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A tribo que manda no meu bairro

Vivo numa terra de comboios, onde comprei e restaurei uma casa antiga, num bairro simpático que conheço desde a infância, na zona norte da cidade, para aí viver tranquilamente, esperava eu. O sossego durou pouco tempo, até à chegada da tribo. A tribo vivia em tendas num terreno alheio, que se tornou um complexo desportivo, sendo por isso desalojada e generosamente instalada num bairro de casas sociais, próximo do meu, separado por uma rua e um jardim.O jardim tinha bancos, flores, árvores, um parque infantil e candeeiros de iluminação, como é habitual em quase todos os jardins. Nas noites quentes de verão, as pessoas ficavam ali “à fresca”, conversando.Aos poucos o parque infantil foi desmantelado, vandalizado, as flores pisadas, os ramos das árvores partidos, o piso em tijolos de cimento foi arrancado, os candeeiros de iluminação desapareceram, e as pessoas também. O local passou a ter outro tipo de frequentadores, que recebem subsídio de reinserção social, mas ostentam mercedes, bmws, carrinhas tamanho xl, que conduzem a alta velocidade. É ali o seu ponto de encontro e de comércio.Ignoram sinais de trânsito, estacionam em cima dos passeios, impedindo descaradamente a circulação, envolvidos numa música repetitiva, ruidosa, incomodando toda a gente, num desrespeito assumido e consentido. É também no jardim e nas ruas laterais, que trocam entre si pequenas encomendas a troco de dinheiro, um negócio ilícito mas escancarado aos olhos de quem passa.Os moradores desesperam e para evitar confrontos, fingem que ignoram, excepto quando o jardim se transforma em batalha campal, porque a tribo se desentendeu e chovem tiros, socos, gritos, ameaças, ajustes de contas.A tribo impõe-se sem escrúpulos, vivendo de expedientes obscuros, resguardados dentro dos seus carros de marca, alguns mal estimados porque não os ganharam, tanto de dia como noite fora, esperando os prováveis clientes, arrastando consigo os filhos menores que se iniciam no mesmo modo de vida, mal alimentados, invadindo os quintais das casas envolventes e espalhando lixo pelas ruas.A tribo não é uma ficção, mas um grupo específico de elementos duma etnia, que afrontam a lei, impondo os seus códigos de conduta com atitudes intimidatórias, rejeitando a integração na comunidade e contribuindo para a sua própria discriminação.Os moradores gostariam que as autoridades comparecessem de forma mais assídua, atenta, dissuasiva, de maneira a viverem de novo tranquilamente e em segurança, como é suposto num bairro de pessoas pacíficas, onde todos se conhecem e respeitam. Em vão. A tribo continua a marcar a sua presença e o seu estilo de vida. Quando merecerão as medidas adequadas que os enquadrem numa sociedade civilizada?Maria Sequeira

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