Maria João Franco
60 anos, empresária, Constância
Nasceu em Ponta Delgada a 24 de Fevereiro de 1949 mas o destino trouxe-a para Portugal Continental. Depois de 30 anos a viver em Lisboa muda-se em 2000 para a vila de Constância onde abre o restaurante Remédio D’ Alma. Um espaço de restauração requintado, com gastronomia distinta, rodeado por um jardim onde não falta a flora dos Açores. Extrovertida, assume que tem paixão pela música. Diz que tem no marido, Carlos Dâmaso, o cúmplice ideal para a acompanhar no modo como escolheu viver a sua vida.
Não tenho nenhum curso de culinária mas sempre adorei cozinhar. Em pequena adorava estar na cozinha com a minha avó. Era uma doceira fantástica. Deixava-me experimentar, mexer em tudo. Mais tarde cozinhei para os meus filhos. Tenho três filhos e três netos. São os meus melhores críticos. A minha ementa não é muito vasta mas não há nenhum prato novo que saia que já não tenha sido experimentado pela família. A minha filha é uma óptima cozinheira e os dois rapazes também gostam de receber. Herdaram essa costela de mim.A música mudou a minha vida. Nunca estudei música mas tocava de ouvido. Sou da geração de 60 e tocava Bob Dylan à guitarra portuguesa. Quando conheci o Carlos (Dâmaso) vínhamos ensaiar para Riachos. O principal responsável por eu estar em Constância foi o Pedro Barroso, que me convidou, em 1997, para vir actuar na inauguração de um bar aqui em Constância. Foi um sucesso. Ficámos logo com a nossa agenda de espectáculos preenchida para esta zona. Alugámos uma casinha nesta vila mas o meu sonho era mudar-me para cá. O que me encantou em Constância foi a água. Sou açoriana e vivi toda a minha vida rodeada por água. Esta casinha (local do restaurante) encantava-me. Quando soube que estava à venda consegui comprá-la. Fiz obras. A nossa habitação é no primeiro andar do restaurante o que nos facilita muito porque não temos que nos deslocar. Por outro lado estamos “sempre à mão” dos clientes e fornecedores. Queria ter um projecto pequeno mas que fosse a minha cara. Abri o restaurante em 2000 porque na altura o PROCOM (projecto “Urbanismo Comercial) dava uma ajuda aos empresários. Fiz um projecto e, felizmente, tive o apoio. O presidente da câmara também nos incentivou muito a abrir o restaurante. Depois, tivemos a ajuda dos nossos amigos que já nos conheciam. Tudo o que aqui está foi escolhido por mim. Comecei a trabalhar sozinha na cozinha. Mais tarde formei a cozinheira que, actualmente, me acompanha. Temos pratos diferentes. Por exemplo, Morcela dos Açores com Ananás, patê de chouriço, que é um hábito nos Açores, ou Polvo à Mosteiros. Também faço um caril de gambas que me foi ensinado por uma indiana quando estive em Angola. Mas também incluo a gastronomia ribatejana na ementa. Não esqueço o elogio do João Maria Tudela. Só o conhecia da televisão e das revistas. Um dia visitou-nos e foi uma alegria para mim. Ele é moçambicano. No final da refeição disse-me:“ Maria João, caril como o meu de Moçambique só o seu.” Para mim foi um grande elogio. Quem inaugurou o meu livro de honra foi o actor Ruy de Carvalho, o que me enche de orgulho.Não chamo a isto negócio. Negócio é quando ganhamos muito dinheiro. Isto é uma maneira de sobreviver, com qualidade de vida, a fazer algo que gostamos. Sem o apoio do Carlos não conseguia abranger a cozinha e o serviço de sala. O Carlos é músico mas empenhou-se neste espírito. No final da noite, por vezes, actuamos para as pessoas. Ele também gosta muito de conversar com pessoas. Somos muito iguais. Gosto de acordar com os passarinhos, ter uma vida calma, sem stress. Ter tempo para cozinhar, ler, ouvir música ou ir às compras, coisa que em Lisboa, onde vivi trinta anos, não conseguia fazer. Só vim para cá quando os meus filhos já estavam encaminhados na vida. Eu é que trato do meu jardim. Dá-me um prazer enorme o contacto com a terra e com o mar. Faço férias repartidas porque Constância é uma vila sazonal. Temos que aproveitar a Primavera e o Verão para dar o máximo no trabalho. Mesmo nas férias continuo a cozinhar para a família. E quando vou de férias, escolho sempre o meu país. Gosto muito da minha ilha mas acho que já não conseguia ir viver para lá. Já me sinto daqui. Elsa Ribeiro Gonçalves
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