Crispim Dinis, 85 anos, mostrou na aldeia avieira da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, onde ainda subsistem pescadores que lutam pela preservação da cultura (ver texto nesta edição), os barcos e as casas que constrói nos tempos livres. Era ainda uma criança quando partia com os pais, também avieiros, para a pesca. Mais tarde teve de abandonar a vida de pescador que levava para montar, durante 28 anos, perto de 200 postos meteorológicos ao longo do país. “Como a pesca não dava grande lucro e tinha filhos a estudar virei-me para outros trabalhos”, conta Crispim Dinis que nunca abandonou por completo a pesca. Nos últimos anos, desde que se reformou, tem-se dedicado à construção de pequenos barcos em madeira, semelhantes ao que usava na pesca. Também constrói casas palafíticas, inspirando-se na barraca que construiu para si quando estava solteiro e mais tarde ofereceu à mãe que enviuvou e ficou com três filhos para cuidar. “Há anos que a minha mulher me andava a pedir para construir um barquinho pequeno. E depois de começar a construir um, nunca mais parei. Já perdi à conta aos que fiz”. Vive em Santana, no concelho vizinho do Cartaxo, e costuma oferecer sempre os barquinhos a familiares e amigos. Nunca vendeu os objectos da sua arte. “O dinheiro que poderia ganhar não paga o trabalho que isto dá. Faço estes barcos e casas por prazer”, conclui. Eduarda Sousa