Não podemos ter ilusões. Em pequeno queria ser médico. Quando fui para o 10.º ano, em que já era necessário escolher parte do caminho a traçar, fiz a opção de Saúde. Depois, quando cheguei ao 12.º ano, abriu o ISLA em Torres Novas e, na altura, escolhi Gestão de Empresas. A medicina em Portugal é um espaço tão fechado e reservado que se torna complicado seguir. Todos nós quando somos pequenos temos um bocado de médico ou de bombeiro. Tirei o bacharelato em Torres Novas e a licenciatura em Santarém. Estava a fazer o estágio profissional no Cartaxo, vi um anúncio no jornal para esta empresa e decidi concorrer. Fui completamente desinibido à entrevista e aceitei o desafio que me foi colocado. Foi uma decisão de vida. Era uma área totalmente diferente daquela onde trabalhava e iria assumir uma grande responsabilidade. Comecei a trabalhar na Brifat (que pertence ao grupo Eco Edifica) no dia 2 de Fevereiro de 2000. Faço de tudo um pouco na empresa. E acho que deve ser assim. Comecei como gerente. Vim para cá porque a Eco Edifica precisava de alguém à frente disto. Quando se veste a camisola, veste-se a cem por cento. Lanço a contabilidade, que é conferida por um Técnico Oficial de Contas, lido com fornecedores e clientes, organizo e faço a gestão do pessoal, estou na balança mas já estive nas máquinas e na britadeira. É preciso é trabalhar. Acima de tudo, gosto muito do que faço.Normalmente, estou na empresa entre as sete da manhã e as seis da tarde. Moro em Torres Novas e venho todos os dias para Fátima. Sou católico mas não costumo visitar o Santuário. Levanto-me por volta das seis e dez da manhã. Não tenho problemas em acordar cedo. Tenho o telemóvel ligado 24 horas por dia.Se acordo a meio da noite já dificilmente consigo dormir. Começo logo a pensar nas coisas e o coração dispara. É difícil desligar. Ao domingo já começo a preparar a semana. Muitas vezes vou a conduzir mas em piloto automático porque estou a pensar que os camiões precisam de ir para ali ou preciso de fazer isto ou aquilo. Tiro férias quando posso. Estou cá há dez anos e penso que tirei uma vez quinze dias seguidos de férias. Se não estou cá, muito dificilmente alguém faz as minhas funções. Gosto de estar em cima do acontecimento. Se sou chamado à responsabilidade tento estar por dentro de todos os assuntos. Coordeno uma equipa de 12 pessoas. A empresa dedica-se à extracção e comércio de saibro, areia e pedra britada.Gosto de preparar as coisas com tempo. Penso que os portugueses falham muito porque fazem tudo em cima da hora. Quando há preparação, os custos são garantidamente menores. Não sou tão metódico no meu dia-a-dia mas apliquei este princípio na minha vida profissional. O meu lema é o trabalho. O trabalho fala por nós.Meço 1,97 m e joguei andebol em Torres Novas durante 20 anos. Era guarda-redes. Deixei de jogar há duas épocas. Comecei com 14 anos e ao longo dos anos éramos sempre os mesmos. Criamos laços de amizade muito fortes. Neste últimos anos alguns destes elementos foram saindo e tornou-se complicado para mim lidar com a geração mais nova. Sentia que não davam “cem por cento” à equipa como eu. Estava desiludido.Sou muito caseiro. Passo os meus tempos livres em casa com a minha filha ou fora de casa… com a minha filha. Estou sempre a pensar nela. É difícil tirarem-me de casa (risos). Penso em visitar Moçambique. É um sonho antigo e quero lá ir porque, apesar de não me lembrar, não deixa de ser o lugar onde nasci. Elsa Ribeiro Gonçalves