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Observador Manuel Serra d’Aire

Escrevo-te ainda atordoado pela noite mal dormida de domingo para segunda. Nunca pensei que um casamento pudesse causar tanta perturbação ao meu sono. E devia ser um casamento dos grandes porque estive a ouvir buzinas durante horas enquanto procurava entrar no sono. Que coisa estranha esta de se fazerem casamentos aos domingos à noite! É nestes momentos que gostava de ter o vocabulário do Moita Flores, que tu tanto aprecias, para expressar o que sinto e desancar nos foliões que não deixam descansar um pacato e laborioso cidadão como o que se assina. Hoje, 13 de Maio, o tema é incontornável. Tenho de falar de milagres recentes. E não são de Fátima. Um deles foi aparecerem defensores do regime de Salazar a cascar no 25 de Abril numa assembleia municipal da região. Que se ouçam velhotes no banco de jardim a suspirar pelo “Botas” de Santa Comba ainda se compreende. Que muitos portugueses o tenham escolhido num concurso como maior português de sempre, aceita-se tendo em conta o nosso grau de exigência e a nossa iliteracia. Mas ouvir saudações ao regime salazarento num órgão do poder local democrático, acho eu que só mesmo por milagre. E mais: quem defendeu o famigerado ditador não foi nenhum reformado saudosista, nenhum antigo militante da Legião Portuguesa, nenhum antigo dirigente da União Nacional. Não, quem fez a apologia do antigo regime foram dois jovens. E ainda dizem que a nossa juventude não liga nada à História e às coisas do passado. Dois jovens que, obviamente, pelo pundonor exibido mereciam ter vivido esse tempo glorioso do Império. A justiça divina é realmente difícil de compreender…Mas o mais miraculoso desta história toda é o onde. Onde é que isso se passou. Na beata Ourém? Não! Na conservadora Ferreira do Zêzere? Negativo! Precisamente no local mais improvável: em Coruche. É precisamente no outrora bastião vermelho que agora florescem politicamente dois jovens eleitos que sabem muito dos tempos do antigamente. Não apareceram a nenhum guardador de gado em cima de um sobreiro, mas partilham com a Virgem Maria o mesmo anti-comunismo primário que, ao que dizem os entendidos, contribuiu decisivamente para a queda do Muro de Berlim. E além disso, tal como o saudoso “Vasquinho da anatomia” sabia o que era o esternocleidomastoideu, também estes sabem coisas que nos escapavam e que me deixam estarrecido. Como o da economia do país crescer à época de Salazar 6 por cento ao ano. O Sócrates que ponha os olhos nisso e que peça ajuda ao Salazar através da médium que actua na TV, para ver se acaba com o défice.Aliás, “Para Angola e em força!” devia ser a palavra de ordem já amanhã, depois de o Papa se pôr ao fresco com o avião carregado de prendas que não faço ideia a quem, e para que, vão servir. São estes pequenos detalhes que me divertem. Não temos dinheiro para mandar cantar um cego, mas não perdemos uma oportunidade para fazer figura. Felizmente desta vez ninguém se lembrou de oferecer um rinoceronte ao homem, porque ia ser uma chatice tratar de um bicho daquele porte no Vaticano…Um hossana do Serafim das Neves

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