Elevação de Samora Correia a cidade festejada com muita música e porco no espeto
População concentrou-se num arraial na zona ribeirinha que durou até alta madrugada
Objectivo agora volta a centrar-se na restauração do concelho de Samora Correia, extinto em 1836.
Passavam 23 minutos do meio-dia de sexta-feira quando uma aparelhagem sonora que reproduzia em directo os trabalhos no plenário da Assembleia da República ecoou na vila de Samora Correia a novidade há muito esperada. O anúncio feito pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, acabou com todas as dúvidas. “Aprovada por unanimidade a elevação da vila de Samora Correia à categoria de cidade”, foi a última expressão ouvida. Era a mais desejada pelo povo que seguia atentamente as votações para a criação de dezenas de novas vilas e cinco cidades.Nas galerias do Parlamento, ninguém se manifesta. Trocam-se olhares de cumplicidade. Os presidentes da junta de freguesia, Hélio Justino, da assembleia de freguesia, Carlos Pauleta, e da Assembleia Municipal de Benavente, Carlos Alberto Pernes, estão lado a lado. Nas filas de trás há dezenas de samorenses que irradiam felicidade. Os abraços ficam para depois porque nas galerias “não são permitidas manifestações de qualquer tipo” e os agentes da PSP estão atentos.População e autarcas reafirmam o objectivo de recuperar o município Já nos corredores do imponente edifício parlamentar, sucedem-se as felicitações. “Parabéns senhor presidente”, diz Júlio Carvalho Pereira, 70 anos e uma boa parte da vida dedicada às causas da sua terra. “Agora vamos lutar pelo concelho”, acrescenta António Louro, antigo autarca e membro do Movimento Cívico para a Restauração do Concelho de Samora Correia-Mais Samora. O estatuto de município foi perdido em 1836 e Samora Correia quer recuperar a condição de sede de concelho.O actor Joaquim Salvador e a advogada Ana Casquinha juntam-se ao grupo de pouco mais de três dezenas de samorenses que se deslocaram ao Parlamento. Nada comparado aos 11 autocarros e mais de 600 pessoas que vieram de São Pedro do Sul. “Assim se vê o bairrismo de uma terra. Temos que envolver mais as pessoas”, adianta José Nunes eleito na Assembleia Municipal de Benavente e um dos cidadãos mais activos na nova cidade.O deputado Nuno Antão (PS), um dos subscritores de um dos cinco projectos de lei apresentados (os outros foram do PSD, PCP, CDS/PP e deputada não inscrita Luís Mesquita) felicita a delegação samorense e oferece um café para festejar. “Parabéns a todos”, diz o jovem deputado de Salvaterra de Magos. Que foi o único parlamentar que se juntou à festa que à noite juntou mais de três mil pessoas num arraial popular na zona ribeirinha da nova cidade. Houve sardinha assada e porco no espeto com mais de duas mil sandes distribuídas aos convidados. Música popular, folclore, sevilhanas, hip-hop e fogo de artifício animaram o arraial até às 04h30 da madrugada. Alguns dos convivas nem sabiam bem o que festejavam. Mas estavam lá. “É a noite de Santo António”, refere Adilson Rodrigues, cidadão brasileiro que vive em Samora Correia há dois anos.“A elevação a cidade pouco vai mudar na vida da população”Quanto às vantagens da nova cidade, o povo está dividido. Luísa Bento diz que “a cidade ganha um novo hospital e que o presidente da junta passa a mandar em tudo”. Puro engano, nem hospital nem reforço dos poderes presidenciais na cidade. António Vicente é frontalmente contra a cidade “porque vai ficar tudo ainda mais caro”. O presidente da junta esclarece que “para além da valorização da auto-estima, a cidade abre portas a várias candidaturas a programas comunitários com aplicação exclusiva nas cidades. “A elevação a cidade pouco vai mudar na vida da população, sendo sobretudo uma questão de estatuto”, refere Hélio Justino que adiou as férias para festejar a conquista junto do povo. Na área da segurança, segundo o autarca, os postos da GNR nas cidades são dotados de “pelo menos 40 efectivos”, quase o dobro do que existe na actual vila. Hélio Justino (CDU) frisa que a elevação a cidade nada altera no objectivo de anos de luta pela passagem da freguesia a concelho. O autarca disse esperar que esta decisão ajude a que a freguesia passe a ser “vista de forma diferente”, não perdendo a esperança de que a elevação a concelho possa vir a ser uma realidade. O PSD de Benavente congratulou-se com a elevação de Samora Correia a cidade. Numa nota de imprensa, a estrutura social-democrata recorda o empenho dos deputados do PSD eleitos pelo distrito de Santarém, neste processo.A maior freguesia do concelho de BenaventeSamora Correia, freguesia do concelho de Benavente, foi sede de concelho desde o século XIV até à reforma administrativa de Passos Manuel (1836). Com 322,4 quilómetros quadrados, Samora é uma das maiores freguesias do país, sendo a maior do concelho de Benavente, concentrando mais de 15.800 habitantes, 55 por cento da população do município.Olival elevada a vilaNa região, registou-se ainda a elevação a vila da localidade de Olival, no concelho de Ourém. Quanto a novas cidades, a Assembleia da República votou ainda a elevação das vilas de Valença (distrito de Viana do Castelo), Senhora da Hora (concelho de Matosinhos, distrito do Porto), S. Pedro do Sul (distrito de Viseu) e Borba (distrito de Évora).
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