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Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra quer mudar a história da comunidade em que nasceu

Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra quer mudar a história da comunidade em que nasceu

Instituição presta apoio a mais de 200 pessoas

A Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra quer mudar a história da comunidade onde está inserida. A Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), que nasceu sob o signo das misericórdias e se tornou hospital, hoje é um misto de lar de idosos com instituição de apoio social e auxilia mais de duas centenas e meia de pessoas, nas freguesias de Alhandra, Sobralinho e São João dos Montes. Apesar das dificuldades financeiras a instituição vai somando sucessos e continua a crescer.

À hora de almoço, pelas 13h00, são visíveis nos espaços comuns da Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra alguns dos efeitos do trabalho da associação, nos cerca de 124 utentes que alberga, em regime de internato. Na sala de fisioterapia, que também é adaptável às funções de sala de espectáculos, há ainda quem resista ao cansaço e exercite o corpo e a esperança. Artur Gonçalves, com a alcunha de “Quebra”, em homenagem ao seu pai, faz exercícios de braços, sentado numa cadeira de rodas, depois de já ter exercitado a perna que lhe resta. A diabetes levou-lhe o outro membro inferior, num momento em que gozava de uma saúde estável. “Já chego com os nós dos dedos ao chão e hei-de chegar com palma”, conta. A antiga glória do Alhandra Sporting Club dos anos 50 e 60, que chegou a disputar a II Divisão Nacional, está inscrita em todas as actividades e luta por recuperara a mobilidade, ali, e a visão, com as consultas em Coimbra. Ao lado, ainda antes de ir almoçar, uma idosa, Serafina, 78 anos de idade, recebe cuidados nas articulações de Mónica Ribeiro, fisioterapeuta. “Tinha imensa limitação ao nível da flexão dos dedos e estamos a estimular o trabalho de pinças, destreza manual. Agora sente menos dor, reagiu bastante bem, ao fim de um mês”. No andar de baixo, na zona do refeitório, os mais famintos já tomam a refeição. Cheira a frango guisado com arroz, e os idosos, na sua maioria, comem com satisfação. Francisco Ferreira, 86 anos, e Maria Helena, 80, não são excepção. O casal chegou ao lar da associação em datas diferentes, mas reuniu-se ao fim de um ano. “Ela teve já quatro AVC’s e veio para cá. Eu cheguei um ano depois e quase não me mexia. Agora, costumo fazer o percurso do passeio ribeirinho entre Alhandra e Vila Franca de Xira duas vezes por semana”, conta o idoso. A esposa, em cadeira de rodas, não o desmente. José Neto, provedor da Misericórdia, acrescenta números ao que é visível para os olhos. A associação presta apoio a 45 utentes em regime de centro de dia e apoio domiciliário a 25 idosos. O utente mais recente neste serviço começou a recebê-lo na última semana, tem 51 anos, e a sua família já não consegue dar o apoio necessário. Anabela Pilares, vice-provedora, conta o percurso da maior parte dos utentes internos. “Os familiares conhecem a instituição e como não lhes conseguem prestar todos os cuidados que são necessários, trazem-nos para aqui”. No caso do apoio domiciliário, que pode ser prestado uma ou mais vezes por dia a cada utente, o almoço que é feito é “sempre reforçado”, para alguém que possa dele necessitar no mesmo lar. O provedor explica, no entanto, que também fora da freguesia a instituição trava combates contra a estagnação. Em Trancoso, freguesia de São João dos Montes, a associação tem um lar, recuperado a partir de uma escola primária do tempo do Estado Novo, com 25 idosos. “Está algo deficitário, mas não há utentes suficientes para conseguir viabilizar uma modernização”, conta José Neto. O trabalho da Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra não se limita, no entanto, ao apoio aos idosos. Entre os seus utentes internos, a instituição conta com dois deficientes profundos e uma pessoa com problemas