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“Se fosse mais fácil comprar carros em Espanha já não existiam concessionários em Portugal”

“Se fosse mais fácil comprar carros em Espanha já não existiam concessionários em Portugal”

Frederico Roque, administrador da Roques Vale do Tejo, fala sobre a crise e o sector automóvel

Frederico Roque é administrador do Grupo Roques, responsável pela área de negócio automóvel centrada na empresa Roques Vale do Tejo, que comercializa os veículos Renault no distrito de Santarém, Suzuki em Vila Franca de Xira e mais recentemente a marca Isuzu. Obteve recentemente a nomeação de oficina autorizada para a marca Nissan. Numa época de crise para o sector automóvel, Frederico Roque fala nesta entrevista das dificuldades desta área de negócio e o que fez para contrariar a crise, que levou a que este concessionário, um dos maiores do país, não tivesse grandes quebras.

O sector automóvel é dos que mais está a sofrer com a crise. Como é que o Grupo Roques está a lidar com a situação.O ano de 2009 foi dramático para o sector automóvel. O pior ano dos últimos 22 anos. Venderam-se menos 70 mil viaturas a nível nacional. Uma quebra de cerca de 26 por cento. Mas na nossa área conseguimos contrariar essa tendência, caíndo apenas três por cento. Como é que isso foi possível?Já lá vai o tempo em que quando apareciam as crises bastava esperar sentado que elas passassem que os bons resultados voltavam a aparecer. Hoje o negócio está em constante mutação e temos que ser muito activos para encontrar respostas rápidas. Quando vimos os problemas que outras empresas do sector perto de nós estavam a ter, arregaçámos as mangas, todos os 49 colaboradores, e apesar de termos vendido menos automóveis, aumentámos o volume de negócios.Ou seja, à custa da venda de carros de gama alta…Também. A quebra de vendas sentiu-se ao nível dos veículos comerciais porque as empresas se retraíram. Mas os apoios do Estado ao abate de veículos em fim de vida e a diminuição dos juros vieram incentivar a compra por parte dos particulares. E isto foi importante para não ter havido uma quebra maior.Portanto o Governo tem sido amigo do sector.Não tem sido muito amigo, apesar de ter reagido na altura à situação do mercado. Porque o programa de incentivos aos veículos em fim de vida vai ter benefícios mais reduzidos. Em 2009 podíamos abater uma viatura com oito anos e esse limite vai passar para dez anos. Estimamos que vão ficar de fora deste programa cerca de 25 por cento das viaturas. Concretamente o que foi feito para tentar combater os efeitos negativos da crise?Tentámos procurar outros negócios, outras marcas, de modo a compensar as perdas que íamos ter com a Renault. A Nissan nomeou-nos oficina autorizada da marca e nesta área o negócio, quer em reparações quer em venda de peças, está a decorrer acima das nossas expectativas. Outro bom passo foi também passarmos a distribuir a marca Isuzu.Diz-se que o sector automóvel é dos mais rentáveis…É um negócio de milhões mas de tostões em termos de lucros. Neste momento não se ganha dinheiro a vender apenas automóveis. Actualmente uma concessão tem associada quatro negócios, a venda de automóveis novos, a venda de usados, o pós-venda e a venda de peças. É um negócio encadeado. Cada um por si, isoladamente, não é rentável.Justifica-se que do preço de um carro novo mais de um terço seja para impostos?Por isso é que em Espanha um carro custa sensivelmente metade do que custa em Portugal. O que se cobra de impostos nos automóveis é uma fatia importante para o Orçamento de Estado. Mas isso prejudica não só as empresas do sector como os compradores. Se fosse mais fácil adquirir viaturas no país vizinho, se não existissem limitações, certamente já não existiam concessionários no nosso país. Espera-se que no ano de 2010 continue a crise no sector dos automóveis?Estou convencido que o ano de 2010 vai estar alinhado com o de 2009. Estamos conscientes da situação do país e não sabemos o que vai acontecer ao nosso sistema de saúde e à Segurança Social. Espero que o Governo esteja consciente que são necessários em alguns sectores outro tipo de apoios. Os automóveis sempre foram a ovelha negra dos negócios em Portugal, veja-se que o Governo tem vindo a agravar os impostos neste sector. É possível a um concessionário que tem que fazer investimentos avultados em instalações e tecnologia competir com os chamados stands de beira da estrada?Esses comerciantes vendem sobretudo usados. Mas um concessionário também compete com esses stands. Se calhar eles ganham mais dinheiro do que nós porque têm menos custos.O que é preciso para se ser concessionário de uma marca?É preciso cumprir um caderno de encargos em que a marca define tudo o que fazemos. Temos um controlo muito apertado, auditorias, somos visitados por clientes mistério que avaliam as condições. Todos os anos há implementação de novos projectos para melhorar a qualidade. Hoje representar uma marca obriga ao cumprimento de muitas e apertadas obrigações.A Roques chegou a ter stands em vários concelhos, que entretanto fecharam. Foi para reduzir custos?Tivemos que fazer uma redução de custos drástica para podermos sobreviver. Em algumas situações já não fazia sentido manter pequenos stands. Por exemplo, tínhamos um stand no Cartaxo e o cliente vinha a Santarém, à sede, porque era onde havia mais modelos em exposição. Mas temos ainda uma sucursal em Torres Novas que trabalha muito bem e temos três agentes em Tomar, Benavente e Alenquer.Os clientes já começam a pedir carros menos poluentes, como os híbridos, os eléctricos?De vez em quando as pessoas falam nisso. A Renault não tem carros híbridos, mas está a trabalhar arduamente nos carros eléctricos. Estamos a cerca de 18 meses de começarmos a comercializar o primeiro carro totalmente eléctrico em Portugal. O carro já foi apresentado a gestores de frotas e grandes clientes, como empresas do Estado. Vamos ter como modelos um carro familiar, um citadino e outro para trabalho, ou seja um veículo comercial. Uma empresa que começou há mais de oitenta anos com a camionagemA Roques Vale do Tejo é distribuidora da marca Renault para o distrito de Santarém, com excepção dos concelhos a norte de Tomar. É uma empresa que tem tido sempre uma génese familiar e que tem a sua sede em Santarém. Do grupo de empresas da família Roque fazem parte também as áreas de negócio do comércio e assistência a viaturas pesadas, a comercialização de equipamentos e acessórios para carroçarias de pesados, comercialização de equipamentos de limpeza urbana e veículos de transporte não poluentes, aluguer de veículos, entre outros. O grupo Roques é herdeiro do espírito empreendedor de José Roque Dias, natural do Fundão e funcionário da Carris em Lisboa, que em 1926 começou a revolucionar os transportes de passageiros da região, implementando uma carreira entre Santarém e Alqueidão do Mato. Fundou a empresa Roque e Alcobia, que viria a dar lugar à Camionagem Ribatejana. Em 1971 a Ribatejana tinha já uma frota de 70 autocarros que serviam a zona centro do país. Nesse ano a empresa é adquirida pela firma João Cândido Belo e Companhia. A família funda então, no mesmo ano, a empresa Roques Lda, vocacionada para a comercialização de viaturas, que tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos. O grupo Roques destaca-se actualmente no panorama do comércio automóvel nacional, cotando-se entre as mil maiores empresas nacionais e entre as 20 maiores do distrito de Santarém.
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