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O último taberneiro do Cartaxo

O último taberneiro do Cartaxo

Carlos Dias serve copos de vinho a 25 cêntimos que compra a fazendeiros da terra

Um copo pequeno de vinho tinto custa 25 cêntimos na Taberna do Carlos, numa das ruelas do centro do Cartaxo. É tirado directamente do barril, comprado a fazendeiros da terra e servido pelo último taberneiro da cidade.

Num lugar esconso de uma ruela empedrada do Cartaxo, onde não passam carros, nas imediações da igreja matriz, ainda se servem copos de vinho tirados directamente do barril. Carlos Dias, “Carlos da Taberna” como é conhecido, tem 73 anos. Nasceu na Figueira da Foz, mas há mais de 40 que se radicou no Ribatejo.Compra o néctar a pequenos fazendeiros da terra. Um copo pequeno de vinho tinto custa 25 cêntimos. Há medidas ligeiramente maiores para 35 e 50 cêntimos, que para os consumidores habituais parecem quase sempre curtas demais. “Posso encher mais um copo, Carlos?”, pergunta um cliente da casa. O taberneiro acena com a cabeça a autorizar. Carlos Dias iniciou-se na arte na “Taberna do Paveia” na década de 70 do século passado. Já ajudava o proprietário nos dias mais intensos da Feira dos Santos, em Novembro, até que ficou com o negócio por trespasse. Deixou o trabalho de distribuidor de leite e concentrou-se na venda de tinto, abafado e jeropiga. Nessa altura vivia o negócio bons dias. “Vendia duas e três cartolas de vinho por dia. Foi lá que amealhei algum dinheiro para comprar a casa e a mobília”, recorda. “Os homens vinham matar o bicho com aguardente às sete da manhã antes de irem para o campo”, garante o homem que ficou conhecido pelas iguarias preparadas, como a língua de porco estufada, o chispe, a carne assada e o peixe frito. Vendia panelas cheias, garante. “Na altura o dinheiro era pouco, mas parece que rendia mais do que hoje”. Na taberna entravam os trabalhadores dos arrozais, polícias e funcionários das finanças. “Tudo lá ia petiscar”. Durante muitos anos a esposa ajudou a preparar os petiscos, mas hoje a clientela é mais escassa. Depois de 20 anos na “Taberna do Paveia”, estabeleceu-se perto da igreja, a escassos metros do local onde está hoje a taberna. O edifício foi remodelado, mas conserva ainda o balcão em pedra, o armário em madeira e os utensílios típicos de uma taberna de outros tempos. A arca frigorífica ali está porque as exigências de hoje em dia assim o obrigam. A cartola está um pouco de lado - bebe-se pouco e um barril, mais pequeno, - já custa a esvaziar. Mas o tabuleiro de xadrez permanece, tal como os baralhos de cartas que entretinham os homens entre um e outro copo de vinho. Carlos já pensou em desistir, mas o trabalho ajuda-o a preencher os dias. Continuará. Até poder curvar-se sobre o barril.
O último taberneiro do Cartaxo

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