Antigo músico quer recuperar Banda de Santarém
Pedro Correia é de Santarém, formou-se como maestro e quer ajudar a retomar uma actividade cessada em 2004
Um antigo músico da Banda de Santarém quer recuperar a actividade perdida de uma colectividade com 116 anos de história que, pelo menos desde 2005, não evidencia qualquer dinamismo conhecido. Pedro Correia entregou na Câmara de Santarém um projecto de recuperação da actividade da banda bem como do seu património, que inclui instrumentos e fardas, mas recebeu da autarquia informação de que só depois de reactivada a colectividade poderá ser apoiada. Pedro Correia, 37 anos, ingressou na Banda de Santarém quando tinha sete anos por influência do pai e do irmão que lá tocavam. Aprendeu a tocar trompa e saiu, para regressar anos mais tarde, com 19 anos. Depois de voltar a sair da banda nunca mais soube do seu destino. Apenas sabe que há anos a esta parte a banda está moribunda e sem qualquer actividade. “Acho incrível como é que em Santarém, capital de distrito, uma banda centenária pára a sua actividade e ninguém se empenhe em recuperá-la”, comenta o músico. Pedro Correia tentou contactar antigos dirigentes mas tem poucas informações. No arquivo distrital estão guardados instrumentos e fardas. O músico, que se formou no Conservatório de Música de Tomar, é maestro da Banda de Paialvo, nesse concelho, e quer ajudar a retomar a actividade da banda com músicos e criar uma escola de música.O edifício sede de antiga banda, propriedade municipal, funcionou entre os números 12 e 16 da rua Miguel Bombarda. Continua intacto e está ocupado por dois agrupamentos teatrais – Teatrinho e Centro Dramático Bernardo Santareno, devido às obras no palácio João Afonso. Para o vereador com o pelouro da cultura na câmara, Vítor Gaspar (PSD), não pode ser a autarquia a suportar o ressurgimento de uma banda, com custos muitos elevados para aquisição de fardamento e instrumentos, situação para a qual diz não ter meios nem vocação. “Se aparecer um grupo de pessoas organizado, com vontade, que apresente um plano de actividades, estaremos nessa altura presentes para dar o nosso apoio”, refere Victor Gaspar.Uma história centenáriaJoaquim Martinho da Silva, advogado jubilado, foi dirigente da Banda de Santarém no último ano de actividade, onde chegou por influência de Vasco Duarte, seu sogro e presidente da Banda dos Bombeiros durante vários mandatos. “Vivíamos uma época em que não havia escola de música. Quem estava ligado à música provinha de diversas profissões e tinha interesse em aprender. Mas sem escola de música não tínhamos matéria-prima para alimentar a banda. Por isso chegavam músicos do Cartaxo e do norte do concelho”, recorda Martinho da Silva. Que se lembra como a banda costumava ter actuações dentro e fora do concelho e em épocas festivas, como o dia de S. José. O ex-dirigente conta com vários documentos alusivos a anos antigos da banda. Fotografias de há décadas e um documento curioso de 1871. Um diário de baptismos, óbitos e outros acontecimentos relevantes à época, escritos por Maxeminiano Ignacio Gomes, referente à freguesia de S. Nicolau, aos quais assistiu na qualidade de padrinho. Em Maio de 1894, o padrinho descreve os festejos realizados, nos quais marcou presença Alexandre Herculano, com a presença dos grupos Música dos Artistas, Banda 1.º de Dezembro, Banda 18 de Maio, Academia Bellini, Sociedade Recreativa Ribeirense, além da Banda Real dos Bombeiros Voluntários da cidade, durante a inauguração da praça de touros da cidade.Aponta-se como um dos problemas da paragem da Banda a falta de elementos na escola de música que alimentasse a banda, além dos apoios à sua acção. Curiosamente, num jornal comemorativo do 75.º aniversário, editado pela banda em 30 de Novembro de 1969, já se falava da falta de músicos para integrarem o grupo.Banda de Santarém foi o último de quatro nomes adoptados A Banda de Santarém foi fundada em 6 de Janeiro de 1894. Outro conhecedor da matéria é Mário Marcos. Integrou as direcções de 1992 e 1994, onde Ladislau Botas chegou a participar como tesoureiro. O ex-dirigente, estudioso da história da banda, recorda como a entidade teve vários nomes até ao mais actual – Banda de Santarém.“Começou por se designar Real Banda dos Bombeiros Voluntários de Santarém e depois Banda dos Bombeiros Voluntários de Santarém. Mais tarde passou a Banda dos Bombeiros Municipais de Santarém e regressou novamente a Banda dos Bombeiros Voluntários. Em 2004, por já não estar ligada aos bombeiros, passou a ser designada de Banda de Santarém”, descreve Mário Marcos.
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