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Já não se canta na apanha da azeitona

Já não se canta na apanha da azeitona

É tempo de apanha da azeitona. Pelos olivais do concelho de Ourém, ainda são muitos os que arrastam os panos e sobem às oliveiras para juntar alguns litros de azeite aos que se compram ao longo do ano no supermercado. Longe vão os tempos dos grandes ajuntamentos e das noites de baile no final da safra. Manuel Silva, 85 anos, ainda se recorda dos ranchos de meia centena de pessoas, que se desafiavam no campo através da música. “Agora ninguém canta, só rogam pragas”, comenta.Natural de Fontainhas da Serra, freguesia de Atouguia, Ourém, tem percorrido as terras na companhia das duas filhas e do genro na apanha da azeitona. Descansando debaixo da oliveira, vai observando os mais novos, “os que quiseram vir”, preservar o que antigamente era o ganha-pão de muitos. “Cada rancho tinha as suas ladainhas. Quando iam para os campos, uns de cada lado, cantavam ao desafio”, lembra rindo.E é a música e a alegria daquela época que mais recorda. “Em minha casa nunca o fizemos, mas na casa dos meus sogros arranjavam uma «bandeira», um ramo carregado de azeitona, e iam agradecer à igreja de Atouguia. Iam a cantar, rezavam um pouco e voltavam. Também levavam cinco litros de azeite”. No final da safra era noite de baile, “no dia das filhoses”. “Os rapazes vinham de Pinhel para o bailarico. Nem todos podiam entrar e alguns ficavam danados e metiam-se à porrada. Houve um que ficou para sempre defeituoso do nariz”.A filha, Olinda Reis, 53 anos, comenta que o ano não está mau de azeitona, mas no ano passado esteve melhor. O grupo chegou pelas 07h30 da manhã de sábado para a apanha e contava chegar aos 50 litros de azeite. “Anda tudo aqui de má mente”, refere rindo, afirmando porém que o trabalho é bom para desanuviar. “Não cantamos nem há vontade de cantar, a gente preferia comprar o azeite, ficava mais barato. É mais para fazer a vontade ao pai, que não quer deixar morrer a azeitona”. Cláudia Gameiro
Já não se canta na apanha da azeitona

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