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“O caminho não se faz pelas quotas, mas pelo mérito”

Rosália Amorim é autora do livro “O Homem certo para gerir uma empresa é uma Mulher”

Quer chegar ao topo da empresa? Conciliar carreira com a família e aprender a dar a volta às crises? Então este é o livro perfeito para si. Manual para mulheres. Guia sobre como conhecê-las melhor para os homens. A autora chama-se Rosália Amorim. Nasceu no Cartaxo, mas há dez anos que adoptou Alverca como a sua cidade.

Porque é que o Homem certo para gerir uma empresa é uma Mulher, como diz o título do seu livro?O título pretende ser provocatório e chamar a atenção para o facto de haver poucas mulheres em cargos de poder nas empresas. É preciso salvaguardar que nem todas são perfeitas para gerir empresas. Há excepções, como as há no mundo dos homens. O subtítulo “Lições de 25 executivas que mandam nas grandes companhias em Portugal” diz muito mais sobre o conteúdo do livro. O que quis fazer, mais do que o compilar de entrevistas, foi uma reflexão sobre o papel da mulher na sociedade actual. Foi fundamental ser uma mulher trabalhadora com um cargo intermédio de gestão numa equipa que é a “Exame” e ser mãe. É importante para perceber as duas realidades. E a que conclusões chegou?Descobri que a mulher tem uma capacidade fantástica de gerir várias coisas ao mesmo tempo. A psicóloga que fez o prefácio do livro, Isabel Rodrigues, define a mulher como um ser capaz de cumprir várias tarefas não deixando nada para trás. Como a mulher está habituada, desde que o bebé nasce, a decifrar de que é que é o choro, se cólicas se fome, fica habituada na empresa a decifrar os sinais que estão à sua volta. Tem o radar sempre ligado. Consegue gerir bem uma equipa, ter atenção aos recursos humanos, ser humana a lidar com as pessoas sem descurar a parte financeira e a inovação. Já o homem, como é muito mais focado em determinada tarefa, pode ser um excelente financeiro ou então um excelente gestor de recursos humanos. A mulher ganha neste campeonato.Apesar da vantagem a mulher tem filhos e tarefas domésticas a sobrecarregá-la.O que estas mulheres provam é que é possível ser executiva, ser mãe e ser mulher casada sem ter que abandonar tudo isso para ser mulher gestora. Fiquei feliz porque das mulheres que entrevistei apenas duas não casaram e uma não teve filhos. Claro que tudo isto exige uma gestão. É quase como andar em cima do trapézio. Mas este livro, como disse a Fátima Lopes, interessa a todas as mulheres. Há aqui lições de garra. Mesmo uma mulher que trabalhe numa fábrica tem dificuldades em gerir o tempo. O tempo é escasso e o dinheiro é curto. Há aqui muito de feminino que é transversal a todas as classes sociais.E porque é que as mulheres demoraram tanto a chegar aqui?Historicamente era o homem quem tinha acesso aos estudos. Os pais destas mulheres mais velhas achavam que elas tinham que ficar em casa a bordar e a tocar piano. Por muito mérito que isto tenha, traduz uma ambição reduzida. Uma vez que agora são as mulheres a grande maioria nas universidades acho que faz todo o sentido que existam as mesmas oportunidades. Não defendo as quotas ou vantagens da minoria. Defendo apenas as mesmas regras do jogo.Já se pode falar em igualdade?Em toda a sociedade não. As mulheres continuam a ganhar menos. Muitas vezes em cargos semelhantes. Muitos dos patrões tradicionais portugueses ainda encaram a mulher como mão-de-obra barata. E quando toca a definir quem vai liderar a empresa escolhem um homem. É preciso haver uma revolução de mentalidades.Quando é que a revolução será operada?Há estudos que dizem que daqui a 70 anos deverá acontecer. Não quero acreditar que demore tanto, mas não consigo vislumbrar quando irá acontecer. Foi uma vantagem ser mulher e gerir uma equipa?Faço questão de dizer que as mulheres têm algumas fragilidades que são envolverem-se em rumores e em invejas. Muitas mulheres - e eu conheço algumas – não sabem lidar com o sucesso das outras. Como há poucas a chegar ao topo a competição é mais aguerrida. O livro também aponta falhas. Quando chegam lá, são altamente respeitadas, têm nas suas equipas mulheres e homens e ajudam depois outras mulheres. O caminho não se faz pelas quotas, mas pelo mérito.Há quem não goste de abordar as questões de género.Concordo. Devíamos ter um modelo mais à americana. Subir menos pelos lobbies e subir mais pela competência. O que não existe muito ainda em Portugal. Se não alertarmos para a questão do género vamos ficar sempre na mesma. Acabámos de ter eleições e afinal vamos ficar com menos deputadas mulheres. Há homens que não convidam mulheres porque acham que vão ter menos disponibilidade a fazer noitadas a discutir política. Cabe à mulher também ir a jogo. Se a mulher não for combativa também ninguém lhe vai dar o