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“José Cardoso Pires adorava Vila Franca de Xira e Alves Redol”

“José Cardoso Pires adorava Vila Franca de Xira e Alves Redol”

Filha do escritor esteve na cidade a apresentar O livro “Histórias de Amor”

A filha de José Cardoso Pires esteve em Vila Franca de Xira para apresentar o livro “Histórias de Amor”, que o escritor publicou em 1952 e que foi depois censurado pela PIDE. Na sessão, partilhou memórias da vivência com o pai e recordou que Cardoso Pires adorava Vila Franca de Xira, o rio e Alves Redol.

O escritor José Cardoso Pires adorava a cidade de Vila Franca de Xira e era um grande amigo de Alves Redol. Quem o diz é a filha do escritor, Ana Cardoso Pires, que esteve no auditório da Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, na noite de 5 de Maio, a apresentar “Histórias de Amor”, a nova edição de um livro que a censura cortou em 1952.A filha do escritor diz recordar-se de várias tardes passadas em Vila Franca de Xira na companhia do pai, que fazia de tudo por uma boa conversa. “O Alves Redol era para o meu pai uma das pessoas mais importantes da sua vida. Ele tinha muitos amigos e era muito sociável, dava tudo por uma boa conversa e costumava parar muito em Vila Franca de Xira, no Café Central, por exemplo”, recorda Ana Cardoso Pires.A filha do escritor recorda um episódio caricato dos tempos em que a censura falava mais alto. “O Redol pediu-lhe uma opinião e só ouvia o meu pai a berrar-lhe: “Corta! Corta! Tens de cortar mais!”. E o Redol lá cortava mais umas páginas a muito custo”, partilhou com um sorriso.José Cardoso Pires, que nasceu em 1925 em São João do Peso, Castelo Branco, é considerado um dos nomes maiores da literatura portuguesa. Foi oficial da marinha mercante e jornalista. Viria a falecer em Outubro de 1998 em Lisboa. Algumas das suas obras mais emblemáticas são “O Delfim”, “Balada da Praia dos Cães” e “De Profundis, Valsa Lenta”. Amante de literatura, dispensava os computadores, aos quais chamava “máquinas de apagar”, reconhecendo neles como única vantagem a facilidade de poder apagar os excertos desejados sem necessitar de transcrever tudo de novo.Em 1952 publicou o livro de contos “Histórias de Amor”, que a PIDE censurou. José Cardoso Pires recusou publicar o livro com as censuras do regime e acabou por ser preso pela polícia política. O livro agora publicado reúne a obra original e sublinha em tons de cinzento as palavras e excertos que a censura cortou. Na apresentação da obra em Vila Franca de Xira estiveram os professores Rui Zink e Marcelo Oliveira. “É uma honra reencontrar Cardoso Pires com novos leitores em Vila Franca de Xira. Ele era um escritor que tentava sempre agarrar a realidade. Lança pontes e ganchos para agarrar o leitor. Não fazia literatura a litro, como alguns hoje fazem, e não ofendia a inteligência do leitor. É um romancista ímpar”, afirmou Rui Zink.Para o professor Marcelo Oliveira o Neo-Realismo teve um papel importante na transformação do romance a partir dos anos 50 e José Cardoso Pires bebeu dessa influência. O debate abordou também as diferentes formas de censura da época, com Rui Zink a ironizar o facto de palavras como “nu” e “suado” serem alvo de cortes. “Isto permite também entrar na cabeça do censor, que cortava tudo o que ofendesse a moral e bons costumes. Por exemplo, os beijos no Estado Novo não podiam ter saliva, nem as mulheres ter pernas belas”, afirmou. A sessão foi organizada pela Cooperativa Alves Redol e pela Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo.
“José Cardoso Pires adorava Vila Franca de Xira e Alves Redol”

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