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Os voluntários que ajudam os peregrinos

Luís Botelho faz parte dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima há 42 anos

Associação laica actua em Fátima desde 1917, ano das aparições. Presta apoio aos peregrinos em várias áreas, desde a saúde às informações.Cláudia Gameiro

Luís Botelho é Servita em Fátima há 42 anos, a segunda de três gerações na sua família. Pessoas que se dedicam, voluntariamente, a servir os peregrinos que chegam ao Santuário de Fátima, em áreas que vão desde os cuidados médicos às informações. O modelo desta associação laica, os Servitas de Nossa Senhora de Fátima, possui algumas ligações à congénere de Lourdes, em França, mas nasceu em Fátima logo em 1917, no ano das aparições. “Quando se faz o juramento de Servita é para a toda a vida”, destaca Luís Botelho, morador em Torres Novas, notando a forte ligação que o grupo tem à Igreja. “Não é um sacramento”, refere, mas anda lá perto.Um dos fundadores dos Servitas de Nossa Senhora de Fátima foi Carlos Mendes, médico de Torres Novas que desde muito cedo acompanhou o fenómeno mariano na Cova da Iria e chegou a transportar os pastorinhos ao colo até à azinheira. Assim, logo em 1917 houve um conjunto de pessoas da região (Batalha, Leiria, Torres Novas) que voluntariamente dispuseram do seu tempo para ajudar os peregrinos que acorriam a Fátima. A associação dá aqui os primeiros passos, unindo homens, mulheres, médicos, no auxílio aos que visitavam o lugar.A actuação deste grupo de voluntários era muito semelhante aos Servitas de Lourdes. Assim, em 1924, o Bispo de Leiria pede para que se crie concretamente uma organização. Primeiro formou-se a Associação de Servitas Homens, depois nasceu uma instituição feminina, mas “hoje está tudo unido”, esclarece Luís Botelho, actual chefe de secretaria dos Servitas. Esta é uma associação laica, mas está intimamente ligada à Igreja, dependendo do bispo de Leiria/Fátima e actuando sobretudo no Santuário de Fátima. A função dos Servitas, esclarece Luís Botelho, é o “apoio aos peregrinos de Fátima”. Existem várias áreas de intervenção: posto de socorros, lava-pés (tratamento de pés e joelhos), admissão à bênção (doentes que pretendem ir à bênção do Santíssimo), retiro de doentes, confissões, informações e serviço de recinto (organização das procissões). Obediência ao bispo e ao Papa “A nossa função de ajudar os peregrinos passa por uma obediência ao Bispo e ao Papa”, destacando que o candidato a Servita tem que seguir os preceitos da Igreja Católica. Até há cerca de 30 anos, a introdução neste meio era feita por candidatura seguida de estágio e, por fim, o juramento de Servita, vitalício. Hoje, o sistema encontra-se bem mais exigente. Enquanto Servitas são todos iguais. Por tradição, as mulheres, em serviço, usam bata branca e véu com uma estrela azul, exibindo no peito a Cruz de Cristo. É a ideia de serviçal que sobressai, refere. Aos homens é exigido que usem correias, onde se encontra o número e o crachá com a Cruz de Cristo. Estas correias, diz Luís Botelho, surgiram do exemplo de Lourdes e serviam noutros tempos para ajudar a levar macas. Os homens não têm um uniforme específico. O responsável nota que existem casos de desistências e outros em que a direcção convida a sair. É um trabalho exigente e que requer muita disponibilidade, oferecendo-se fins-de-semana e férias, num regime que ocupa boa parte do ano. Mesmo assim, “há emigrantes em França que vêm de propósito” cumprir a presença em Fátima, sublinha.“Hoje há mais falta de respeito”Em 42 anos de serviço, Luís Botelho recorda como bons momentos “todos aqueles milagres de conversão que temos visto em Fátima”, de pessoas que “conseguem encontrar um novo rumo na vida”. “Há pessoas que pura e simplesmente vêm de lá mudadas”. Para os Servitas, comenta, “não existem coisas menos boas”, ainda que algumas grandes chuvadas dificultem por vezes o trabalho. Por outro lado, “antigamente via-se peregrinos espontâneos, que dormiam no Santuário”. Hoje, as pessoas estão mais exigentes, a formação mudou, querem mais direitos e “há mais falta de respeito”.Registou-se ainda uma certa mobilidade dos Servitas, que hoje habitam quase todos em Lisboa ou no Porto. Luís Botelho não sabe explicar a razão, mas a região de Fátima perdeu muitos dos seus voluntários. Este 12 e 13 de Maio vão estar na Cova da Iria 307 Servitas e mais de 50 escuteiros do Corpo Nacional de Escutas. “Somos peregrinos dos peregrinos”, refere sorrindo, um comentário que os Servitas costumam usar entre si. “É cansativo, mas não se ouve ninguém a queixar”. Um meio quase familiarA chegada aos Servitas revela a natureza quase familiar da associação, uma vez que em muitos casos os candidatos surgem por terem familiares ou amigos no meio. O preenchimento da ficha de inscrição tem que incluir o nome do médico assistente e do director espiritual do candidato (o confessor, por exemplo). Para a pessoa passar à fase seguinte tem que ficar assim comprovado que possui “um comportamento cívico e segue as leis da Igreja”. Há então uma entrevista e depois cinco anos de formação, que inclui uma peregrinação de Santarém a Fátima “para sentirem a disposição dos peregrinos”. Após este período, são apreciados pela direcção, que decide se o candidato faz ou não o juramento, tornando-se Servita. “É quase um sacramento”, comenta Luís Botelho. Para exercer este ofício é necessário “querer trabalhar com os peregrinos e ter o coração aberto para receber Maria”, com total disponibilidade e dedicação.Existem actualmente perto de 500 Servitas, mas apenas cerca 300 são efectivos, obedecendo a um calendário de presenças obrigatórias no Santuário. Os restantes encontram-se em regime de inactividade temporária (não podem ir a Fátima com regularidade devido a algum impedimento) ou em regime especial (possuem mais de 70 anos e, por tal, não são obrigados a cumprir as presenças). A idade mínima de entrada é aos 17 anos, a máxima aos 50, com excepção feita aos médicos e enfermeiros, uma vez que existe falta desses profissionais. Há todo o tipo de profissões no meio e membros de todas as idades. “Somos apenas exigentes com a vivência espiritual, a entrega ao peregrino e à mensagem de Fátima”, explica Luís Botelho.

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