mentais graves. No terreno, e nas freguesias em volta, a organização apoia ainda 51 famílias, distribuindo com os seus meios os víveres do Banco Alimentar Contra a Fome. “Não é da nossa competência, mas fazêmo-lo porque gostamos de ajudar”, nota José Neto. A instituição conta, no seu corpo de funcionários, com dois médicos, nove enfermeiras, três fisioterapeutas, uma psicóloga, uma educadora social, uma nutricionista em part-time e duas assistentes sociais. Cuidado especial com a área da saúde não surge apenas da tradição clínica da instituição. “O nosso centro de saúde não daria escoamento a estes idosos. E de resto como seria se tivessem de ir para a porta do centro de madrugada, para marcar uma consulta de urgência?”, interroga Anabela Pilares. Muitos dos utentes vivem há mais de duas décadas na instituição. A mais idosa faleceu em 2008 com 106 anos. Para acolher cada vez mais utentes, a associação encontra-se em transformações. A transferência dos gabinetes da direcção do primeiro andar para o rés do chão e a instalação, em seu lugar de três salas para os idosos acamados receberem visitas pretende “dar mais conforto a utentes e familiares”. A zona das antigas capelas mortuárias que também pertenciam à instituição, vai ser transformada em gabinetes médicos e disponibilizada para aluguer. Em curso estão obras nas instalações sanitárias. Os projectos da associação evoluem ao longo dos anos, e tem vindo a resultar. “Só não temos a certeza de conseguir ter tempo para concretizar tudo o que pretendemos”, afiança José Neto. Finanças e dificuldadesGerir uma instituição de solidariedade social implica a gestão das verbas que são entregues pela Segurança Social. No caso da Associação do Hospital Civil de Alhandra, a situação é um pouco diferente. Em resultado de doações, ao longo dos anos, a instituição acumulou património imóvel. “Só com esses rendimentos, vamos conseguindo sobreviver e melhorar as condições para os utentes”, conta José Neto, o provedor. Proprietária do mercado municipal , a instituição assinou há vários anos um acordo com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira para a gestão do espaço pela autarquia em troca de uma renda mensal. O Teatro Salvador Marques, que também foi doado à Misericórdia, foi vendido à câmara e será, no futuro, uma biblioteca municipal. Habitações também doadas permitem a acumulação de algumas rendas. E o aluguer de espaços que dão para o exterior para consultórios tem sido outra das soluções para criar liquidez. Como resultado cada utente deverá pagar cerca de 775 euros, partes dos quais são cobertos pela Segurança Social, o que reduz a cerca de metade o que sai do bolso do idoso. O resto é financiado pela família. Mas são vários aqueles, que já sem família ou finanças para o pagar pagam mensalidades bem mais baixas. A gestão financeira da instituição assim o vai permitindo. “Espero que nunca chegue o dia de termos de ser inflexíveis como outras instituições do concelho porque a nossa missão é acolher os utentes”, nota o provedor, José Neto. De Misericórdia a IPSSA Associação do Hospital Civil de Alhandra nasceu em 1935, a partir da fusão da Santa Casa da Misericórdia de Alhandra (fundada em 1577) com o Hospital de Caridade de Alhandra, instituído em 1851 pela Marquesa de Subserra. A instituição, que na década de 30 prestava apoio hospitalar, com um cuidado já alargado aos idosos, foi evoluindo e em 1978 assumiu o estatuto de lar de idosos. Nos anos 80 passou a prestar assistência nas áreas de centro de dia e apoio domiciliário. A instituição, que já não se reveste hoje do carácter religiosos de outros tempos, conta com 500 sócios e tem o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS). Pelo trabalho realizado na freguesia de Alhandra, a instituição foi em 2007 agraciada com o galardão de mérito social pela Junta de Freguesia de Alhandra.
Associação do Hospital Civil e Misericórdia de Alhandra quer mudar a história da comunidade em que nasceu

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