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Preclaro Serafim das Neves

Ando com uma pena enorme dos comerciantes atingidos pela crise. E choro de dor ao saber das agruras por que passam outros sectores de actividade. Ainda hoje, domingo, telefonei para seis empresas de táxis para conseguir que um deles me fosse levar ao hospital porque suspeitava ter partido um dedo enquanto tentava pendurar o quadro do menino da lágrima na sala de jantar. Nenhuma me atendeu. Fiquei arrasado e não foi por causa da dor nem do inchaço do polegar. Foi por perceber que os pobres taxistas já nem gasóleo têm para andar com os carros. O Estado devia ter isto em atenção. Devia subsidiar. Sem subsídio como é que este país pode andar??!!!Eu não tinha almoçado porque os restaurantes onde fui estavam fechados. E não consegui comprar o jornal porque bati com o nariz nos taipais do quiosque. O meu cunhado ainda me disse que devia ter ido toda a gente para a praia mas o meu cunhado é uma besta. Ele não percebe que em tempo de crise ninguém vai passear. Eu fico varado com estas coisas. Tu por acaso conheces alguém que tenha ido passear?!! Claro que não. Em tempo de crise é só poupar. Mas o tempo de crise também é um tempo de altruísmo e de amor pelo próximo. Ontem mesmo assisti a uma cena que me deixou sensibilizado. Foi no Centro de Emprego. Uma funcionária tentava convencer uma desempregada a aceitar um emprego de 600 euros a servir bicas e bolos numa pastelaria. Sabes o que ela respondeu? Que dessem o emprego a uma ucraniana. Foi a coisa mais linda a que assisti nos últimos tempos. Que espírito solidário. Que grande manifestação de interculturalidade. Só não lhe dei um abraço para não lhe estragar o penteado nem amarrotar o vestidinho que me pareceu ser de uma estilista. Além disso percebi que ela tinha acabado de arranjar as unhas e eu podia esborratá-las com as minhas sentidas lágrimas de emoção.Serafim, com o 10 de Junho à porta aconselho-te a não saíres de casa. Tu bem sabes que nesta altura qualquer incauto cidadão se arrisca a receber uma medalha ou uma comenda. É da praxe e a praxe tem que se cumprir. Depois de medalhados todos os políticos, apresentadores de televisão poetas, actrizes de telenovela e jogadores da bola, deve estar na altura de sermos chamados a dar o peito pela Pátria.Na Feira da Cortiça em Coruche pareceu-me ver um dos assessores do Cavaco Silva. Andaria a comprar medalhas? Eu não percebo porque é que se desvalorizam as medalhas de cortiça. Então a cortiça não é um produtos típicos de Portugal? Olha, eu sempre acreditei que é por causa da cortiça que o país nunca foi ao fundo. Da cortiça e do empreendedorismo. Eu gosto muito do empreendedorismo e dessas coisas assim que metem subsídios do Estado e da União Europeia. Até te digo mais. Eu se pudesse era empresário. Aquilo é que era. Sempre a empreendedorar. Infelizmente não tenho jeito nenhum para preencher formulários para apoios e incentivos. Problema meu, pois claro. Lamento não embandeirar em arco com a criação da tal Confraria da Punheta de Bacalhau. Depois de anos a ver tanta gente a bater punhetas a grilos e de tantos políticos a fornicarem-nos a vida estou vacinado em matéria de sexo metafórico.Um abraço vibradoramente patriótico do Manuel Serra d’Aire

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