Reciclar latas para fazer aviões
“Pode fotografar à vontade”, convida Manuel Florindo Rodrigues. Numa tarde de domingo sufocante, estava sentado num stand que se destacava pelas cores na Feira de Maio da Azinhaga, Golegã, à espera do freguês ocasional. Poucos minutos depois da abordagem, surge uma senhora interessada em levar um avião em miniatura cor-de-rosa para adornar o quarto da filha. Paga 15 euros pelo exemplar. O artesão, de 71 anos e natural do Entroncamento, há muito que dedica as horas livres, que a reforma antecipada por invalidez lhe deixou, ao fabrico de aviões, barcos (naus) e moinhos em latoaria. “Sempre é melhor do que ficar sentado num banco do jardim”, atesta a O MIRANTE. As latas compra-as no mercado ou aproveita todas as que pode para reciclar. Recorda que sempre teve uma admiração especial pela aviação. Não sabe explicar. Depois de moldadas, as miniaturas são pintadas à mão e nenhum acabamento é descurado. Alguns dos aviões têm, inclusive, uma hélice que funciona a pilhas. Podem demorar três dias a fazer. Um dia um amigo e cliente dedicou-lhe uma quadra que ostenta: “Eis um artesão singular/ de cultura popular/ que muito talento contém; Por aviões cultivar/ é digno de observar/ a virtude que ele tem”. Sem qualquer formação em artes, Manuel Rodrigues recorda que em petiz já fazia de uma lata de sardinhas, que servia de almoço ao pai, um carrinho para brincar. Na sua banca encontram-se pendurados dezenas de exemplares, de todos os tamanhos, cores e modelos. A Feira que decorre em Vila Nova da Barquinha, entre 10 e 14 de Junho, é a próxima onde vai mostrar a sua arte. Três meninos olham fascinados para os objectos. “Tem sido assim o dia todo. Isto alimenta, de facto, o imaginário das crianças”, assegura. E dos adultos também, asseguramos nós. Elsa Ribeiro Gonçalves
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