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Habitantes de Coruche falam da sua terra e das suas festas

Faltam estradas, indústria e mais empregosDiamantino Diogo, 67 anos, presidente Caixa Agrícola Coruche, CorucheDiamantino Diogo gostaria que Coruche tivesse criado mais postos de trabalho, principalmente para os jovens que concluem os seus estudos e que se tivesse instalado mais indústria no concelho, ao longo dos anos que se seguiram ao 25 de Abril. Para o presidente da Caixa Agrícola de Coruche a vila e o concelho deviam ter crescido acima do que foi alcançado, mas está convencido que a recuperação irá ser feita a partir da construção do novo aeroporto de Lisboa. “Vamos ter um novo ciclo de desenvolvimento”, diz.As vias de comunicação são outra das suas preocupações. “Precisamos há muito tempo de novas estradas, como o IC 13 e IC 10. Com isso, podemos ter mais espaço industrial e fábricas e temos que fazer essa divulgação junto dos investidores. Durante as festas gosta de esquecer, por momentos, as suas responsabilidades como presidente da Irmandade de Nossa Senhora do Castelo e ir, como qualquer outro cidadão, ver os toiros à solta nas ruas da vila e os diversos espectáculos musicais. Restauração deve estar aberta para receber visitantesIsabel Pontes, 37 anos, florista, CorucheIsabel Pontes diz que as festas de Coruche a fazem feliz. A florista do mercado municipal não perde o cortejo etnográfico e as largadas de toiros. “Mas fico de fora a ver. Nunca me aventuro nem gosto que familiares meus o façam. Estão proibidos! Senão o coração dispara e dá-me alguma coisa”, graceja.Ainda se lembra das festas quando era mais nova. “As pessoas do campo vinham ver o fogo-de-artifício e ficavam a dormir ao relento no jardim à beira-rio, com mantas e cestas de comida, porque não havia carros nem transportes tão tarde”, recorda. Hoje em dia, acha que o comércio tradicional ainda não responde completamente. ”Aos domingos Coruche recebe muitos visitantes de excursões porque é ponto de passagem e de visita e a restauração está toda fechada. É aquilo que eu acho pior porque de resto a vila está muito completa actualmente”, opina.Transporte de passageiros em comboio é oportunidade bem vindaAntónio José Silvestre, 51 anos, comerciante, Foros do Paúl – CorucheIndústria e empregos são as duas grandes lacunas do concelho de Coruche. Para António José Silvestre, comerciante do centro histórico da vila, essas lacunas reflectem-se nas actividades comerciais e fazem notar a grande dependência do mundo agrícola no concelho. De resto, considera que o sector da saúde está como o país, em crise, obrigando os utentes a deslocarem-se para a Santarém. “Primeiro desanuviam serviços, agora estão outra vez a centralizá-los, vamos ver no que dá”. Pela positiva, António Silvestre considera que a abertura da linha de comboio até Lisboa para passageiros, a preços acessíveis e de forma rápida, é uma boa notícia para os habitantes. “Apesar de tudo a vila não tem nada a ver com o que era há dez ou 15 anos atrás. Está tudo mais limpinho e, em matéria de câmara, temos mais qualidade”, refere António José Silvestre.As festas ajudam a melhorar o ânimo dos coruchenses. O habitante elege os toiros como o principal das festas, que gosta de ver e manter-se intacto. No parque do Sorraia petisca e vê os concertos. “Gosto de como são estas festas e ajudo sempre a comissão”, garante o comerciante. Venham mais investidores para agarrar a população António Raposo Vieira, 47 anos, comerciante, CorucheAntónio Raposo Vieira gosta da vila tal como ela está e não se deixa levar em euforias para que ascenda a cidade. “Falta sim trazer pessoas com dinamismo para criarmos mais postos de trabalho e para que invistam no concelho. Não precisamos de festas e fins-de-semana com música, precisamos de iniciativa para que os jovens e as pessoas não se desloquem para fora e tenham empregos”, refere o comerciante. Que dá um exemplo de seguida: “Havia dantes uma discoteca em Coruche, onde todos íamos. Hoje os jovens estão limitados e não ficam cá. Vão para Mora, Almeirim, Salvaterra e Benavente e estão cada vez mais desligados”, constata. O comerciante considera negativos os serviços de saúde e de segurança no concelho, semelhantes ao que acontece no resto do país. Refere ainda que há problemas com as etnias e com outros protagonistas de crimes, que têm como regra a impunidade. “Essas pessoas chegam mais depressa de volta à vila desde o tribunal do que a GNR que tem de ficar a preencher impressos”, compara.Para António Vieira as festas servem para aliviar desses problemas do dia a dia mas nem tudo é fácil. “Em miúdo ia com os meus pais aos restaurantes. Hoje não vou às tasquinhas. Com mulher, dois filhos e a namorada de um deles, quanto é que deixo lá?”, questiona.Ficaram na sua memória os concertos de Fernando Pereira e de Rouxinol Faduncho e considera que os