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Municípios deviam ter regras básicas nos processos de construção iguais para todos

Municípios deviam ter regras básicas nos processos de construção iguais para todos

Presidente do Núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitectos em defesa da liberdade criativa

Rui Serrano considera que deve haver alguma abertura nos centros históricos para a construção de edifícios diferentes e modernos, porque a história de uma cidade é feita de estilos e de épocas diferentes.

O presidente do núcleo do Médio Tejo da Ordem dos Arquitectos considera que os municípios da região deviam definir regras básicas iguais para todos em termos de construção. Rui Serrano diz que actualmente a primeira coisa que um arquitecto tem que fazer antes de iniciar o projecto é tentar perceber o que se pratica na câmara onde vai entrar o projecto. “Perde-se tempo e castra-se muitas vezes a criatividade. As regras em Tomar são diferentes das de Abrantes ou Torres Novas, por exemplo. Uns pedem determinadas coisas e outros querem outras diferentes”. Rui Serrano explica que a ordem já tentou em conjunto com a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo compilar um conjunto de regras para todos os municípios desta sub-região do distrito de Santarém. Mas o projecto acabou por não ir avante. O arquitecto, de 36 anos de idade, considera ainda que tem havido falta e diálogo entre os técnicos e os municípios. “As câmaras municipais devem fomentar uma maior participação dos técnicos nos processos de construção de imóveis. Isto para evitar que muitas vezes um projecto tenha que ir quatro ou cinco vezes à câmara para apreciação”. O presidente do núcleo entende também que não tem sido dado atenção aos espaços públicos no sentido destes poderem capitalizar o surgimento de projectos de arquitectura de qualidade em seu redor. “Um espaço público bem projectado serve de estímulo para o surgimento de novos e mais modernos edifícios”. Ao nível da modernidade, Rui Serrano é da opinião de que não deve haver fundamentalismos em relação aos centros históricos das cidades médias da região. E não o choca o surgimento de casas com linhas contemporâneas, mais arrojadas, em núcleos com casas antigas. Para Rui Serrano a história das cidades também é feita de edifícios de várias épocas, de estilos arquitectónicos diferentes e que marcam determinadas épocas. “Falta ainda alguma sensibilidade a quem decide para perceber estas situações e saber até onde se pode ir”. E destaca que nem sempre faz sentido manter uma casa em determinada zona só porque tem por exemplo cem anos. A não ser que esteja inserida num conjunto urbanístico harmonioso que tem que ser preservado por diversas razões. “A arquitectura muitas vezes tem que criar rupturas, tem que marcar um virar de página”, justifica. Sobre o surgimento de habitações de linhas mais modernas, Rui Serrano diz que estas são necessárias porque marcam uma época, um estilo e ajudam à diversidade que deve ser uma cidade. E na região, diz, tem havido uma maior abertura para este tipo de arquitectura, tanto por parte de quem quer construir a sua habitação como dos promotores de urbanizações. Uma situação que se deve, acrescenta, a uma maior exigência das pessoas e a uma evolução cultural. Por outro lado, refere, “os arquitectos têm cada vez mais vontade de mostrar o que realmente conseguem fazer. E por isso tem-se registado uma evolução qualitativa”. Nota também uma vontade de alguns municípios que já passaram a fase do alcatrão e da construção de rotundas em terem os seus “edifícios notáveis”. Mas adverte que uma cidade não pode só ser feita de edifícios notáveis porque senão “tínhamos uma coisa disparatada”. Os habitantes e os que decidem também devem perceber que a arquitectura pode transformar o território. “Por vezes, a partir de uma marca arquitectónica geram-se dinâmicas económicas, turísticas e outras”. Rui Serrano defende que só há dois tipos de arquitectura, seja ela mais tradicional ou mais moderna. “A boa e a má”. E alerta. “O que é projectado e construído vai estar no local durante muitos anos e as pessoas terão que conviver com isso. Diz ainda que durante algum tempo para se cumprirem prazos e para se aproveitarem fundos comunitários, fizeram-se projectos à pressa. Uns sem um sentido e outros de má qualidade. “Houve coisas que se fizeram que depois não percebemos bem para que servem. São os chamados elefantes brancos”, diz o arquitecto que ressalva que essa situação tem vindo a mudar. A imagem das cidades e dos edifícios também é marcada por outros elementos com os quais os arquitectos têm que contar. As velhas antenas de televisão deram lugar às parabólicas, por exemplo. Agora chegam os painéis solares. Rui Serrano diz que tudo são desafios à imaginação. “é uma questão de adaptação. Hoje já é possível ter fachadas em paneis solares que não chocam e painéis dissimulados nos telhados, por exemplo”.
Municípios deviam ter regras básicas nos processos de construção iguais para todos

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