Cesarina Teresa Lopes e Augusta dos Santos Caçador, ambas de 70 anos, são duas das habitantes da aldeia de São Torcato, concelho de Coruche, que conviveram na meninice com Fernando Salgueiro Maia, capitão de Abril nascido em Castelo de Vide e que cumpriu a instrução primária naquele lugar.Com a inauguração da Escola-Museu Salgueiro Maia no edifício da antiga escola primária da aldeia a 5 de Outubro, dia comemorativo dos 99 anos da implantação da República, rebuscaram no baú das memórias as brincadeiras e vivências com o pequeno Fernando. Não foi preciso grande esforço para se lembrarem do rapaz dois anos mais novo que ambas. Mas primeiro um esclarecimento: “Esta escola primária onde agora funciona o museu não foi aquela onde o Salgueiro Maia e nós andámos. A nossa era mais abaixo e tinha todas as classes. Foi criada por uma pessoa da terra que, em sua casa, montou uma sala enorme, um quartinho e uma cozinha para albergar tanta criança que havia na altura”, conta Cesarina Lopes. Era o tempo em que as famílias tinham muitos filhos. Na escola, havia alunos de lado nas carteiras e três em cada banco para dois. Fernando era um menino arisco. Brincava na escola e fora dela. “Era rebelde e traquinas, sempre na brincadeira. Já nessa altura se mostrava diferente dos outros, mais inteligente”, conta Augusta. Passava rasteiras e chocava com as colegas de brincadeira. Havia que aproveitar todo o tempo disponível. Afinal, dona Silvina, a professora da escola oriunda do Secorio, Santarém, e a sua régua grande e grossa eram implacáveis. “Dava na cabeça, no rabo, por todo o lado. Em casa a minha mãe não podia tocar-me na cabeça com tanto alto”, ri agora Cesarina. O pai de Salgueiro Maia era factor do caminho-de-ferro (funcionário ferroviário encarregado da escrituração de tráfego de bagagens e mercadorias) na estação de Canha. Passou para factor de segunda e passou a morar em S. Torcato, aldeia onde ainda foi promovido a chefe da estação. Salgueiro Maia viajaria para Tomar quando o pai para lá foi destacado e mais tarde para Santarém. Ricardo Carreira