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A última “cegada” antes do Verão

A última “cegada” antes do Verão

Teatro amador com gosto profissional

Grupo de teatro com sede em Alverca encerrou temporada com comédia “A Fan…Farra” sobre um musical nunca visto. Em Setembro, o teatro regressa à cidade. Ricardo Leal Lemos

Domingo, 21h55, Alverca do Ribatejo. No Parque 25 de Abril são vários os espectadores que aguardam o início do espectáculo do grupo de teatro “Cegada”. A peça vai arrancar atrasada, naquela que será uma das últimas apresentações do grupo esta temporada. José Teles, actor e encenador, já entrou nos bastidores, para confirmar as últimas indicações ao elenco. Os actores são amadores. A disciplina é profissional. “O que diferencia os actores é que uns têm actividade a tempo inteiro e recebem para fazer teatro; os outros têm uma actividade e fazem teatro como hobby. A qualidade já se começa a esbater e muitas vezes perguntam-nos se somos profissionais”, conta José Teles. O grupo Cegada, fundado em 1986 no âmbito de um curso de iniciação ao teatro na Casa da Juventude e de Alverca, atraiu já dezenas de actores que saíram dos seus cursos de formação. A peça da noite. “A Fan…Farra”, estreou em Março pela primeira vez, com actores da companhia e alguns formados. Desta vez, o espectáculo começa só com a “prata da casa”. No palco, conta-se a história de uma companhia de teatro e um musical que nunca ninguém viu. Das avarias no equipamento às discussões entre os músicos e o maestro, tudo acontece. E nem a música e os cantores trabalham como deviam. As vozes, (propositadamente) desafinadas no caso dos cantores, afinadas no caso dos músicos, transmitem desde as mensagens que vão na alma das personagens até às críticas e tricas pessoais de cada uma. Uma directora artística muito exigente e técnicos menos competentes que o necessário fazem o resto. A interacção com os espectadores está presente em vários momentos da peça. Desde segurar nos cabos de electricidade necessários para reparar uma avaria ou decidir o veredicto numa discussão entre duas personagens, são várias os momentos em que o público se torna, também ele, actor. No final, varias gargalhadas e alguns sorrisos depois, os actores despedem-se com uma vénia mas não escapam ao “bis”. O público, aplaude com convicção, e parte lentamente, ficando alguns espectadores na conversa no exterior do edifício. “Temos 60 espectadores quase “cativos” para cada peça, quase os conhecemos pelo nome”, conta José Teles. Os outros, refere, são na sua maioria do concelho de vila Franca de Xira, mas alguns também vêem de fora. No Verão, a ausência de público dita que sejam tiradas umas “férias”. “Este ano decidimos não começar com mais nenhum projecto até Setembro, quando voltarmos ao trabalho”, conta o encenador. No regresso, o grupo promete trazer de novo “Fan...Farra” e novos projectos.Maria João Luís e o técnico que se tornou actor São vários os actores que passaram, pelo grupo Cegada e ascenderam a voos mais altos no mundo do espectáculo. Maria João Luís, actriz que integrou o elenco de algumas das mais vistas telenovelas portuguesas, é um desses casos. A actriz, que chegara no final dos anos 80 para acompanhar uma amiga num workshop de teatro organizado pelo grupo, teve dificuldades com o texto da peça de final de curso. Ao representar o grupo de teatro Cegada numa rábula apresentada no teatro “A Barraca” saiu do local com a garantia de integrar a companhia na casa de quem tinha actuado. Rui Pinheiro, antigo técnico de luzes da companhia, foi outro dos casos de sucesso. Depois de fazer o curso optou por se manter como técnico, mas a vida levou-o a insistir, integrando hoje uma companhia de teatro em Lisboa.O laboratório das quartas feirasQuarta-feira é um dia imprevisível para os actores do grupo Cegada. “Juntamos-nos sem um objectivo definido e cada um traz uma peça que lhe interessa que seja lida em conjunto”, conta José Teles. Caso agrade, poderá converter-se, como foi o caso de “Os Outros”, de Karl Valentim, trazido por Margarida Cavaleiro, que arrebatou as paixões de outros dois actores. A peça conta a história de dois homens excluídos pela sociedade, num cenário em que um deles evita apaixonar-se até ser forçado pela persistência e abertura de espírito de uma mulher especial. O projecto nasceu e regressará em Setembro aos palcos, depois de ter estado em cena desde Março.
A última “cegada” antes do Verão

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