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Santarém foi palco de uma das tragédias do período revolucionário

Duas pessoas morreram em confrontos entre proprietários e defensores da ocupação de terras

No período quente de 1975 à porta do Café Central, no centro histórico de Santarém, viveu-se aquela que ficou conhecida como a tarde trágica quando morreram duas pessoas e duas dezenas ficaram feridas.

Há 34 anos Santarém assistiu a um dos dias mais cruéis da sua história do pós-25 de Abril. Numa das muitas manifestações daquele período conturbado que se seguiu à revolução que derrubou o regime ditatorial, morreram duas pessoas numa escaramuça entre proprietários agrícolas e os que defendiam a ocupação das terras pelo povo. Foi no dia 6 de Novembro de 1975 à porta do antigo café Central que António Veiga Teixeira, na altura com 20 anos, encontrou o irmão e o pai esfaqueados no chão. António Veiga Teixeira conta que a manifestação tinha sido organizada em defesa de uma agricultura livre. Sabendo da iniciativa, os sindicatos e os centros da reforma agrária, em sintonia com o PCP, convocaram uma contra-manifestação. Quando os proprietários subiam a rua Teixeira Guedes os contra-manifestantes tentaram cortar o desfile de proprietários e dá-se a confusão, arrancando pedras da calçada para serem arremessadas e partindo vasos de flores que estavam na rua. Os comerciantes mais antigos lembram-se que foram partidas montras e os vidros dos carros que estavam estacionados no local. No meio da confusão aparece um homem com uma faca de mato. “O meu pai teve a infeliz ideia de tentar pará-lo”, descreve o empresário agrícola de Coruche. Francisco Veiga Teixeira, irmão de António, foi ajudar e foi atingido com duas facadas. O pai foi atingido numa perna. Foram os dois para o hospital e Francisco, com 18 anos de idade, não resistiu aos ferimentos. O pai, ferido com gravidade, conseguiu escapar, mas teve que ser retirado do hospital para uma clínica em Espanha depois de suspeitas que poderiam atacá-lo na unidade de saúde. O homem que cometeu as agressões acabou por ser linchado com a mesma faca e também morreu. António Veiga Teixeira recorda que no dia do funeral do irmão em Coruche apareceram milhares de pessoas. À entrada da vila havia barreiras com militares que controlavam a entrada de pessoas e a cerimónia fúnebre decorreu sem incidentes. Chegou a haver uma investigação sobre o caso, mas acabou arquivado por falta de provas. Aquela que ficou conhecida como “A tarde trágica de Santarém”, que segundo os dados históricos da CAP - Confederação dos Agricultores de Portugal provocou ainda duas dezenas de feridos, espoletou um sentimento de revolta muito grande e levou a CAP a endurecer a luta com as barricadas de Rio Maior. E mais tarde, em 14 de Dezembro, promove um plenário também em Rio Maior, onde se decide dar ao Governo um prazo para que os agricultores vissem resolvidas as reivindicações que consideravam justas. Entre elas estava a Lei da Reforma Agrária que se pretendia fosse discutida pelos partidos políticos, associações de agricultores e de trabalhadores. António Veiga Teixeira, recordando o que se passou, diz que quando se perde um irmão naquelas circunstâncias “fica-se com um sentimento de revolta e depois um sentimento de que não devemos abandonar as coisas em que acreditamos”.

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