João Ferreira é campeão nacional, vai ao mundial e sonha ir aos Jogos Olímpicos
Atleta da Póvoa de Santa Iria lamenta falta de reconhecimento das entidades locais
O atleta do Sporting é campeão nacional dos 200 metros, vai ao campeonato do mundo com Francis Obikwelu e sonha estar presente nos Jogos Olímpicos de Londres 2012. Natural da Póvoa de Santa Iria, o jovem de 22 anos, crítica a falta de reconhecimento dos atletas da terra por parte das entidades locais. “Nunca houve, uma palavra de incentivo. Ninguém sabe quem eu sou”, lamenta.
Levado pelo pai, que na altura era director técnico da Associação de Atletismo de Lisboa, começou a assistir às provas e a ganhar o gosto pela modalidade. Com nove anos disse que queria participar numa corrida e a partir desse dia, João Pedro Gonçalves Ferreira, hoje com 22 anos, nunca mais parou. Natural da Póvoa de Santa Iria, foi na escola da sua terra, EB2, 3 Dom Martinho, que se começou a evidenciar e cedo surgiram propostas de Sporting, Benfica e do JOMA. “Como benfiquista ferrenho que sou fui para o Benfica”, conta o atleta, que esteve no clube da Luz durante doze anos. Há dois que corre com as cores do Sporting. (ver caixa).João Ferreira tem um palmarés desportivo invejável. Revalidou este ano o título de campeão nacional dos 200 metros e no ano passado foi também campeão nacional nos 100. Já foi campeão nacional nos 60, 110 e 200 metros barreiras nos escalões mais jovens. Por equipas foi igualmente várias vezes campeão nacional de juvenis, juniores e sub-23. Há dois meses, na Taça da Europa, competição que se realizou em Leiria, a equipa de estafetas de 4 x 100 metros, da qual João Ferreira faz parte, conseguiu os mínimos para estar presente no campeonato do mundo que se vai realizar de 15 a 23 deste mês em Berlim, na Alemanha. João Ferreira acredita que a equipa composta por si, por Arnaldo Abrantes, Dany Gonçalves, Ricardo Monteiro e Francis Obikwelu, (um será suplente) pode trazer um bom resultado para o nosso país. “Numa estafeta tudo é possível. Temos grandes hipóteses de chegar a uma final e ficar entre as oito melhores equipas. Seria inédito e correr por Portugal é sempre um orgulho para mim”, garante. O atleta já se emocionou e chorou a ouvir o hino nacional. “Quando fui campeão europeu de juniores nos 110 metros barreiras na Taça dos Campeões Europeus numa prova na Suiça. Espero um dia voltar a ouvi-lo”, vaticina o campeão.No próximo ano, João Ferreira vai apostar forte na distância de 400 metros barreiras tendo em vista a participação no europeu de seniores que se irá realizar em Barcelona. “Toda a gente acha que é a minha prova de futuro e onde posso obter marcas de grande nível”, refere. Mas o grande sonho do atleta é estar presente nos jogos olímpicos de Londres 2012. “Acredito que com trabalho vou conseguir fazer mínimos e estar presente”, diz confiante João Ferreira.Fora das pistas, o jovem diz-se amigo dos amigos e gosta de estar com a namorada e família. Sempre que pode não perde uma oportunidade de descontrair a ver filmes ou a jogar computador. Dentro das pistas é bem diferente. É conhecido pela raça. “Sou um animal competitivo, como me chama a minha treinadora. Corra com um júnior ou com o campeão do mundo, a concentração e a mentalidade é a mesma. Detesto perder e dou sempre tudo e mais alguma coisa”, assegura João Ferreira.O jovem não descurou o seu futuro e tenta conciliar o atletismo com o curso de desporto – está no segundo ano – que está a tirar na Universidade Lusófona em Lisboa. É um verdadeiro exemplo de paixão e dedicação à modalidade. Treina toda a semana excepto ao domingo. Há dias em que o ponteiro do relógio marca 07h30 e já João Ferreira saiu da Póvoa de Santa Iria em direcção à capital. Só regressa a casa por volta das 22h30. “Acabo as aulas ao meio-dia e vou treinar até às duas da tarde. Das três até às cinco volto a ter aulas e das cinco até às sete regresso ao treino e no final ainda tenho a recuperação. Quando chego a casa já é noite”, conta o atleta que, por vezes, chega a fazer 150 quilómetros diariamente. “Tudo por amor ao atletismo”, diz com um brilho nos olhos, orgulhoso do seu percurso.Falta reconhecimento aos atletas da terraJoão Ferreira lamenta que nunca tenha havido uma única palavra de incentivo por parte da autarquia de Vila Franca de Xira nem da junta de freguesia local ou mesmo dos dirigentes desportivos do União Atlético Povoense (UDP). Já por algumas vezes lhe disseram que não podia treinar na pista do complexo desportivo do UDP.“Acho que ninguém sabe quem eu sou. Penso que as pessoas deviam informar-se mais sobre os atletas da terra e pelo menos dar-lhes uma palavra de apoio. Já não peço incentivos financeiros ou patrocínios”, refere João Ferreira.O atleta de selecção, um dos melhores do mundo – por isso vai ao campeonato mundial – e campeão nacional dos 200 metros, deixa várias sugestões. “Seria bom, até para incentivar os miúdos, terem um atleta de nível mundial a treinar no complexo. Ou então convidarem-me a ir às escolas para conviver e falar com os mais jovens e explicar-lhes o quanto é importante estudar, treinar e ser aplicado nas coisas”, revela um pouco desiludido João Ferreira que deixa também um exemplo. “O Arnaldo Abrantes é de Almada e é reconhecido na sua terra. Numa altura em que ele não tinha clube, a câmara ajudou-o financeiramente e apoiou-o sempre”, garante o atleta do concelho de Vila Franca de Xira.Saída do Benfica para o rival SportingDurante 12 anos João Ferreira vestiu a camisola do Benfica, seu clube do coração. Há dois, não chegou a acordo com os encarnados, abandonou o clube da luz e assinou pelo rival da segunda circular. “Ter ido para o Sporting foi a melhor coisa que me aconteceu. É a melhor equipa portuguesa de atletismo”, garante o atleta.João Ferreira saiu magoado do Benfica mas quando estava a rubricar o contrato com o Sporting, na presença do professor Moniz Pereira, deixou uma promessa. “Professor, vai-me desculpar mas um dia vou voltar e acabar a minha carreira no Benfica”, conta com um sorriso João Ferreira, que no futuro, gostava de ser recordado como tendo passado pelos dois clubes.Estágio na casa do Francis ObikweluQuando falamos com João Ferreira, (segunda-feira) o atleta tinha acabado de chegar do Algarve, onde esteve a estagiar com a restante equipa, que irá participar na estafeta de 4 x 100 metros, no Campeonato do Mundo na Alemanha.Os quatro atletas, mais a treinadora Anabela Leite e o seleccionador nacional, professor José Santos, ficaram na casa de Francis Obikwelu. “Mostrou ser uma pessoa bastante humilde e acessível. Ele próprio diz que vai ao mundial para nos ajudar a lutar por um lugar na final. Tem-nos dado dicas, em como podemos melhorar e obter bons resultados”, conta João Ferreira. O atleta não tem dúvidas que a experiência do vice-campeão olímpico dos 100 metros em Atenas2004, é “importante” para todos.
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