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Os homens de Vila Franca de Xira que agarram os toiros pelo rabo
Para os rabejadores a sua função é das mais importantes da arte de pegar
O forcado que agarra o toiro pelo rabo na parte final de uma pega é uma peça central dentro da praça. Duas gerações de rabejadores dos forcados de Vila Franca de Xira falam da importância do último homem a abandonar a arena.
Ser rabejador e dominar o toiro pelo rabo é uma honra, um orgulho e uma das maiores responsabilidades dentro da arena. Quem o faz não se sente diminuído face ao resto do grupo de forcados e garante que sem os rabejadores as pegas dos forcados seriam bem mais arriscadas.“As pessoas na maioria das vezes estão apenas atentas ao forcado que dá a cara e aos ajudas, mas o rabejador tem uma importância decisiva durante a pega porque segura o toiro e aponta-o na direcção em que o grupo está fechado. Somos quase como um timoneiro a conduzir um barco, guiando o animal para a zona que queremos, evitando que bata com o cabo contra as tábuas da arena e desiquilibre o grupo ou coloque o cabo em risco”, conta José Fernando, um dos antigos rabejadores do grupo vilafranquense. “É uma posição como qualquer outra. Eu nunca tive vergonha ou nojo de agarrar o toiro pelo rabo. Às vezes até metíamos as mãos de propósito na “mostarda” para passar nos outros e verem como era”, diz com uma gargalhada o homem que, confessa, tem na tauromaquia uma das suas maiores paixões. É o cabo do grupo de forcados que decide quem ocupa a posição de rabejador. “Quando se veste a jaqueta todos são comandados pelo cabo do grupo. Mas existem pessoas mais capazes de o fazer”, explica Vasco Dotti, actual cabo dos forcados de Vila Franca de Xira. Por norma é a pessoa com mais força e estatura corporal que acaba por merecer o título. Ao longo das últimas décadas surgiram em Vila Franca rabejadores que ainda hoje são lembrados pelas boas prestações na arena. Casos de Fernando Pita e Mário Marques (década de 70), Orlando Vieira e José Fernando (década de 80) e António João Veríssimo e António Correia (década de 90). Actualmente é Carlos Silva, 35 anos, que ocupa a posição de rabejador. Mais do que aprender a técnica a arte obriga a muito treino. “Vim para os forcados há 10 anos através de um amigo e disse que queria servir o grupo não me importava onde. Começámos os treinos e ajeitei-me melhor como rabejador”, conta o rabejador do grupo ao nosso jornal. A função é desempenhada sem grande complexidade. Exige muita observação do toiro durante a lide a cavalo e uma rápida intervenção no momento da pega. Um pouco de areia da arena ajuda a evitar que o rabo do animal se solte das mãos do forcado. A responsabilidade e o nervosismo surgem na arena. Com o tempo a confiança vai-se conquistando, mas o momento de agarrar o toiro pelo rabo e fazê-lo rodopiar é sempre um momento tenso. “Existe uma ideia errada junto dos espectadores sobre o rabejador. As pessoas pensam que só serve para dar voltinhas no rabo do toiro no final mas não é só. Isso é apenas decorativo, um pormenor, uma marca pessoal do forcado”, refere Carlos Silva. E de voltinhas no rabo do toiro percebe José Fernando, que não hesita em contar as velhas histórias da arena e do tempo em que toiros de 600 quilos lhe gelavam o sangue nas veias. “Muitas vezes depois das voltas tentava sair mesmo na cara do toiro, ficava parado frente a frente com ele, a olhá-lo nos olhos. Era bonito mas não era agradável para o forcado da cara porque quando a pega é bem feita os louros vão todos para ele. Uma vez um toiro Ernesto Castro deu-me umas sapatadas valentes, conseguiu ir buscar-me com facilidade e levei uma grande tareia. A minha sorte foi não ter largado o rabo dele, senão tinha ficado ali. Os toiros pequenos são os que dão as maiores tareias”, recorda.
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