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31 anos do jornal o Mirante

Maria Leonilde Godinho Silva

73 anos, Farmacêutica, Tomar

Nasceu em Tomar a 2 de Abril de 1936. Maria Leonilde Godinho Silva trabalha com os três filhos no laboratório de análises clínicas que recebeu o seu nome próprio e que abriu na rua Voluntários da República há mais de trinta anos. Recorda que quando começou na profissão não havia computadores mas foi com relativa facilidade que se adaptou às novas tecnologias. Viajar, ler e estar com a família são os seus passatempos mas garante que, até poder, vai continuar a trabalhar.

Trabalhar num laboratório de análises clínicas para mim foi sempre uma visão muito agradável. Fiz o curso no Porto. Quando escolhi Farmácia sempre disse que não queria ir para o ensino. Mas acabei por ir dar aulas para o Colégio Nun’Álvares logo que terminei os cinco anos de licenciatura. O meu curso era quase só senhoras embora, naquele ano, houvesse 10 rapazes. Gostava muito de estudar. Ainda hoje gosto. Depois do 25 de Abril resolvi mudar de vida. Dei aulas durante mais de 15 anos. Inicialmente dava aulas e trabalhava em part-time no laboratório de uma colega. Depois de nascerem os filhos tornou-se complicado conciliar. Mais tarde decidi deixar o ensino e montei o laboratório de raiz. Abri neste mesmo local mas era muito mais pequeno. Começamos por ser três pessoas e actualmente somos sete colaboradores efectivos, fora os colaboradores externos. Fomos crescendo conforme as necessidades. Tenho os meus três filhos a trabalhar comigo. O Miguel é técnico de informática, a minha filha mais nova, Teresa, é especialista de análises clínicas (como eu) e o mais velho, Paulo, é técnico de laboratório e faz de tudo um pouco. Chamo-lhe o secretário da directora. Nunca influenciei os meus filhos. Todos eles pediram para vir trabalhar para aqui. E tenho um neto de 8 anos que já me disse que queria vir trabalhar comigo. É gratificante ver que todo o meu trabalho e esforço vai ter continuidade. Actualmente já só faço trabalho de secretária o que me aborrece imenso. Agora levanto-me mais ou menos às 08h00 mas antes de cá ter a minha filha levantava-me às 07h00. Temos um equipamento moderno que nos permite trabalhar mais rápido. É como entrar um porco e sair um chouriço. Está tudo informatizado. Todos os equipamentos estão ligados on-line a um computador central. O que faço hoje é analisar os resultados das análises já na sua fase final. Sou eu que valido as análises. Sempre fui atrevidota quanto a experimentar novas tecnologias. No meu tempo era tudo manual. Pipetinhas. Gotinhas. Técnicas que nos ocupavam duas horas hoje fazem-se em escassos minutos. O tempo da análise era cronometrado à mão. Entretanto começaram a aparecer aparelhos sofisticados e comecei a investir. Quando apareceram os computadores fiquei logo de alerta. Tive formação mas não me custou muito aprender. Com as novas tecnologias, a qualidade do serviço é melhor e o erro humano desaparece. Nunca me esqueço daquela vez que um acompanhante de uma utente desmaiou aos meus pés. Normalmente, nestes casos, deitamos a pessoa na marquesa, fazemos-lhe a reanimação normal. Damos-lhe um copo de água com açúcar ou um café. Penso que tirar sangue não custa. Uma ferroada de uma abelha custa muito mais. O lado da saúde implica muito com o nosso eu. Se as pessoas estão doentes, foram ao médico e lhes mandaram fazer análises temos que ser rápidos a mostrar os resultados. Gosto muito de Tomar mas nunca levei um tabuleiro. Embora no pátio desta mesma casa se tenham feito dezenas e dezenas de tabuleiros, no tempo dos meus avós. Os meus filhos também nunca foram mas os meus netos já participaram. Sou facciosa com a minha cidade. Acho que é muito bonita. Podia estar mais desenvolvida mas, por outro lado, não temos um ar tão conspurcado como as cidades industriais e isso para mim é importante.Por norma, passo os meus fins-de-semana em casa ou junto da família. Gosto imenso de viajar mas não gosto de ir sozinha. Parti uma perna no ano passado e fiquei um bocadinho assustada. Sou viciada na leitura. Gosto de cuidar das minhas coisas. Enquanto puder venho trabalhar. Tenho que dar o exemplo. Quero que os meus filhos se recordem que a mãe com esta idade, ainda vinha trabalhar todos os dias. Elsa Ribeiro Gonçalves

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