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Exposição de homenagem a António Badajoz inaugurada em Coruche

Exposição de homenagem a António Badajoz inaugurada em Coruche

Seis décadas de alternativa de antigo bandarilheiro assinaladas na sua terra natal
António Badajoz é considerado por muitos aficionados como o melhor bandarilheiro português de todos os tempos. Isso mesmo ficou provado nos testemunhos de diversos apaixonados da festa brava que na tarde de sábado, 8 de Agosto, compareceram no antigo edifício dos Correios – onde está previsto vir a ser instalado o Núcleo Tauromáquico de Coruche – para a inauguração da exposição comemorativa dos 60 anos de alternativa do antigo bandarilheiro e peão de brega que nasceu em Coruche há 79 anos.António Badajoz não conseguiu esconder a emoção e confessou sentir-se orgulhoso ao ver a exposição com as memórias da sua vida enquanto toureiro profissional. Vários trajes de luzes que vestiu durante a sua carreira; fotografias de actuações; prémios e condecorações e muitas histórias que lhe aconteceram ao longo de seis décadas de actividade.Apesar do sucesso ao longo da sua carreira, o antigo bandarilheiro garante que os toiros não lhe perdoaram. “Levei apenas uma cornada, mas ortopedicamente fui muito massacrado. Parti o crânio em dois lados o que me levou a estar 15 dias em coma, tive as duas clavículas partidas, o externo também. Um dos braços demorou dois anos a reconstruir porque ficou pendurado pelos tendões e tive que levar um excerto”, conta, confessando que nem mesmo todas as mazelas lhe retiraram a paixão pela festa brava.O antigo bandarilheiro mostra ter uma memória extraordinária ao recordar com exactidão as datas das corridas que mais o marcaram. António Badajoz diz que foi muito feliz na corrida que participou na Feira de Manizales, na Colômbia, em 1956, onde foi contratado para lidar dois toiros e acabou por lidar cinco. “No final da corrida saí em ombros juntamente com os matadores. Foi uma tarde de glória na minha carreira”, refere com emoção ao recordar aquele dia. México, no dia 1 Janeiro de 1956, Sevilha, em 1955, Madrid e Barcelona são outras praças que lhe trazem muitas e boas recordações.Mas nem todas as corridas foram brilhantes. António Badajoz recorda com pouca saudade uma corrida que realizou em Ira Por, no México. “Durante uma lide consegui colocar três pares de bandarilhas no chão em vez de as espetar no toiro. Como se diz na gíria taurina apanhei um “petardo” do pior que podia haver”, conta.Apesar de já se ter retirado das arenas há cerca de 18 anos, António Badajoz confessa que ainda lhe custa muito estar de fora e não poder lidar nenhum toiro. “Os anos não perdoam e temos que terminar a nossa carreira mas tenho muitas saudades de entrar numa arena. Sinto inveja daquilo que se passa no redondel e o não poder estar lá dentro é muito doloroso. Por vezes vejo toiros saírem dos curros para o recinto e penso “se estivesse lá dentro era capaz de lidar este toiro”, confessa.O próximo objectivo do ex-bandarilheiro é escrever um livro com as suas memórias contando para isso com a ajuda das entrevistas realizadas nas últimas semanas pela responsável do Museu Municipal de Coruche, Ana Carrapato, para a organização da exposição.Para o presidente da câmara de Coruche, Dionísio Mendes, esta exposição de homenagem a António Badajoz é mais do que justa. O autarca recordou, que nos anos em que foi forcado pelo grupo da vila, era imprescindível antes de entrar na arena para pegar o toiro ouvir os conselhos de António Badajoz. “Ele sabia sempre onde o toiro devia ser colocado e como devíamos proceder, transmitia-nos sempre muita calma”, recorda. No próximo dia 4 de Setembro realiza-se um festival taurino que será a consagração nacional de António Badajoz, considerado uma figura do toureio português. A exposição de homenagem ao antigo bandarilheiro pode ser visitada até 5 de Dezembro deste ano.O dia em que António Badajoz teve que lidar um Búfalo em ÁfricaAntónio Badajoz levou a sua arte a vários continentes desde a Europa à América do Sul passando por África. Foi numa das visitas a este continente quando, em Abril de 1951, foi tourear à Beira, na cidade de Lourenço Marques – actual Maputo – “Acabei a lidar um búfalo juntamente com um colega”, recorda.“Um senhor que nos conhecia veio ter connosco muito preocupado porque um búfalo tinha entrado na vacaria e tinha dado uma tareia no funcionário que foi parar ao hospital. Estavam todos com medo e ninguém quis ficar a guardar as vacas. Foi quando nos pediram para bandarilharmos o búfalo”, recorda com uma gargalhada.O bandarilheiro não nega que estava apreensivo uma vez que nunca tinha lidado um animal daqueles mas resolveu enfrentá-lo. Quando o búfalo entrou na arena improvisada, juntamente com as vacas, António Badajoz colocou-lhe o primeiro par de bandarilhas. “Foi o que bastou. Já não consegui colocar mais nenhum par porque o animal fugia com medo. Saltava a trincheira e escondia-se atrás dela. Tornei-me um herói sem querer”, conta.António Badajoz sempre preferiu tourear em Espanha e em França uma vez que lá são permitidas as corridas com toiros de morte, o seu tipo de corrida preferida. O antigo bandarilheiro considera que as corridas de toiros em Portugal estão a perder adeptos por esse motivo. “Já nem falo nos toiros de morte, mas se existisse pelo menos o toiro picado, traria muito mais figuras do toureio internacional e muito mais aficionados do estrangeiro”, explica.
Exposição de homenagem a António Badajoz inaugurada em Coruche

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