Não é uma estreia. Há anos que Graciete Santos e Fátima Henriques participam, lado a lado, na festa que anualmente se realiza em Tomar por honra de Nossa Senhora da Piedade, transportando à cabeça uma fogaça, a mesma que algumas horas mais tarde há-de ser leiloada. Os lucros revertem a favor das obras de melhoramento do monumento e da sua zona envolvente. O dia de Nossa Senhora da Piedade celebra-se a 8 de Setembro, antecipando-se a festa sempre para o domingo anterior. Antes da eucaristia realiza-se a procissão pelas “escadinhas” de Nossa Senhora da Piedade. “É para desconto dos meus pecados”, brinca Fátima, 39 anos, sorriso aberto adornado por caracóis loiros, minutos antes de enfrentar os 300 degraus, mais coisa menos coisa, até chegar lá ao cimo, à capela. Graciete acredita que são 345, mas a repórter não conta tantos. Cada cesto de verga pesa à volta de cinco quilos. Bolo de festa, pão, chouriços, presunto, queijos, fruta, vinho e outras iguarias que qualquer mesa gostaria de ter. A maioria foi oferecida por empresas ou restaurantes da cidade. Ninguém faz qualquer aquecimento prévio e o peso parece não assustar. “É como na Festa dos Tabuleiros. É pegar e andar”, afirma Fátima. São dez e cinco da manhã quando o padre Frutuoso Matias, 70 anos, dá início à celebração. O pendão vai à frente. A procissão segue atrás das fogaças. Em 20 minutos, o cortejo pára três vezes para evocações litúrgicas. “Isto é como uma prova de esforço que os médicos muitas vezes nos mandam fazer”, graceja, de altifalante na mão. Mais adiante avisa as senhoras que alguns degraus da escadaria não são de confiança. Apesar do calor que se faz sentir, da subida íngreme e do piso irregular, o cortejo decorre sem percalços. “Quem corre por amor não cansa. Quem sobe estas escadarias, sabe que milhares já o fizeram antes, a procurar o colo desta Mãe que é do tamanho do mundo”, proclama o pároco no início da eucaristia, que junta centenas de fiéis no adro da pequena capela. Elsa Ribeiro Gonçalves