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“O desafio para todos nesta época de abundância é partilhar com quem nada tem”

“O desafio para todos nesta época de abundância é partilhar com quem nada tem”

Paulo Fonseca receia que o exagero das prendas transmita às crianças uma ideia errada da vida

Paulo Fonseca, presidente da Câmara Municipal de Ourém, vive o Natal como uma oportunidade para, através da conversa amena à mesa, consolidar a ligação às pessoas que lhe são queridas.Cláudia Gameiro

Nos tempos de criança vibrava com o Natal. A prenda, apenas uma, vinha envolta em grande alegria e era-lhe conferido “um valor imenso”. Paulo Fonseca lembra que colocava o sapatinho debaixo da chaminé na noite de consoada e ia dormir com a esperança que o Pai Natal não se esquecesse dele. Hoje, comenta, os filhos já sabem com 15 dias de antecedência as prendas que, no plural, lhes cabem em sorte e estas não possuem mais aquele valor especial. Ao conversar sobre o significado actual do Natal e as suas tradições, o autarca sublinha constantemente os perigos da “super abundância”. Tudo isto, afirma, dá aos nossos filhos “uma ideia errada da vida”.Teria os seus cinco ou seis anos quando deixou de acreditar no Pai Natal. Decepção? “Não muita”, diz. No entanto, não deixa de salientar que “a ilusão do sonho é boa uma vez que dá alento à vida”. A realidade, aliás, “é filha do sonho” e “quem não sonha não está bem vivo. Está mais ou menos amorfo”. Não planeia a festa com antecedência. Vive “o dia no momento”, naquilo a que chama o “planeamento de circunstância”. “Carpe Diem” (Aproveita o dia), diz com entusiasmo. Até lá, vai cantarolando as músicas de Natal, sozinho ou com os filhos no caminho para a escola. E não se inibe de cantar no momento da entrevista, umas breves estrofes de alegria e paz numa entoação afinada. A ideia de esperança associada ao Natal só a sente na passagem de ano. “Nessa altura é que sinto aquela expectativa de “começar tudo de novo. Uma nova oportunidade de fazer melhor”.A árvore e o presépio são tradições que cumpre, considera-as componentes essenciais de um “conjunto de apetrechos para animar a criançada”. “Por um lado, há sempre uma imagem daquela criança que nasceu em grande humildade. Ao mesmo tempo, aquele colorido da época funciona actualmente como o sino que anuncia a chegada das prendas”. Paulo Fonseca destaca que seria “um desafio partilhar a mesa farta com quem não tem que comer”. E o que gosta de comer no Natal? “Um bom cabrito com grelos feito pela minha mãe que é a melhor cozinheira do mundo”, acompanhado por um bom tinto, responde prontamente. O dia de Natal, aliás, é passado em torno da mesa, numa “grande almoçarada em família”, a conversar até a noite chegar. No mundo actual, reflecte, conversa-se pouco, “há uma tentação de nos refugiarmos cá dentro. O diálogo ajuda-nos a consolidar a ligação às pessoas que estão à nossa volta”. Não vai à missa do galo. Paulo Fonseca hesita quando lhe perguntam o que gostaria de oferecer a si próprio. “Não sei, ainda não pensei nisso”, diz a sorrir. Depois pede algo completamente irrealista. “Gostaria de ver resolvido neste Natal o problema financeiro da Câmara de Ourém”. Para os munícipes que vivem tempos difíceis deixa uma mensagem: “Outros tempos melhores vão chegar”. Sobre o que o poderia fazer chorar nesta época não hesita. “A ideia de uma criança ou de um idoso a serem maltratados ou a passarem fome”.
“O desafio para todos nesta época de abundância é partilhar com quem nada tem”

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