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Inauguração de Estátua de Saramago foi momento alto da Feira de Maio na Azinhaga

Inauguração de Estátua de Saramago foi momento alto da Feira de Maio na Azinhaga

Prémio Nobel da Literatura “reconheceu-se” na escultura de bronze inaugurada no centro da aldeia.

Centenas de populares assistiram ao momento solene na tarde de domingo, sob um calor intenso. “Estou inaugurado e estou muito feliz!”, gracejou o escritor.

No último domingo, o calor abrasava pelas cinco da tarde na aldeia de Azinhaga, Golegã. “A aldeia mais portuguesa do Ribatejo”, anuncia um cartaz à entrada da localidade. A cerca de hora e meia do momento mais alto da tarde, a inauguração de uma estátua em homenagem a José Saramago, muitos populares tentavam refrescar-se bebendo cerveja nos cafés enquanto o convidado de honra não chegava. Pelas ruas notava-se uma agitação fora do comum com muitos populares a andarem nas tradicionais “pasteleiras” (bicicletas) para cá e para lá.No jardim no centro da aldeia decorria, entretanto, o último dia da “Feira de Maio” que teve início dois dias antes. Pelo jardim corriam crianças. Os adultos preferiam descansar à sombra das árvores. Os stands espalhados um pouco por todo o recinto aguardavam quem os visitasse mas poucos o faziam aquela hora. Às 18h10 sente-se um reboliço no portão da entrada do jardim. Num carro topo de gama preto, chega José Saramago, fato e gravata em tons cinzentos, acompanhado pela esposa, Pilar Del Rio. São muitos os populares que se aproximam mas é o presidente da junta de freguesia que o recebe de forma calorosa. Vítor Guia é um homem visivelmente feliz. Saramago é, imediatamente, abordado por uma senhora vestida de roxo que diz ser sua prima e que já não o larga. Pilar retribui sorrisos. São encaminhados para junto do palco onde já se encontram a postos os “Campinos de Azinhaga”, o grupo de folclore local. Duas modas depois, os aplausos encerram o momento. José Saramago é agora abordado por dezenas de populares que querem tirar uma fotografia ou um autógrafo. O carinho das gentes da Azinhaga é notório para com o seu Nobel.Entretanto, no Largo da Praça, a cerca de 300 metros dali, já são dezenas de pessoas que se concentram, à sombra, para assistir ao momento em que vai ser descerrada a estátua que marca a homenagem da terra natal. Meia hora mais tarde são centenas. Muitos vêm de fora. São 19h00 e José Saramago sai do carro. Aplaudido. O presidente da Câmara da Golegã, Veiga Maltez (PS), é ausência notada. Faz-se representar pelo vice-presidente, Rui Medinas. As pessoas acotovelam-se para ver Saramago. Algumas assistem ao frenesim do alto das janelas de suas casas. Ao lado de uma antiga fonte, um pano branco com o brasão da junta de freguesia cobre a estátua. Antes de ser retirado, Saramago assiste a um momento cultural e musical interpretado pelo Grupo Casa da Comédia. Tem ainda oportunidade de assistir a um fandango. O relógio já marca as 19h30 quando a escultura de bronze é posta a nu. Tem uma dimensão superior ao tamanho natural e representa o escritor sentado num banco de jardim com um livro na mão. Pensativo. Olha em frente, na direcção da porta de Francisco Carreira, o “sapateiro prodigioso” ao qual dedicou duas páginas de um seu livro. No livro de bronze estão escritas as palavras que são o princípio de um texto seu sobre a Azinhaga - “A aldeia chama-se Azinhaga…”. O pólo da Fundação José Saramago, inaugurado há um ano fica a poucos metros e foi este o motivo que ditou a escolha do local para a edificação da escultura. “Revejo-me, reconheço-me nela. Sem qualquer dúvida, sem qualquer resistência”, disse Saramago, minutos após observar a escultura da autoria de Armando Ferreira, artista de Alpiarça. O escritor fez a sua própria interpretação da obra.”Não estou a ler. Interrompi a leitura para pensar em alguma coisa. A expressão dos olhos é muito bem dada. Há um pensamento ali que o escultor pôde traduzir no modo como o olhar se fixa na distância”, afirmou, tocando o livro de bronze que pende numa mão, sobre a perna da estátua. “Espero um dia voltar e ver umas pessoas aqui sentadas a ler ou a tirar fotografias”, afirmou.Estátua é fruto da insistência do presidente da juntaEmocionado, Vítor Guia explicou às centenas de pessoas presentes que José Saramago foi reticente à ideia de ter uma estátua em vida. “Deixemo-la para quando eu já cá não estiver”, disse, quando foi interpelado pela primeira vez. Mas a persistência do presidente da Junta de Freguesia da Azinhaga viria a convencê-lo. “Se não fosse eu, seria outro presidente de junta a fazê-lo e com outro dinheiro”, confessou Vítor Guia que explicou que a ideia de uma estátua de homenagem a Saramago partiu do grupo “Mais Saramago”, que se tem dedicado a identificar textos do escritor que não estão assinados e que foram publicados em revistas ou em prefácios de livros de outros escritores portugueses. Foram estes que recolheram os cerca de 32.500 euros do custo da estátua, que quiseram dar o seu contributo.A Festa de Maio da Azinhaga terminou da melhor maneira com Saramago a enaltecer o seu povo. “Azinhaga não é só a minha terra. É a única terra onde eu realmente podia ter nascido”, afirmou arrematando com um bem-disposto: “Estou inaugurado e estou muito feliz!”.
Inauguração de Estátua de Saramago foi momento alto da Feira de Maio na Azinhaga

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