Disseram-me que está de férias mas encontro-o a trabalhar… Por gosto ou por obrigação?A minha esposa diz que tenho alergia às férias e é verdade. Fui na terça-feira, 3 de Agosto, com a família para o Algarve. Quando lá cheguei soube que havia aqui um grande incêndio e a minha vontade era regressar. Custou-me bastante saber que o concelho estava a arder e eu estar fora mas deram-me indicações que as coisas estavam minimamente controladas e acabei por ficar mais uns dias. Aliás, era para ir de férias na segunda-feira, 2, mas como sabia que vinham aí umas pessoas falar comigo por causa de problemas que estavam a ter com falta de água, adiei a minha ida por um dia. Queria estar aqui para as receber porque acho que, nestas alturas, temos que dar a cara. A que se deve esse problema no abastecimento de água em algumas freguesias?Tenho estado em contacto com a empresa “Águas do Centro” porque tem existido um défice na entrega de água que precisamos para gastar em alta e isso está-nos a desequilibrar as outras redes de abastecimento. Mas o problema já está estabilizado. Isto já não acontecia há três anos. Estamos a fazer a monitorização da água da rede a cada hora. O que aconteceu foi que os picos de consumo subiram imenso e não há capacidade de fornecimento em alta. Temos muita água no rio mas é preciso bombeá-la e tratá-la. Há uma percentagem de roturas mas são os picos de consumo elevado que geram esta situação. Há casos de pessoas que gastavam 4 ou 5 metros cúbicos mas que neste mês gastam 25 ou 30 metros cúbicos. Estão a gastar cinco vezes mais. Isto passa-se, sobretudo, porque os emigrantes quando regressam vão logo lavar a casa, encher a piscina ou regar o jardim.E o que é que a autarquia pode fazer para resolver este problema sazonal?No caso de Chãos, na freguesia de Areias, vamos ter que construir depósitos para armazenar água. Se a “Águas do Centro” não consegue fornecer água suficiente para a água quente sair das torneiras temos que ser nós a conseguir. Pensamos que, com esta solução vamos resolver em 95% os casos de falta de água. É ponto assente.Os incêndios são outro problema que fustiga muito o concelho de Ferreira do Zêzere.Acredito que 95 por cento dos fogos acontecem por negligência ou são ateados por criminosos. O problema é pior porque se foi permitindo a construção de casas por lugares dispersos e a prioridade dos bombeiros é defender as pessoas e os seus bens. A floresta acaba sempre por ficar em último lugar. Só na semana passada tivemos 500 hectares ardidos. Quem anda no mundo dos bombeiros conhece “a regra dos trinta”: com mais de 30 graus, menos de 30 por cento de humidade e vento com mais de 30 quilómetros não há muito que se possa fazer a não ser tentar defender a vida das pessoas. Foi vice-presidente no último mandato, liderado por Luís Ribeiro Pereira. Agora é presidente da Câmara. Sente muita diferença?É mais fácil ser presidente do que vice-presidente. Porque no cargo de vice-presidente nem mandamos tudo, nem mandamos nada. Andamos sempre no fio da navalha. O presidente toma as decisões e ponto final. Quais são as prioridades para o seu mandato?A nossa prioridade é a prioridade de sempre. As pessoas. Felizmente, os equipamentos estruturantes estão praticamente construídos. Falta-nos resolver o problema do saneamento básico e um Pavilhão Multiusos que é uma das prioridades para os próximos quatro anos. Mas, nesta altura de crise, a grande prioridade passa por cuidar das pessoas. Temos que tomar conta dos nossos idosos e das nossas crianças, que são os mais negligenciados pela sociedade. E que medidas já tomaram nesse sentido?Desde o início do ano que estamos a pagar as refeições a todas as crianças do jardim-de-infância e 1.º ciclo. A todas. Não há escalões. Não devemos deixar de dar só porque não apresentam o papel necessário porque têm dificuldades em consegui-lo. E no próximo ano lectivo, vamos pagar os livros a todas as crianças (também do ensino básico e 1.º ciclo) Acreditamos que estas medidas podem trazer mais pessoas ao concelho e, deste modo, podemos combater a desertificação. Se os pais sabem que não vão ter que pagar refeições e livros, pelo menos até aos filhos acabarem o primeiro ciclo, podem encarar isso como um atractivo. Para os idosos, para além de todas as vantagens que beneficiam com cartão do idoso, queremos criar um serviço chamado “A Oficina do Idoso” que é uma viatura que vai a casa deles reparar a tomada avariada ou desencravar o estore. No fundo, vamos fazer o pequeno biscate que ninguém quer fazer porque não compensa monetariamente. Temos que ser cada vez mais solidários com os idosos. Em Ferreira do Zêzere temos um problema do duplo envelhecimento: das pessoas que cá vivem e das que emigraram e que agora regressam à terra natal para gozar a reforma. Como é que está o processo da Casa da Quinta do Adro, que pretendiam transformar numa unidade hoteleira?Está bem encaminhado. Estamos a falar de uma casa centenária, no centro da vila, e queríamos recuperá-la para turismo. Neste