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Maria Manuela Alenquer

Maria Manuela Alenquer

54 anos, cozinheira, Vila Franca de Xira

Maria Manuela Alenquer é o rosto do restaurante “Sancho Pança”, em Vila Franca de Xira, a cidade onde nasceu há 54 anos. A cozinheira de profissão ficou desempregada há dez meses mas em vez de cruzar braços lançou-se na aventura de cumprir um sonho: abrir um restaurante. Gostava de conhecer o Oriente e as paisagens de Cabo Verde, mas o sonho imediato é ter mais tempo para ver o neto crescer.

Nasci na casa onde já nasceu o meu pai. Em Vila Franca de Xira, na travessa do Terreirinho. A família do meu pai é de cá. A minha mãe é oriunda da Beira Baixa. Tenho uma filha com 32 anos e um neto com dois. Sinto falta de ter mais tempo para estar com ele. Fiquei desempregada há dez meses. A empresa de restauração de Lisboa onde trabalhava começou a mandar os mais velhos embora. Apresentei um projecto ao Instituto de Emprego e Formação Profissional para criar o meu próprio emprego. Ainda não recebi o incentivo, mas não fiquei à espera disso. Há oito meses lancei-me. Mesmo em altura de crise. Costuma dizer-se que quem não arrisca não petisca. Tenho um pressentimento de que vai correr tudo bem. Estou arrependida de não ter feito isto há dez anos. Fui funcionária pública dos 17 anos 23 anos. Trabalhei na câmara municipal. Saí porque o meu primeiro marido foi para Seia e eu fui com ele. Lá tive as duas filhas. Uma, infelizmente, morreu há sete anos. Durante esse tempo não trabalhei. Tomei conta das minhas filhas. Quando se deu o divórcio, dezasseis anos depois, decidi tirar um curso. Na altura o que havia era hotelaria mas gosto do que faço.Quando trabalhava em Lisboa ia de comboio. Levantava-me às cinco da manhã. Chegava cá às sete horas da tarde. Via pessoas. Distraía-me. É um meio com mais movimento. Aqui sinto-me um pouco mais isolada apesar de conviver com os clientes. É totalmente diferente. Mas sempre tive este sonho. Ter um estabelecimento próprio. O restaurante já se chamava Sancho Pança. Decidi manter o nome. É engraçado. No meu restaurante ninguém passa fome. Tenho sempre a preocupação de saber se os clientes querem mais um pouco. Normalmente dizem que não porque servimos bem, mas há quem aceite. Hoje é um daqueles dias em que vou levar as refeições aos médicos no hospital. Tenho lombinhos de peixe com molho de camarão, bacalhau com broa à moda de Seia, mas também arroz de tamboril, arroz de polvo e polvo à lagareiro com migas.Trabalho das sete da manhã às onze da noite. Tenho pouco tempo. Nem à segunda-feira, dia em que fechamos, consigo ter tempo para mim. Tento arranjar duas horas para ir ao cabeleireiro. Não consigo fazer muito mais do que isso para já. Estou numa fase inicial e isto não está fácil. Tenho a ajuda do meu marido da parte da manhã. E à noite também. É segurança de profissão. Lá em casa é o meu marido que cozinha. Ele é um excelente companheiro e um excelente cozinheiro. Arruma a loiça, aspira, limpa o pó e passa a ferro. Foi o segundo amor da minha vida. Sou feliz com ele. Só o encontrei há oito anos. Tenho pena que não tenha sido há mais tempo. Mas é assim a vida.Costumo ler a Bíblia. Isso dá-me força. Dá-me alento. Sou uma pessoa crente em Deus. Deito-me por volta da uma ou duas horas. Há dias em que consigo ver um filme. Gostava de ir ao Oriente. E depois, se pudesse, fazia uma outra viagem a Cabo Verde. São sonhos a realizar. Se Deus me der vida e saúde – tenho fé de que isto vai em frente – quem sabe se não vou a um desses sítios. A minha filosofia de vida é lutar e nunca desistir. Vou batalhar sempre para conseguir os meus objectivos. Ana Santiago
Maria Manuela Alenquer

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