lugar. Já a acusaram de ser feminista?Não directamente, mas noto que quando apresento o livro há sorrisos tímidos e olhares desconfiados sobretudo entre os homens. Aviso sempre que o meu discurso não é nenhum manifesto feminista radical. Não pretendo queimar soutiens como nos anos 20. Pretendo demonstrar uma realidade que está patente no nosso país. Já há mulheres que fazem bem e que já estão no topo. Os homens devem preparar-se para formar movimentos de defesa de direitos?O status quo implementado é o masculino. Eles dominam as redes de contactos. Só se não souberem lidar bem com esta realidade é que precisarão desses movimentos artificiais. A mulher é uma óptima gestora em casa. É uma questão de transferir isso para o mercado de trabalho.“Nunca tomei tanto pequeno-almoço tão cedo”“O Homem certo para gerir uma empresa é uma Mulher”. Rosália Amorim, editora da revista “Exame”, entrevistou 25 executivas que mandam nas grandes companhias de Portugal para produzir uma obra que demorou um ano a conceber.A forma de conseguir uma hora do tempo precioso de mulheres empresárias foi conversando antes do início de um dia de trabalho. “Falávamos das oito às nove da manhã e depois cada uma seguia para o seu trabalho. Nunca tomei tanto pequeno- almoço tão cedo”, diz com humor.Apesar de ser jornalista na área, apaixonada pelo tema da gestão de carreira, o projecto nasceu paralelo ao trabalho e as entrevistas foram feitas em exclusivo para o livro. “Quis pegar nas mais poderosas dentro e fora da bolsa e em sectores diversos. Algumas conhecia há mais de dez anos das primeiras entrevistas”, explica.Trabalhar na área da economia fê-la despertar para a quantidade de talentos do sexo feminino com pouca visibilidade. “Os homens, como são a maioria, saem mais nos jornais e nas revistas”, constata.A escrita foi um trabalho altamente noctívago, descreve Rosália Amorim. “Deitava as crianças às 22h00 e ia para o computador até à uma, duas ou três. Dependendo da minha resistência diária porque no outro dia era preciso pô-los na escola”.Sendo um livro sobre mulheres Rosália Amorim entendeu que deveria apoiar uma causa associada e, depois de ir pedindo a opinião às entrevistadas, decidiu que metade dos direitos de autor reverteriam para a “Ajuda de Mãe”. “Fico satisfeita que este livro ajude outras mulheres que estão em dificuldades. Há casos gritantes de mulheres sem apoio nenhum”, desabafa.A menina da rádio que foi “Rainha das Vindimas” no CartaxoRosália Amorim aproveita a hora de almoço de uma sexta-feira movimentada na capital para se sentar à mesa de um restaurante madeirense nas Amoreiras, em Lisboa, e conversar sobre o seu livro. Tem 35 anos e é a editora da revista “Exame”. Trabalha em Paço de Arcos e reside em Alverca. O tempo é escasso e tem que ser aproveitado ao segundo. Mas Rosália Amorim, mãe de dois filhos, esposa e profissional, sabe bem como o fazer. Não fosse a autora do livro “O Homem certo para gerir uma empresa é uma Mulher - Lições de 25 executivas que mandam nas grandes companhias em Portugal”.No seu dia-a-dia segue alguns dos conceitos que defende no livro. É preciso ter o marido certo e não fazer um erro de casting, diz com humor Rosália Amorim. “Foi uma expressão que ouvi durante as entrevistas”, justifica. O marido, pai dos seus dois filhos, Luís Lopes, é o editor de economia da Sic.Ter apoio familiar por perto é importante. “Ninguém consegue crescer sem se rodear bem. Estes termos aplicam-se na empresa e na família. Haverá sempre uma reunião ou uma viagem que aparece”.Na “Exame” trabalha com uma equipa de doze pessoas, seis das quais jornalistas. Mergulha diariamente entre dez a doze horas nas tarefas de editora e jornalista. A sogra, a quem também dedica o livro, é fundamental na sua “gestão” familiar.A jornalista nasceu no Cartaxo a 8 de Julho de 1974, na casa onde residem os pais, perto da escola secundária. Começou a carreira de jornalista na “Rádio Cartaxo” e colaborou com o jornal “O Povo do Cartaxo”. Representou a freguesia do Cartaxo no concurso “Rainha das Vindimas” e foi eleita primeira-dama.É à cidade natal que regressa por vezes ao fim-de-semana para visitar a família e levar os dois filhos – Rita de sete anos e Miguel de quatro – a passear na Quinta das Pratas. A qualidade de vida do Cartaxo melhorou, mas há espaços com fragilidades a começar pela própria quinta municipal “demasiado vazia para o potencial que tem”. Há melhores acessos, mas emprego pouco qualificado. “O comércio local está a atravessar uma fase muito dura”, analisa a jornalista de economia que confessa que adorava ir ao talho, paredes-meias com a casa da mãe.Maria da Luz Rosinha foi importante como “agente de mudança”Rosália Amorim é uma observadora atenta da realidade do concelho onde viveRosália Amorim nasceu no Cartaxo, mas reside há dez anos em Alverca que