
Um parque de estacionamento na estação de Santarém para onde poucos querem ir
Passagem de nível sempre fechada à hora de apanhar o comboio e falta segurança
Do lado de Santarém o parque pago da Refer está sempre cheio apesar de ser pago, mas tem guarda. Os condutores não usam os duzentos lugares do outro lado da linha porque não conseguem ou porque receiam assaltos.
Manhã de segunda-feira, 22 de Março. 07h45. Estrada da estação de comboios da Ribeira de Santarém. O MIRANTE colocou-se, por uma manhã, na pele das pessoas que todos os dias têm que apanhar o comboio que as leva aos seus locais de trabalho e necessitam de deixar os seus automóveis nas imediações da estação.Quem chega mais cedo ainda consegue arranjar um lugar de estacionamento do lado de Santarém. Mas à hora a que O MIRANTE chegou à estrada da estação não restam muitas hipóteses. Ou o carro fica no parque privado ao lado da estação, com um custo diário de 2,50 euros, ou com um pouco de sorte o passageiro consegue apanhar a passagem de nível aberta, atravessa a linha e estaciona no parque gratuito que a Câmara de Santarém construiu há cerca de dois anos e que tem capacidade para cerca de duas centenas de viaturas. O parque municipal não é pago nem tem guarda. Frequentemente há carros que são assaltados ou vandalizados. E chegar lá exige grande disciplina em termos de horários, não havendo lugar para atrasos. Chegar um minuto mais tarde pode significar não apanhar o comboio pretendido. Quem pretende apanhar o comboio das 07h57, por exemplo, deve chegar, pelo menos, 15 minutos mais cedo. A cancela fecha às 07h53 e volta a abrir às 07h58, ou seja, já depois do comboio das 07h57 ter partido. Nesta altura é praticamente impossível atravessar a linha para estacionar o carro e conseguir apanhar os comboios das 08h06 e 08h13. A cancela fecha às 08h03, abre dois minutos depois, volta a fechar às 08h07, abre às 08h10 e fecha às 08h12. Até às nove da manhã, a fazer fé nos horários dos comboios, a passagem de nível abre e fecha dezena e meia de vezes. Os carros amontoam-se junto à cancela impedindo a passagem das viaturas pela estrada da estação. Se o trânsito à hora de ponta já era intenso neste local, nas últimas semanas agravou-se devido ao encerramento do troço da EN 114 que liga a ponte D. Luís a Santarém. As buzinas que se ouvem reflectem a impaciência dos condutores.Francisco Feliciano tem que apanhar diariamente o comboio das 08h13 que o vai levar ao emprego em Lisboa. Antes tem que deixar o filho de seis anos na escola. “É impossível deixar o carro do outro lado da linha. A cancela está quase sempre fechada e o trânsito acumula-se impedindo a circulação automóvel. Além disso, o parque, apesar de ser gratuito, não é seguro. É muito frequente os carros aparecerem vandalizados com os vidros partidos. Tenho sempre que deixar a viatura do lado de cá”, explica depois de estacionar o seu automóvel na berma da estrada nacional.A mesma opinião tem Felícia Apolinário que reside em Almeirim e todos os dias apanha o comboio para Azambuja, onde trabalha. “Ou colocam uma pessoa a vigiar o parque que está do outro lado da linha ou as pessoas vão continuar a estacionar do lado de cá, mesmo que fique mal estacionado. Além de não ser seguro é muito complicado conseguirmos atravessar a linha e apanharmos o comboio”, justifica enquanto corre para apanhar a composição que se encontra na estação pronta a sair.Parque pago tem lista de espera para avença mensalEnquanto o parque de estacionamento construído pela Câmara de Santarém tem mais de metade da ocupação livre às nove da manhã, o parque pago do lado de Santarém está lotado. A avença mensal custa 22,50 euros, com IVA incluído e dá acesso ao estacionamento 24 horas por dia. A tarifa diária custa 2,50 euros. E, segundo a funcionária, Fernanda Pombo, há uma lista de espera grande para adesão à avença mensal. Presidente da junta já propôs colocar um guarda no parqueVidro traseiro partido, pedras dentro do depósito do combustível, fusíveis partidos, porta traseira riscada e amolgada e o interior todo remexido. Foi desta forma que a esposa de Jorge Pessoa encontrou o seu automóvel na quarta-feira, 17 de Março, ao final do dia quando regressava do emprego em Lisboa. Rita Silva costuma deixar o carro na estrada da estação mas como já tinha sido autuada mais do que uma vez nos últimos dias preferiu jogar pelo seguro e estacionou o carro no parque grátis do outro lado da linha. Foi pior a emenda que o soneto, como diz o ditado.“Mais vale pagar as multas - custam 9,98 euros – por o carro estar mal estacionado mas não termos o carro vandalizado como aconteceu. Chamei a polícia que registou a ocorrência mas não apresentei queixa porque seria contra desconhecidos e dentro de um mês receberia uma carta a informar-me que o caso tinha sido arquivado”, explica Jorge Pessoa. O carro está na oficina há mais de uma semana e o prejuízo está avaliado em aproximadamente 500 euros. O sub-comissário da PSP de Santarém, Jorge Soares, fala da falta de meios e diz que sem queixas a polícia parte do princípio de que não há problemas. O presidente da Junta de Freguesia de Santa Iria da Ribeira, Fernando Rodrigues, disse a O MIRANTE que propôs à Câmara de Santarém a colocação de um funcionário no parque de estacionamento a vigiar o local. “O estacionamento podia ter um valor simbólico apenas para se pagar ao funcionário. Também propusemos a colocação de câmaras de vídeo-vigilância mas julgo que é mais complicado obter autorização. Mas temos que encontrar uma solução para o vandalismo que existe na Ribeira de Santarém. Não é apenas junto ao parque de estacionamento que existe vandalismo, infelizmente acontece em toda a localidade. Isto é coisa de gente má que não tem nada para fazer e diverte-se a destruir”, lamenta.

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