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Francisco Neves

Francisco Neves

48 anos, Director da Escola Secundária do Entroncamento

Nasceu no distrito de Portalegre e frequentou a licenciatura em Filosofia na Universidade de Coimbra. Após concluir o curso, ficou a dar aulas no colégio particular onde estudou, no ensino secundário. Com o objectivo de entrar para o ensino público, concorreu e viria a ser colocado no Entroncamento. Casado e com dois filhos, apostou na formação para conseguir progredir na carreira, sendo desde 2009 director da escola onde há quase vinte anos começou a trabalhar como professor provisório. Gosta de estudar e o seu lema de vida passa por não desperdiçar as oportunidades que tem para o fazer.

Quando fui colocado como professor no Entroncamento tinha a perspectiva de aqui ficar apenas um ano. Tinha 29 anos e o meu objectivo era regressar às origens. Acabei por gostar do ambiente de trabalho da escola e da cidade, que considero ter uma excelente localização. Como tinha um amigo que estudou comigo em Coimbra a viver cá, houve da parte dele o incentivo para que ficasse. Já lá vão quase vinte anos. Sempre apostei na minha formação. Fiquei efectivo na escola no meu sexto ano de serviço. Em 2001, decidi fazer Mestrado em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia de Lisboa. Como me aliciava a parte da gestão de uma escola acabei por fazer um curso de especialização em Administração Escolar em 2006. Sem este percurso nunca teria conseguido evoluir na minha carreira. Penso ainda fazer o doutoramento. Há-de servir para alguma coisa (risos).Não escolhi ser professor, escolhi o curso de Filosofia. O ensino surge como uma consequência da formação em Filosofia. Gostava de conhecer e de estudar o pensamento dos autores para uma melhor compreensão e explicação de certas realidades do quotidiano. Ainda hoje mantenho uma relação de amizade com a minha professora de Filosofia do liceu que me dizia que tinha muito jeito para a Filosofia. Não vim para a direcção da escola para fugir do ensino. Quando vim para a direcção da escola deixei de dar aulas. Era director de uma turma e esses alunos vieram aqui ao meu gabinete entregar-me uma fotografia de grupo, o que me lisonjeou, pois significa que tivemos uma relação de amizade e proximidade. Uma pessoa que apenas dá aulas, não imagina a complexidade do que está por detrás de uma escola. São 1200 alunos e 150 professores.Temos que dar o nosso melhor para cumprir com o que nos é exigido. A dinâmica de uma escola obriga a um trabalho de equipa que não é visível para o exterior. Implica muito sacrifício por parte do director e das equipas que o coadjuvam, o que vai muito para além do que é o horário normal de trabalho. Muitas vezes entramos às 8 horas da manhã e saímos às 8 da noite, com meia hora de almoço pelo meio. Acordo durante a noite a pensar na escola. Não consigo desligar. Penso no que vou fazer daí a quatro horas, quando me levantar, no que ficou por fazer ontem mais urgente e porque é que ainda não consegui resolver aquele problema que me está a dificultar a vida. Convivo bem com isto porque sei que é uma situação transitória. Sou uma pessoa organizada. Sei muito bem quais são as minhas competências, o que há para fazer e quem é que está a fazer o quê para dar cumprimento ao que me é exigido. O maior desafio para quem assume a direcção de uma escola é garantir a satisfação da comunidade escolar. Queremos que os nossos alunos, no final do seu ciclo de estudos, saiam daqui com uma boa formação não só académica como cívica. A minha vida pessoal sofre consideravelmente com a relação que tenho com o trabalho. Há muitos dias da semana que não janto com a família, há muitos dias de férias que não posso gozar porque a dinâmica de uma escola é grande. Isto desgasta-nos emocionalmente. É preciso uma tolerância grande por parte da família para que esta realidade seja digerida de uma forma mais ou menos pacífica. Gosto do ar puro do campo. Tenho uma pequena quintinha onde faço alguns trabalhos agrícolas e cuido de árvores de frutos que eu próprio plantei. Pratico jardinagem e gosto de cuidar da manutenção exterior da casa. É no campo que encontro espaço para alcançar a revitalização necessária para voltar a trabalhar, durante horas a fio e a semana inteira neste ambiente de clausura. Mas ao domingo à noite, ou da parte da tarde, já tenho vindo trabalhar para a escola porque há coisas que tenho que fazer para dar seguimento na segunda-feira. O meu lema de vida passa um pouco por não desperdiçar nenhuma oportunidade. Nada cai do céu.Elsa Ribeiro Gonçalves
Francisco Neves

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