espectáculos com Tony Carreira e noite de fados estão mais vocacionados para recintos fechados. Pavilhão de exposições era garantia de trabalho para artesãosAntónio Lourenço da Silva, 59 anos, artesão, Foros do PaúlEntre o que mais falta no concelho de Coruche, António Lourenço da Silva elege duas questões: é necessário mais saúde e falta a autoridade nas ruas que conceda mais confiança e segurança às pessoas. De resto, o artesão, diz que a falta de solidariedade nos momentos difíceis também é um ponto a melhorar pelas pessoas e pela autarquia. O artesão era figura habitual nas festas de Coruche até que com as obras de requalificação do Rossio se tenha deitado abaixo o pavilhão de exposições. “Era onde iam artesãos de todos os lados nas festas. Convivia e tinha clientes para todo o ano sem sair aqui do concelho, só por estar representado nas festas. Cortaram-nos a enxada!”, diz, com um lamento.Agora António Lourenço da Silva vai à festa apenas como cidadão. Mas não é por causa disso que não aproveita. Assiste ao cortejo etnográfico e não perde o fogo de artifício e as largadas de toiros. “Quando vou sozinho vou para dentro da trincheira. Acompanhado da mulher fico sempre fora, ela não me deixa entrar. Como é óbvio também gosto da tourada”, realça. De resto não tem grande ouvido para a música. Prefere mais um bom petisco e conviver. Tira-se um carapau de um lado, um torresmo do outro e a festa vai-se fazendo. Ver as festas por detrás do balcão do café António Martins, 64 anos, comerciante, CorucheAntónio Martins sente a falta do movimento de clientes como um problema real da vida na vila de Coruche, mesmo que as festas agucem o apetite dos visitantes à porta do snack-bar A Cubata. E não é por falta de centralidade, já que o estabelecimento fica na rua 5 de Outubro, um dos locais onde se realizam as largadas de toiros e a poucos metros das tasquinhas e dos concertos. “Nota-se essa falta de movimento de há uns dez anos para cá. É a experiência do dia a dia que me diz. Acho que é isso que dizem que anda para aí, chamada crise”, diz com ironia. Acrescentando que está sempre metido na sua prisão e, por isso, deixa escapar o que se passa na vila. “Quanto mais trabalho tiver mais fico contente. E desde dia 14 a 18 há sempre mais negócio”, diz António Martins de forma pragmática. António Martins diz que só vê o que se passa quando vai almoçar e jantar. Reclama que as festas antigas tinham mais tradição e outra forma de encarar as coisas. Nunca lhe entrou um toiro pelo estabelecimento mas pielas das fortes durante os dias festivos é coisa que não falta. “Faz calor e fugir dos toiros é duro”, graceja.Festas de Coruche deviam ser organizadas por comissões popularesFrancisco Santos, 57 anos, industrial, Foros do Paúl/Biscainho“Para mim as festas são uma manifestação de satisfação de um povo e só é pena que as nossas festas tenham um peso tão grande da câmara, quando deviam ser organizadas pela população”, refere Francisco Santos. Foi membro da comissão nos dois primeiros anos a seguir ao 25 de Abril e orgulha-se de ter ajudado a comprar uma ambulância para os bombeiros com 250 contos. Na pele de cidadão, Francisco Santos gosta é de se sentar nas tasquinhas, de preferência à sombra, e ver quem passa, a cumprimentar os amigos e a solidarizar-se com as festas. Gosto do cortejo etnográfico, tem muito valor e mostra tradições muito antigas”, acrescenta.Mais parado está o concelho. Desde logo por estar cercado de eixos rodoviários e de não ser servido quase por nenhum deles. Mas também porque a agricultura, com influência grande no concelho, tem tido anos péssimos. “O concelho é muito rico mas na parte cultural é pobre. Há um caminho grande a percorrer”, garante Francisco Santos. Precisamos de unidade de saúde bem mais perto João Picado, 55 anos, empregado balcão, Foros do Paúl“Faltam os clientes, é o que mais se sente. Houve um abaixamento grande”, diz João Picado quando questionado como vai o negócio da ourivesaria e na vila em geral. Ainda assim a tarde teve algum movimento na sexta-feira.Natural de Mira, Coimbra, João Picado foi para Coruche levado pelo pai e gosta da vila e do concelho, terra da qual diz que tem quase tudo o que uma pessoa precisa. “O que dava mais jeito era ter cá o Hospital de Santarém mas acho que a situação da saúde no concelho vai melhorar com o serviço de urgência que aí vem”, diz à reportagem. É o único senão que se lembra e que aponta ao concelho. Como tristezas não pagam dívidas a festa é o tema que se segue. João Picado é frequentador habitual. Gosta de ver os espectáculos, os toiros, e as largadas. Há sempre um bocadinho para ir ver os toiros, “encostado à trincheira de olho no bicho”, garante.As tasquinhas são uma boa opção para ir, umas vezes com amigos, outras com a família. Basta sentar-se à mesa e ir petiscando, picando aqui e ali.

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