome aperta o melhor é comer uma bifaninha até o refeitório abrir”, diz Francisco Gonçalves. A maioria dos empresários ouvidos pelo nosso jornal diz que não sente directamente a crise e que o negócio “até tem melhorado”. Muitos dizem já ter conseguido estabilidade suficiente para contratar pessoas para manter as roulotes abertas e a servir durante 24 horas.
Negócio das bifanas floresce em tempo de crise

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