Sou de Coruche, mas nasci em Vila Franca de Xira em 1961. É aqui que tenho a minha casa de família há 25 anos. Vim viver para a casa dos meus avós, que por herança ficou para a minha mãe. Tenho cinco filhos. Só consigo conciliar tudo porque trabalho muitas horas. Consegui meter na cabeça que a partir das 19h00 tenho que ir para casa cuidar das minhas filhas. Sou filha de pais muito trabalhadores que me transmitiram métodos de trabalho. Ensinaram-nos que na vida tem que se trabalhar. As coisas não aparecem nascidas do nada. Vivi numa casa com 11 irmãos. Sempre houve muita gente e muito trabalho. Somos todos formados e todos trabalhadores de substância. Desde que nos levantamos até que nos deitamos. Como sou a quarta, uma das irmãs mais velhas, tive que ajudar a minha mãe. Tinha uma estrutura pesada em casa dos meus pais que sempre abriram a porta de sua casa a toda a gente. A minha mãe ensinou-nos a trabalhar com alegria, dinamismo, método, sem egoísmo e com disponibilidade. E quando você semeia colhe. Tirei o curso de gestão de empresas. Estive na banca durante 12 anos. Foi uma boa escola para poder abrir um dia mais tarde este negócio. A experiência de bancária deu-me noções de disciplina e rigor que são boas para toda a vida. Hoje em dia é difícil arranjar emprego. Há 25 anos também era. Tínhamos saído há poucos anos da revolução. Também respondi a anúncios de jornais para trabalhar no banco, em Lisboa. Em casa todos participam nas tarefas domésticas. Hoje em dia é mais difícil incutir esse espírito. Hoje de manhã os meus filhos foram à cidade fazer uma série de recados. Deixei uma lista feita. Tento ser o melhor que posso. Método de trabalho e responsabilidade ganha-se desde pequenino. A formação é o que vou deixar aos meus filhos. As minhas filhas mais novas dão-me conselhos como empresária. Fiz a gestão directa da Plaza Ribeiro Telles. Já temos portas abertas há um ano. Sem a excelente equipa que tenho não conseguiria fazer o que faço. Passei cinco anos em obras. Sei quantos parafusos tem cada pedaço de madeira. Tinha um mestre de obra, o senhor António José, um encanto, que me dizia quando era preciso trazer ferro. Fizemos esta obra com o apoio dos arquitectos e dos projectos de especialidade. Sou muito empenhada naquilo que faço. Dou sempre o meu melhor. As mulheres trabalham em duplicado. É o que uma das minhas irmãs costuma dizer por graça. Trabalhamos como os homens de dia e como as mulheres à noite. Não vou para casa sentar-me no sofá. Quem me dera a mim ter esse feitio. Só consigo estar parada quando tenho dores nas pernas. Tenho uma grande estrutura atrás de mim. Não posso desistir.“O que é isto comparado com a vida eterna?”. É uma frase que a minha mãe costumava dizer e que eu sigo. Há problemas que podemos minimizar e que por uma ou outra razão sobrevalorizamos. A minha mãe era uma mulher com grandes qualidades. Tudo o que sou e tenho devo-o a ela. O meu pai é um homem extraordinário. Tenho a sorte de ainda o ter. Às vezes ligo-lhe às sete da manhã e peço-lhe um conselho. É um pai que nos ensinou a ser íntegros, a amar os outros, a trabalhar, a ser leais, a ser fiéis e honrados. Adormeço todos os dias a ler depois de rezar. Sou optimista por natureza. Sou aficcionada e gosto de sair. Se me convidam é porque me querem lá e faço tudo para poder ser agradável às pessoas. Durante o Inverno levanto-me às 6h45 da manhã porque acordo as minhas filhas a essa hora. Deito-me depois da meia noite.Prometi aos meus filhos que íamos de férias este ano. Vamos fazer um cruzeiro. A minha vida complicou-se nos últimos dois anos, depois da morte do meu marido, mas também tenho sido muito compensada. Vivo um dia de cada vez. Todos os dias acordo bem disposta. Amanhã o sol nasce e logo se vê. Gosto de fazer castelos na areia. Se me perguntasse diria que tinha 10 coisas a fazer se tivesse dinheiro... Mas nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje. E às vezes até exagero no que faço. Sou muito activa. Ana Santiago Madalena Ribeiro Telles, 48 anos, mãe de cinco filhos e uma lutadora, é o rosto da Plaza Ribeiro Telles, em Vila Franca de Xira. Uma casa de família que transformou em centro de eventos. A gestora de formação é uma optimista por natureza, trabalhadora de substância, que não verga aos obstáculos da vida.