momento, já encontrámos o parceiro privado ideal que vai avançar para a recuperação deste solar, com apoios comunitários, e fazer a sua exploração por um período de 50 anos. Estamos a falar de um investimento superior a um milhão de euros.Ter o Tony Carreira a actuar no evento que se aproxima revela que a estratégia da autarquia passa por uma aposta forte na divulgação do concelho?O nosso objectivo é preparar uma festa para acolher os nossos emigrantes e dar-lhes as boas-vindas neste período de férias. A Feira dos Petiscos era em Julho e, por norma, os emigrantes regressam em Agosto pelo que decidimos juntar duas festas: a Feira do Petisco e a Festa do Emigrante. Optámos pelo artista Tony Carreira porque queremos dar a conhecer o concelho de Ferreira do Zêzere também a pessoas que vivem perto de nós, como de Tomar ou do Entroncamento. Queremos que venham ver como esta vila está bonita, bem cuidada e Tony Carreira é um óptimo chamariz. Esperemos que este investimento fique cá na mesma. Não nas mãos da câmara mas das nossas associações que participam com as tasquinhas. Esperamos ter neste concerto entre 12 a 15 mil pessoas. Temos eventos todos os meses mas decidimos fazer um evento, nesta altura do ano, de importância regional. Não quer dizer que seja sempre dedicado ao emigrante. Pode ser dedicado aos jovens, por exemplo. Mas vão ser sempre artistas sonantes do panorama musical português. DePe.NiCar: Uma feira de petiscos com Tony Carreira a actuarSopas tradicionais, broa de milho com cebola, petingas albardadas, carapaus de escabeche, peixinhos da Horta, saladas de bacalhau, enchidos, achigã preto, fatiado à camponês, pataniscas, moelas grelhadas, ovos cozidos, bolos secos, vinho regional, tigeladas de Ferreira do Zêzere e outros doces regionais, são alguns dos pratos que constam da ementa que pode DePe.NiCar, a 13, 14 e 15 de Agosto em Ferreira do Zêzere. O evento é animado com uma grande variedade de música mas o palco que vai ser montado no campo de futebol recebe no domingo, a partir das 22h30, Tony Carreira, fenómeno do panorama musical português. Um concerto assegurado pela autarquia que considera a actuação do artista um “investimento” dada a quantidade de visitantes que vai atrair nesse dia. “Esperamos, com esta iniciativa, contribuir para que todos os residentes e visitantes passem de forma animada e descontraída as noites de Verão, mas é também um excelente pretexto para quem não conhece o concelho, aproveitar a ocasião para apreciar a beleza das praias fluviais do Zêzere”, salienta Jacinto Lopes, presidente da autarquia. Os bilhetes custam 2,5 euros e podem ser adquiridos na Tesouraria da Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere, entidade organizadora, nas Juntas de Freguesia do concelho, nas tasquinhas da Feira e em qualquer estação dos CTT, de norte a sul do país. Para os mais pequenos, vai ser preparado um espaço com insufláveis, junto às tasquinhas, para que também eles possam desfrutar da Feira e das noites de Verão com diversão adequada à sua idade.Um autarca que gosta de fazer contas de cabeça e praticar Tiro aos PratosNatural de Ferreira do Zêzere, Jacinto Manuel Lopes Cristas Flores, 42 anos, é casado há 17 anos e tem um filho adolescente. Começou a trabalhar aos 19 anos, como técnico oficial de contas e aos 25 anos, sempre em actividade laboral, decide ir tirar a licenciatura em Gestão de Empresas, curso que termina cinco anos depois. É um presidente virado para as pessoas e que interrompe as férias pelas pessoas. Prefere ser tratado por Jacinto Lopes apesar de Flores ser o último nome. Apesar de dedicar todo o tempo que tem à actividade autárquica – “Quando não estou a trabalhar, estou a trabalhar”, afirma. Admite que gosta de descomprimir a fazer “tiro aos pratos”, jogo onde o praticante tenta acertar no maior número de pratos que são lançados ao ar, mostrando habilidade e pontaria. Esteve dois anos sem atirar mas há 15 dias voltou a experimentar a sensação. Adepto das novas tecnologias, passa algum tempo a navegar na internet. E como gosta de matemática aplicada, confessa que passa muito tempo a fazer contas de cabeça.Militante do Partido Social Democrata e actual presidente da concelhia, é vereador na autarquia de Ferreira do Zêzere desde 1993, altura em que foi convidado por Luís Ribeiro Pereira, autarca social democrata que liderou os destinos da autarquia ferreirense durante quase vinte anos, “para trabalhar sem tempo uma vez que tinha começado a sua actividade empresarial que não podia abandonar”. Identificou-se com as suas ideias, de tal modo, que trabalhou com ele quatro mandatos seguidos. O segundo a meio tempo e os dois que se seguiram já foram a tempo inteiro, tendo desempenhado no último o cargo de vice-presidente. Candidato pelo PSD, nas últimas eleições autárquicas ganhou com maioria absoluta. Tomou posse a 30 de Outubro e assumiu como grande prioridade trabalhar para melhorar a qualidade de vida das pessoas. O concelho de Ferreira do Zêzere tem nove freguesias e 9.170 habitantes.