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O Ensino, as novas tecnologias e as empresas

Três personalidades da região falam sobre o ensino, as novas tecnologias e a ligação das escolas às empresas. Neste Painel de Opinião participam o presidente do Instituto Politécnico de Tomar, Pires da Silva, o presidente da Escola Alves Redol em Vila Franca de Xira e a administradora da Escola Internacional de Línguas, Eduarda Reis. Os depoimentos podem ser vistos em vídeo no diário online no endereço www.omirante.pt.

Pode tornar-se dispensável a presença do aluno na escolaO que pode revolucionar o ensino não são exactamente as novas tecnologias mas a forma como elas são utilizadas: colocar um computador, para cada aluno, numa sala de aula pode não só não constituir uma vantagem como até ser prejudicial, se a forma de dar a aula, ou mais concretamente se a forma de ensinar, não tiver evoluído. No que ao Ensino Superior diz respeito, Bolonha prevê que o ensino se torne menos expositivo e que os alunos tenham um papel mais interventivo na procura do conhecimento que lhes interessa. O professor passa a assumir um papel de catalisador e de tutor dos progressos que o aluno vai fazendo. Nestas circunstâncias, ao nível do Ensino Superior, pode, de facto, tornar-se dispensável a presença do aluno na escola todos os dias, particularmente nas fases em que este prossiga a sua investigação. Mas continuará sempre a ser indispensável uma frequência assídua das instituições já que é o contacto humano que nos forma. Creio que não há ninguém que não tenha sido marcado na sua vida, nas suas convicções e na sua personalidade, por um professor! Será que faz falta uma universidade privada na região? Quando se trata de iniciativa privada não faz sentido falar do que deve ser ou do que não deve ser: é o mercado que funciona. Se a procura assim o determinar e houver capacidade de oferta, esta surgirá. Agora o que faz sentido é dizer que num mundo em que o conhecimento é estratégico tem de haver ensino público. Como tem que haver saúde pública, segurança pública, tribunais públicos e umas forças armadas públicas. Sem que o Estado intervenha a estes níveis corremos o risco de regredir. Quanto à falta que uma universidade privada faz, na região, creio que a resposta tem sido dada pelo mercado nos últimos anos.Devemos ter muito cuidado com qualquer tentativa de dizer quais são as relações que devem existir entre as instituições de ensino e a comunidade e designadamente as empresas. Parece-me presunção que uma instituição de ensino superior venha dizer, “ex cathedra”, aos empresários, às empresas ou às instituições, o que devem fazer. Melhor do que ninguém, os empresários e os dirigentes sabem o que é bom para as suas empresas e instituições. Mas há uma coisa que podemos dizer sem ponta de arrogância ou presunção. É que na sociedade do conhecimento em que já vivemos, a vantagem é das organizações que aprendem, que são flexíveis a aprender e ágeis a responder às transformações da sociedade. E a aprendizagem desta capacidade em responder às transformações da sociedade está nas instituições de ensino superior. *Presidente do Instituto Politécnico de TomarInternet permite melhor comunicaçãoHoje as novas tecnologias permitem um tipo de consulta que anteriormente só era possível nas bibliotecas. Temos mais informação o que permite também uma melhor comunicação entre aluno e professor não apenas na sala de aula. Por outro lado, tenho dúvidas que as novas tecnologias possam substituir completamente a necessidade do aluno ir à escola. O contacto directo vai ter que existir para se esclarecerem dúvidas. A vontade de conhecer mais, que não pode ser esgotada pela Internet, pelas novas tecnologias. Mas tudo o que sirva para aumentar o conhecimento é importante, desde que tenha qualidade. Quanto à necessidade de haver mais estabelecimentos de ensino na região, nomeadamente privados, não se faz sentir muito em Vila Franca de Xira porque estamos muito próximos de Lisboa, onde existem diversas universidades. Mas tudo o que traga para a região produção de conhecimento, conhecimento de qualidade e que também nos ajude a afirmar-nos neste espaço local é sempre bem-vindo. Até porque uma universidade terá alunos, juventude e trará uma nova dinâmica à cidade e ao concelho de Vila Franca de Xira.Uma escola como a Alves Redol, que tem ensino profissional, o que mais quer é que quando os alunos concluam o curso estejam preparados para ir trabalhar, se possível, nas empresas da região. Sobretudo nas empresas da área do curso em que se especializaram. E tudo o que seja uma mais valia do conhecimento que as empresas possuam é importante que seja partilhada com a escola.É importante que o conhecimento empresarial seja partilhado até para que haja uma adaptação entre aquilo que é o curriculum do aluno dado pela escola e as necessidades da empresa. Daí que quando preparamos o ano lectivo seguinte, reunimos com algumas empresas da região para conseguir perceber quais são as necessidades do mercado. E assim podermos oferecer cursos que tenham aceitação local.*Presidente da Escola Alves Redol – Vila Franca de XiraNão se transmite o conhecimento científico às empresasAs novas fornadas de professores no estrangeiro já são formadas e capazes de leccionar com as mais modernas tecnologias. Em Portugal, infelizmente, ainda não estamos lá. Trabalhar exclusivamente com ensino à distância penso que não resulta completamente, pelo menos nestas áreas das línguas. As línguas são vivas, o aluno precisa de estar em contacto com o professor, precisa de o ouvir, de falar e de aprender a comunicar.Do conhecimento que tenho do ensino superior houve alturas em que surgiu a necessidade do Estado incentivar a criação de universidades privadas. Depois retirou-lhes o tapete e ficaram com enormes dificuldades. O mesmo não acontece connosco. As escolas de línguas continuam a ter razão de ser e existem por alguma razão. Francisco Penha, por exemplo, tem feito muito pelo empreendedorismo em Portugal e tem levado essas ideias às escolas. Mas a Direcção Geral de Educação tem uma opinião diferente, acha que dão cabal resposta ao ensino das línguas em Portugal. O que está a ser feito continua muito aquém do desejado. Não se leva todo o conhecimento científico para a empresa e esta não se desenvolve. Podia-se criar uma sinergia em que os alunos aprendiam e as empresas beneficiavam com conhecimento científico que estes lhes podiam estar a dar. Numa primeira fase em termos de entreajuda, mais tarde na colocação desses jovens nas empresas. Seria essa a função das universidades e dos politécnicos, que estão mais próximos das populações. Depois vê-se o que se vê. As empresas não ganham nada com isso e os alunos não têm colocação. *Administradora da Escola Internacional de Línguas

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