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A furar a terra na busca do líquido mais precioso

Custódio Martins é sondador em furos de captação de água desde os 16 anos

Fazer furos de grande profundidade tornou-se uma rotina para Custódio Martins. A maior profundidade a que alguma vez sondou foi a 252 metros no lugar de Pego da Curva, Chamusca. Ricardo Carreira

Custódio Martins, natural de Almeirim e residente em Alpiarça, tem 43 anos e é sondador em furos para captação de águas. Após cumprir o serviço militar ainda esteve dois anos a trabalhar na construção civil, mas depois abraçou a profissão que hoje exerce e que foi aperfeiçoando ao longo dos anos. São cerca de 16h00 de quinta-feira, 1 de Outubro, e Custódio Martins está com outro trabalhador a fazer um furo num terreno a cerca de 150 metros do rio Tejo, nas proximidades da Chamusca. Chega-se ao descampado e já o barulho da máquina a furar a terra em busca de água se faz sentir. Um camião serve como estrutura de suporte e de funcionamento da vara e da broca que, em sistema de rotação e na vertical, vão entrando 15 a 20 metros terra adentro. A máquina é alimentada por gasóleo, a seis litros por hora.Ao lado do camião funciona um dos elementos essenciais à sondagem. Um tanque com dois metros de largura, quatro de comprimento e 1,5 metros de altura tem como função decantar a água que se capta para se avaliar a sua qualidade. O sistema é engenhoso. Dentro do tubo que a vara e a broca vão formando é injectada lama que o humedece. Simultaneamente, e com recurso a uma bomba, a água e detritos do subsolo são extraídos e encaminhadas para o tanque. Com um vulgar passador Custódio Martins vai aferindo a qualidade da água. “Se tiver muitos detritos, como madeira e cascalho, é porque serve mais para regas do que para consumo humano. Até porque nestas zonas da bacia do Tejo, em leito de cheia, os pesticidas da agricultura inquinam as águas”, diz Custódio Martins, justificando o seu uso apenas para as regas. A broca que está a furar tem obrigação de trabalhar bem. É encaixada na vara e possui um conjunto de três cabeças - cada qual com 31 centímetros de diâmetro - munidas de espinhos em aço, que vão desgastando tudo o que aparece pela frente, terra ou seixos. Para furos de largura maior existe ainda uma broca de 43 centímetros de diâmetro na camioneta, que pesa cerca de 200 quilos.Para poder trabalhar em furo, seja qual for a zona, é necessário obter o licenciamento da Administração da Região Hidrográfica do Tejo. Custódio Martins costuma trabalhar mais na zona da Chamusca, Alpiarça e Almeirim, mas também no Cartaxo. Fazer furos de grande profundidade tornou-se uma rotina. O mais fundo que Custódio Martins alguma vez sondou foi a 252 metros no lugar de Pego da Curva, Chamusca. Mas é costume fazer furos a 200 metros de profundidade e mais para alcançar os grandes lençóis freáticos das zonas de charneca que são preciosos para as regas agrícolas. “Os aspersores dos pivots de agricultura consomem grande quantidade de água. Há furos que dão muita água, chegam a dar 200 metros cúbicos de água por hora. Mas há pivots que gastam essas quantidades numa hora”, alerta Custódio Martins. Para si esse tipo de rega devia ser mais regulado, pelos grandes consumos que implica, e implementada a rega gota a gota. “Continua a haver muita água no subsolo mas nota-se que há cada vez menos”, acrescenta. Os furos que faz são maioritariamente com o objectivo de servir as regas da agricultura. Mas também faz furos em casas particulares, para pessoas que querem ter à disposição um poço para regar pequenas culturas, plantas e jardins, ou simplesmente água potável alternativa à da rede pública. Seja a 40 metros ou a 250 metros de profundidade, na bacia do Tejo ou na charneca, poucas são as diferenças do que se encontra e sai de tão fundo da terra. Junto ao Tejo encontra, madeiras, seixos e alguns fósseis de amêijoas, berbigão e esse tipo de espécies de moluscos. A excepção vai para as bolhas de gás natural, mais comum na zona de Valada, Cartaxo, formado pelas madeiras acumuladas no subsolo, que vêm à superfície quando o solo é furado.Questionado se nunca encontrou nada fora do comum, algo que pudesse ser valioso, Custódio Martins garante que não. “Nunca encontrei nenhuma pedra preciosa, mas se encontrasse também não lhe dizia”, graceja. Pode-se encontrar ainda os chamados furos artesianos nos quais a água que sai é projectada para a superfície, como acontece nos terrenos na zona de Ulme, Chamusca.O sondador diz que a vantagem para rega da água dos furos em relação à da rede pública de abastecimento se deve ao tratamento com cloros que estas últimas recebem e que não é adequada à rega de plantas e hortícolas. Quanto ao custo do investimento na sondagem e captação de água, Custódio Martins diz que depende de dois factores: “Depende do diâmetro da entubação do furo, se é mais largo ou não. Depois, um furo fica por 75/80 euros por metro de profundidade, mas os valores variam quanto mais fundo se for”, esclarece. O profissional diz que aprendeu e habituou-se a gostar do trabalho que desenvolve desde muito novo, também porque nunca está no mesmo local a trabalhar. Esta quinta-feira começou a trabalhar às oito da manhã e a jornada só acabou perto das seis da tarde. Concluído o trabalho de captação é altura de “encamisar” o furo. Retirar as ferramentas de furação, forrar com PVC e areão para compactar as paredes do furo e ajudar a filtrar as águas. Feito esse trabalho a água pode ser aproveitada, devendo ser extraída através de bombagem.Os furos que faz são maioritariamente com o objectivo de servir as regas da agricultura. Mas também faz furos em casas particulares, para pessoas que querem ter à disposição um poço para regar pequenas culturas ou simplesmente água potável alternativa à da rede pública.

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