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“Viver da música na província não é impossível”

Gomo é o alter ego de Paulo Gouveia, músico de Santarém que espalha a sua pop dançável pelo mundo
Não gosta de touradas mas adorava assistir a largadas na Feira do Ribatejo, ansioso por ver uma colhida. “Parecia-me justo”, justifica-se Paulo Gouveia, um ribatejano de Santarém que recorda a liberdade dos tempos de infância quando brincava no antigo Campo dos Leões. Saiu da cidade e singrou no mundo da música com o nome artístico de Gomo, que fez furor nas pistas de dança nos últimos anos. O seu novo disco chama-se “Nosy” e já está à venda. Quem o quiser ouvir ao vivo pode ir ao Teatro São Jorge, em Lisboa, na noite de 16 de Junho pelas 21h00. Os bilhetes já estão à venda nos locais habituais e custam 10 euros.Paulo Gouveia é natural de Santarém mas construiu a sua carreira longe dessa cidade. Circunstâncias da vida ou opção premeditada?  Circunstâncias da vida. Em Santarém não havia universidades na área das Artes e ingressei na ESTGAD das Caldas da Rainha, onde frequentei o curso de Design Industrial. A partir daí, estando numa cidade que, na altura, respirava música por todos os poros, não consegui ficar quieto a assistir. Também eu tinha que tentar a minha sorte. Afinal de contas, ali não havia desculpas para não fazer música, que era uma coisa que sempre quis fazer. Depois acabei por casar e constituir família por ali e é natural que tenha querido ficar, numa altura em que a música começava a despontar.Viver da música na província é impossível?Viver da música na província não é impossível. Depende sempre da forma de vida que desejamos para nós próprios. Fazer aquilo que queremos não tem preço e custa tanto na província, como na cidade. Se a música agradar aos demais, rapidamente resulta onde quer que seja. Que ligações ainda tem a Santarém? Visita-a regularmente?  Claro. É onde os meus pais residem. E, felizmente, sempre que me desloco a Santarém reencontro amigos de longa data. Quando pensa em Santarém que imagens lhe vêm à mente?Liberdade. Relembro tempos em que era possível as crianças jogarem à bola no antigo “Campo dos Leões”, sem que os pais estivessem sempre preocupados com o que lhes poderia acontecer. Tempos onde existia uma liberdade que as crianças de agora dificilmente imaginam ser possível.Gosta de corridas de toiros ou não liga a isso?Não gosto. Mas confesso que em miúdo adorava assistir às largadas de toiros, na Feira da Agricultura. Ansioso para ver uma colhida. Parecia-me justo.Costuma visitar a cidade na altura da Feira Nacional de Agricultura?Agora não tanto. O que gostava da Feira, era o facto de ela decorrer na cidade. Agora não me diz muito.O marialvismo ribatejano diz-lhe alguma coisa? Não. Nunca fiz parte de certos grupos ou elites, dos quais muitos se diziam marialvas. Eu era mais do tipo: não me chateiem a mim, que eu também não chateio ninguém.Quando é que os escalabitanos podem ouvir e ver o Gomo actuar em Santarém? Espero que em breve, por duas razões. Primeiro, porque seria sinal de que a cidade estaria mais dinâmica, em termos de festas e concertos (a população também precisa de se distrair). E depois porque é sempre bom rever amigos e agradar à nossa família que sempre se orgulha de ver o filho a tocar em casa.Nos últimos anos aumentaram os espectáculos musicais na cidade. Tem acompanhado essa situação? O que pensa disso? Penso que isso é maravilhoso. No meu tempo de adolescente o significado da palavra diversão não tinha correspondência em Santarém. Era sinónimo de Cartaxo ou Almeirim e isso era muito triste. Alguma da minha geração ainda paga hoje a factura de terem tão pouco para fazer nesta cidade. É bom que os políticos se lembrem também da parte humana e não só das questões ligadas ao capitalismo.Canta em inglês porquê? É uma língua mais fácil de meter na sua pop altamente dançável? Sem dúvida. Neste momento o português não parece encaixar tão bem nas minhas composições e enquanto isso acontecer irei prosseguir em inglês. Além do mais, tem-me valido boas experiências no estrangeiro. Sou cada vez mais um cidadão português, que faz música para todo o mundo e orgulha-me que lá fora as pessoas saibam bem isso.De onde saiu o seu nome artístico Gomo? A minha primeira banda chamava-se Fragmentos e a segunda Orange. É fazer as contas. Fragmento + Laranja = GomoTem ligações com algum músico ou grupo de Santarém? Acompanha o trabalho de algum? Sempre que o meu irmão Pedro se “mete” em projectos musicais, em Santarém, tento ficar sempre a par do que está a fazer, mas além disso, pouco mais. Já fui ver alguns concertos de músicos, mas não passa daí. No entanto não quer dizer que não goste ou tenha desinteresse, apenas é um tipo de música com a qual até agora não me identifiquei.Iniciou-se na música onde? É um autodidacta ou tem formação musical? Iniciei-me em Santarém, quando a minha mãe me comprou a primeira guitarra eléctrica e os meus amigos me iam tentando ensinar alguns acordes. Depois ainda tentei frequentar a escola de música em Santarém, mas achei entediante. Não tenho muita paciência para esperar resultados a longo prazo. Afinal de contas, não quero ser um génio musical. Quero apenas saber o essencial para conseguir compor a minha música. E percebi que, para isso, só podia contar comigo e com a minha perseverança.Qual é o preço que tem de pagar por ser uma figura pública?Absolutamente nenhum. Não alterei em nada a minha vida e vivo de forma bastante pacata. Se calhar isso quererá dizer que não sou uma figura pública, não? Gosta da popularidade?Não gosto muito da palavra popular, nem considero que o seja. A minha música é, e posso dizer que isso me deixa bastante satisfeito, porque significa que as pessoas apreciam o que faço. A minha arte agrada às pessoas e isso não pode deixar ninguém indiferente. Por isso, confesso, gosto da popularidade que as minhas músicas têm.Já foi assediado por fãs?Se o assédio não for confundido com sexo ou atracção física, sim. Todos os dias. Nem que seja só para dizerem que gostam da minha música. Nunca lhe mandaram soutiens para o palco?Não. Pelo menos que eu tenha dado por isso. Que poderia eu fazer com um soutien? Acho que as pessoas que usam soutien e que vão ao meu concerto percebem que eu não gosto que me facilitem o trabalho. A pergunta era só soutiens, não era?Dados biográficosIdade? 38 Residência? Alcochete Hobbies? Bodyboard, karting, nadar, andar de bicicleta, ler, cinema e teatro.Casado? Em breve, espero.Filhos? Três filhas.Que referências tem na música? Beatles, Leonard Cohen, Stone Roses, Arcade Fire, MGMT, etc, etc…Na Internet? www.myspace.com/gomoworld

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