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O Museu do Neo-Realismo tem pernas para andar

Em entrevista a este jornal Maria João Martins tece algumas considerações sobre o Museu do Neo-Realismo e sobre a investigação dedicada ao Movimento que dá nome ao Museu, que nos merecem alguns reparos.No início da entrevista afirma que o “O Museu resgata a memória política e literária de Vila Franca de Xira …”. É verdade que o faz, mas é necessário não esquecer que o objectivo do Museu é abordar todo o Movimento do Neo-Realismo, em todas as suas vertentes (literatura, artes plásticas, teatro, cinema, ensaio, música, arquitectura, colectividades, bibliotecas e cine-clubes que lhe deram divulgação, editoras, jornais e revistas,etc.), nas suas diferentes gerações/ fases e todos os seus cultores. Ora este ambicioso projecto faz, deste Museu um espaço de dimensão nacional, não só pela projecção nacional e internacional dos escritores do concelho, mas, principalmente, pela grande dimensão deste Movimento, que envolveu centenas de artistas, dos mais relevantes da cultura portuguesa do Séc. XX. A exposição de “longa duração” patente no Museu, com o título “Batalha pelo Conteúdo”, de que sou um dos responsáveis, em conjunto com o Director do Museu, Dr. David Santos, dá, apenas, uma rápida visão do que foi o Movimento, embora geral e focando os aspectos mais relevantes, todavia, sem grande profundidade. Dezenas de nomes não foram recordados. Muitos nomes importantes não tiveram a devida relevância. Muitos aspectos valiosos não foram contemplados. Duas ordens de razões obrigaram a que assim fosse : 1) o espaço disponível não permitia mais; 2) a exposição não podia ser maçadora e afastar o público. Suponho que o equilíbrio encontrado é muito satisfatório e que a reacção geral dos visitantes, muitos deles vindos de vários pontos do país, mostra que o é. Por outro lado, todos os aspectos e nomes que não foram considerados, sê-lo-ão em exposições temporárias, de que já se realizaram várias.Por isso, não posso concordar com a frase “O Museu do Neo-Realismo é demasiado grande para o objecto de estudo”.Contudo, apesar de o Movimento do Neo-Realismo constituir um conjunto de grande dimensão e complexidade, concordo com a afirmação “tem que construir na progra-mação pontes com outras coisas…”. Este objectivo está a ser realizado pela Direcção do Museu e sempre foi defendido pela Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, não porque o Movimento não consiga alimentar uma programação intensa, durante largos anos, mas porque há que encontrar essas pontes com o futuro.Num outro aspecto permito-me discordar da entrevistada. É verdade que, desde há muitos anos, tem havido um alheamento muito grande da Universidade em relação ao Neo-Realismo. As teses de doutoramento eram raras e mesmo os nomes cimeiros do Movimento, com uma excepção ou outra, não foram objecto de estudo. Mas o mesmo acontece com os precursores do Neo-Realismo, como Ferreira de Castro, o mais traduzido dos nossos escritores antes de José Saramago e Aquilino Ribeiro. E outros escritores e movimentos.No entanto, nos últimos anos apareceram alguns estudos, de que dou exemplos : sobre o jornal Sol Nascente (tese de doutoramento do Prof. Dr. Luís Crespo de Andrade, da Universidade Nova de Lisboa), sobre a revista Vértice (tese de doutoramento da Profª. Drª. Viviane Ramond, da Universidade de Toulouse), sobre o jornal O Diabo (tese de mestrado do Prof. Dr. Luís Trindade, da Universidade Nova), Neo-realistas de Vila Franca de Xira – Lugares da Memória (do Dr. José Rogeiro), In-Memoriam de Mário Sacramento (vários autores), Espelho de Ver por Dentro : O Percurso Teatral de Alves Redol (tese de doutoramento do Prof. Dr. Miguel Falcão, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), os trabalhos do Prof. Dr. António Pedro Pita, os trabalhos do Prof. Dr. Vítor Viçoso, de que se destaca o excelente e exaustivo texto sobre o Neo-Realismo do catálogo da exposição “Batalha pelo Conteúdo”, os estudos do Dr. João Madeira, os estudos de enquadramento histórico do Dr. José Pacheco Pereira, As Mulheres de Alhandra na Resistência (tese de mestrado da Drª. Antónia Balsinha).Todos estes trabalhos estão publicados, a maior parte deles com apoio financeiro da Associação e todos eles foram objecto de divulgação no Museu e em outros locais, ao longo do país, por iniciativa da Associação e do Museu.Além disso, tem sido possível manter a publicação da revista Nova Síntese, da responsabilidade da Associação Promotora, de que já saíram os nºs 1 e 2/3, em que foram publicados 34 textos (de quase igual nº de autores) de investigação sobre o Neo-Realismo e precursores. E está em preparação o nº 4, com autores comuns, mas a maioria diferentes dos nºs anteriores. O Prof. Dr. Vítor Viçoso é o Director desta revista. Os técnicos do Museu têm realizado um significativo trabalho de investigação para preparar as exposições apresentadas, estando publicados catálogos de grande qualidade.É certo que a grande comunicação social não tem dado grande relevo a todos estes trabalhos, ou a maior parte das vezes nem se lhes refere. Mas isso não obsta a que existam. Só quer dizer é que essa comunicação social é discriminatória.Acresce, ainda, que, neste momento, a Associação tem entre mãos nove títulos para edição, sobre vários aspectos do Neo-Realismo : temas gerais, sobre autores, livro de poesia inédita. No prelo, encontra-se o volume Sobressalto e Espanto : Narrativas Literárias Sobre e para a Infância, no Neo-realismo Português (tese de doutoramento da Profª. Drª Violante Magalhães, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Por isso, não é verdade que “É difícil continuar a levar ao museu investigadores e estudiosos do Neo-Realismo porque estão a acabar”. António Mota Redol

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