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O carro da polícia que veio de Moçambique e que trabalhava a corda

O carro da polícia que veio de Moçambique e que trabalhava a corda

O presidente da câmara de Coruche ia para o baile depois da consoada

Havia a Missa do Galo e a Missada. Um convívio masculino em torno de comes e bebes que decorria numa adega ou no anexo da casa de um deles. Ricardo Carreira

Um carro da polícia que funcionava a corda, foi a melhor prenda de Natal recebida pelo presidente da Câmara de Coruche. Na altura Dionísio Mendes tinha oito anos e o brinquedo era uma réplica dos carros utilizados pelas forças policiais da África do Sul. Foi um tio que estava a cumprir o Serviço Militar em Moçambique que se lembrou de lho oferecer. “Era feito de lata, branco e preto, tinha luzinhas que acendiam. Fiquei deliciado com aquele presente”, conta.O carrinho ainda está no baú de memórias do autarca em casa dos pais. O mesmo não acontece com o comboio que também recebeu num outro Natal da sua infância, a que se dava corda para pôr em movimento. Desse apenas ficou a lembrança. O Natal do menino Dionísio Mendes era vivido no seio de uma família humilde – o pai era motorista e a mãe trabalhadora rural. “Recordo um Natal muito mais simples do que aquilo que é hoje mas havia grande expectativa em relação à passagem do dia 24 para 25. Montava-se a árvore de Natal que apanhava na charneca, fazíamos o presépio e colocávamos o sapatinho pendurado na chaminé. Embora não acreditássemos no Pai Natal, eu e a minha irmã acordávamos sempre cedo no dia de Natal, para ver que prendas estavam no sapatinho”, conta.As prendas não variavam muito. Um ou outro brinquedo, roupa e calçado. Camisolas, peúgas, umas botas novas e anos mais tarde, um fato de lã.Toda a ornamentação natalícia de casa era montada por Dionísio Mendes e pela irmã, a começar pelo pinheiro. Anos mais tarde surgiram as luzinhas de Natal. Para o presépio o musgo era apanhado nas zonas mais sombrias do Bairro da Areia e dos Foros de Coruche. Ainda se compunha o presépio com pequenas pedras, areia e até um espelho a fazer de lago. À mesa mandava a tradição. Na véspera de Natal, bacalhau com batatas e couves, comida vulgar na casa dos pobres. Os fritos também tinham lugar com os coscorões, filhós, velhoses e arroz doce. No dia de Natal era costume fazer galinha corada, ou peru assado. Apesar do clima religioso, os Natais eram tempo de festa e diversão. “Lembro-me dos bailes na Sociedade Recreativa do Bairro da Areia, que se realizavam na véspera de Natal, há cerca de 40 anos. Ceávamos em casa e íamos para o baile que, apesar de ser só para sócios e familiares, estava repleto de gente. E no dia de Natal ainda havia matiné”, recorda com um sorriso.Tradição era também a missada. Designação dada ao convívio masculino em torno de comes e bebes. Era um petisco ou jantar que reunia homens num anexo de casa ou adega com pratos de coelho, galo ou vaca, cozinhados por eles e regado com vinho novo.Dionísio Mendes não escapa à tradição de ofertar e receber prendas. “Dantes não se tinha esta perspectiva consumista nem se falava no Natal um ou dois meses antes, como agora”, diz.Os presentes que costuma dar são simbólicos e dirigidos aos familiares e às suas crianças. Reúne-se com os pais, filhos, irmã, sobrinhos, cunhado e primos. O local da reunião familiar vai alternando entre a sua casa, a dos pais e a da irmã. “Costumo ir para casa a partir das 16h00 ou 17h00 da véspera de Natal e estou com os familiares no dia 25”, explica.Como presidente de câmara tem diversas solicitações para participar em festas de associações e colectividades do concelho. “Dia 12 tivemos a festa dos trabalhadores da câmara, um almoço com baile com grande parte dos trabalhadores e os seus filhos. Homenageámos trabalhadores que se aposentaram no último ano e fizémos uma troca simbólica de prendas através de sorteio. Há também prendas adquiridas para os filhos dos trabalhadores até aos 12 anos”, conta. Apesar de ainda receber e dar prendas, Dionísio Mendes garante que nunca se vestiu de Pai Natal. Não por que não gostasse. “Os fatos é não me servem!”, assegura.
O carro da polícia que veio de Moçambique e que trabalhava a corda

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