já é a sua terra adoptiva. A editora da revista “Exame” diz que já chega de expansão urbanística. Urgente agora é mexer no trânsito e lutar por manter o Museu do Ar na cidade – a grande referência histórica de Alverca.Vila Franca de Xira tem uma das poucas presidentes de Câmara do país. Que avaliação faz do trabalho de Maria da Luz Rosinha?Acho que foi importante ter uma mulher como agente de mudança. Como digo no meu livro as mulheres são muitas vezes escolhidas para romper com a realidade anterior. No caso de Vila Franca de Xira existia um passado ligado ao Partido Comunista e ao antigo presidente Daniel Branco, do qual as pessoas já estavam fartas. Maria da Luz Rosinha teve um papel importante de ruptura com o status quo e conseguiu mudar alguma coisa.Para melhor?Na zona ribeirinha, por exemplo, mudou para melhor. É um investimento importante para atrair as pessoas a morar ali. Mas há tanto ainda para fazer, que a missão não está cumprida.O que falta mais?Alverca devia ter uma ligação ao rio como há em Alhandra e Vila Franca de Xira. Devia existir um plano de ordenamento da zona com corredores verdes ou ciclo vias. A câmara esquece-se que Alverca é a maior freguesia do concelho, não sei se temendo a velha reivindicação de Alverca querer tornar-se concelho. Se retirarmos o tráfego do centro da cidade a qualidade de vida melhora porque a poluição também diminui.E ao nível da expansão urbanística? Alverca é exemplo disso...Expansão urbanística no centro da cidade chega. A antiga Mague, onde é hoje a Malva Rosa, não está habitada nem sequer pela metade. Preocupa-me outro aspecto. Nas zonas rurais [segundo o novo Plano Director Municipal] serão necessários dois hectares para construir. É imenso terreno. Só quem não sabe o que isso é pode fazer a imposição. Antigamente bastava um hectare. Isso deveria ser mantido para que os jovens aproveitassem os terrenos de avós e pais e viessem habitar as zonas rurais. Zonas como a Calhandriz ou como aquela onde vivo, entre Alverca e Arruda, na estrada do Sobralinho, estão a ficar desertificadas. Quem vai comprar dois hectares de terreno não tendo tempo para cuidar do espaço? Devia conter-se a construção na parte urbana e possibilitar a construção na parte rural.Acredita que o Museu do Ar ainda pode ficar em Alverca?Espero que o próximo presidente de câmara faça tudo para lutar por isso. A história de Alverca está ligada ao Museu do Ar. É lá que me lembro de ir desde pequena ver os aviões. É lá que os vou mostrar aos meus filhos. As próprias Oficinas Gerais de Material Aeronáutico fazem parte dessa realidade. É lá que estão os postos de trabalho qualificados. Empresas de construção civil e imobiliárias há às dezenas em Alverca. Sem o Museu, Alverca vai ficar amputada. Não me lembro de nada tão importante que funcione como marco para aquela cidade. De que sente falta em Alverca?Sinto falta de não conhecer as pessoas. Apesar de já lá estar há algum tempo é diferente do Cartaxo. Sinto fala de sair à rua e dizer bom dia e boa tarde. Como eu era da rádio toda a gente me conhecia. Hoje, de verdade, sinto falta da calma do trânsito do Cartaxo.O trânsito é um problema.O problema do trânsito em Alverca tem que ser resolvido. Seja quem for o próximo presidente da Câmara de Vila Franca de Xira tem de olhar para este aspecto porque o trânsito é caótico. A estrada nacional continua a ter todos os camiões que tem há décadas. Não há ainda a tal circular alternativa. Ainda por cima estão previstos mais investimentos que vão movimentar centenas de automóveis.Faz sentido um Centro Cultural como o que existe no Bom Sucesso sem um programa forte?A cultura deve estar ao alcance de todos. Acho é que tem que ponderar-se entre investir nesse e noutro tipo de coisas. Existem em Alverca escolas que são temporárias há décadas e um centro de saúde recente onde as pessoas não cabem e que tem umas varandas enormes que ninguém compreende porque existem. Os autarcas que tomarem posse na câmara e na junta têm que definir prioridades. Se em época de crise há menos dinheiro vamos fazer o que faz realmente falta: educação e saúde.E em relação à programação?É difícil defender para Alverca mais programas culturais quando as pessoas fogem para Lisboa ao fim-de-semana. É a dificuldade do suburbano. Onde vai ao fim de semana?Nos fins-de-semana adoramos ir à Calhandriz. Entrar lá é como entrar noutro mundo que está longe de Lisboa e do meu trabalho. Consigo desligar em absoluto e adoro ir àqueles restaurantes típicos. Lembra-me a quinta dos meus avós em Casais da Amendoeira [Pontével, Cartaxo]. Ia para lá aos fins-de-semana e nas férias. Passava lá um mês e quando a minha mãe ia buscar-me dizia que não queria voltar. Adorava andar à solta, perto dos animais, e tomar banho no tanque da rega.

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