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Um embaixador que sabe driblar as dificuldades

Um embaixador que sabe driblar as dificuldades

Rui Ferrage representa o basquetebol da Guiné-Bissau em Portugal

É o mais alto representante do basquetebol na Guiné em Portugal e um dos rostos do CEBI a nível desportivo. Rui Ferrage tem ideias definidas sobre a modalidade, quer no seus país de origem, quer naquele em que vive há dez anos.

É um dois rostos mais conhecidos do basquetebol do CEBI e quem chega à instituição encontra-o sempre, à tarde, envolvido nos treinos dos juniores ou na observação de jogadores. Rui Ferrage, 48 anos, é um “homem do mundo”, nascido na Guiné-Bissau e com uma formação desportiva entre o Norte de África e a França, que há dez anos veio viver para Portugal. Embaixador do seu país natal para o basquetebol na Europa, e profundo conhecedor do basquetebol guineense, também já liderou até há duas épocas os seniores do União Desportiva Vilafranquense. “Levanto-me cedo para trabalhar numa empresa na área da distribuição. A partir das 17h00, venho a correr para o pavilhão da Fundação CEBI para os treinos de basquetebol”, conta Rui Ferrage a O MIRANTE. Em Alverca, pela fundação, as corridas para o pavilhão tiveram início há vários anos, com a coordenação da escola de mini-basket, e desde 2007, após o final do basquetebol na Sociedade Filarmónica de Recreio Alverquense, com outros escalões de formação. Hoje, lidera os juniores, mas a sua visão do basquetebol vai mais longe. Formado como técnico superior de desporto num percurso contínuo, através de bolsas de estudo, na Guiné, no Senegal e na Argélia, com especialização em basquetebol na França, Rui Ferrage tem uma visão abrangente do desporto como forma de integração social. E no que respeita a Portugal e ao concelho de Vila Franca de Xira, o técnico tem ideias definidas. “É uma questão cultural não haver tabelas nos ringues de futebol, ou campos de basquetebol públicos no concelho. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira permitiu uma quebra de quase 80 por cento das verbas para os escalões de formação da modalidade entre 2001 para 2009. E isso tem consequências. Os problemas de delinquência crescem entre os jovens e estou preocupado com a segurança desta cidade. Não interessa saber se é difícil arranjar dinheiro, mas devemo-nos preocupar em integrar os miúdos, em vez de os querer mandar para centros de reabilitação quando já é tarde”, alerta. Em 2005, a cidade de Alverca chegou a receber convívios de basquetebol com perto de uma centena de jovens. O transporte era realizado fundos municipais, os árbitros eram jovens, que contavam com subsídios de deslocação, e chegaram a juntar-se 18 emblemas numa competição. “Neste aspecto, a culpa da redução da importância do basquetebol no concelho é mesmo da câmara”, aponta. Antigo Director Técnico Nacional para o basquetebol no Ministério da Juventude e do Desporto da Guiné-Bissau, Rui Ferrage veio para Portugal há cerca de dez anos, quando rebentou a guerra civil naquele país. A partir desse momento, assumiu as funções de “legítimo representante dos interesses do basquetebol da Guiné em Portugal e na Europa” e é responsável pela localização dos talentos guineenses que actuem no Velho Continente, com Portugal e França à cabeça como “viveiros” preferidos. No concelho de Vila Franca de Xira, o técnico já conheceu, pelo menos, três talentos distintos. Franclim, 20 anos, que em 2008/2009 representou o Clube Atlético de Queluz na Proliga, é residente em Arcena, freguesia de Alverca e já foi chamado à selecção para os Jogos da Lusofonia, , em 2006 e 2009, naquela que é a única competição multidesportiva em que competem juntos todos os países que falam português. Tiago Candeias, e João Mário, hoje seniores, foram formados no CEBI, e entretanto direccionados para o União Desportiva Vilafranquense como juniores. São dois talentos sob os quais o olhar do técnico tem estado atento, mas cuja integração na selecção dependerá da sua escolha, face aos prováveis convites, tanto da selecção da Guiné Bissau como de Portugal. Apesar da sua influência do basquetebol guineense, Rui Ferrage faz questão de sublinhar que não é o seleccionador daquele país. De facto, quem orientou a selecção nos últimos Jogos da Lusofonia (2009) foi José Abrantes, técnico português, convidado ao abrigo das cooperação entre Portugal e Guiné. Mas Rui Ferrage era o antigo seleccionador, além de representante da Federação guineense, e os dois técnicos acabaram por trabalhar em conjunto. “Nunca tinha visto um técnico pedir opinião a outro na formação de uma equipa. Foi muito bonito. É um técnico muito bom e que sabe trabalhar em equipa”, conta Rui Ferrage. Para o futuro, o técnico ambiciona melhorar a cooperação entre a Guiné e Portugal no que respeita ao basquetebol. “É um país pobre em recursos mas com grande potencial, que tem vindo a beneficiar da boa colaboração entre as duas nações”, relata. A utilização de Centro de Alto Rendimento da Cruz Quebrada pelos atletas da selecção, ao longo de 10 dias, em 2009, proporcionada pelo Instituto de Desporto de Portugal é outro dos resultados que pensa poder potenciar a força da equipa guineense. Sobre o basquetebol feminino, Rui Ferrage também tem uma visão. “As nossas miúdas já jogam, mas enquanto nos concentramos no basquetebol masculino não temos tanta capacidade para coordenar a parte feminina. Será um passo seguinte depois de melhorar o trabalho que estamos a fazer”. Ao nível do concelho, o técnico ainda não localizou jogadoras do seu país natal. Mas ao nível das jovens portuguesas, o treinador elogia as atletas e garante que, ao abrigo do trabalho que o CEBI tem vindo a fazer, estas têm destino certo: a equipa “Unidos Forte da Casa”. As nossas miúdas já jogam, mas enquanto nos concentramos no basquetebol masculino não temos tanta capacidade para coordenar a parte feminina
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