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Salomé Vieira sente-se à vontade nos palcos do teatro e da política

Salomé Vieira sente-se à vontade nos palcos do teatro e da política

A presidente da Junta de Freguesia diz que a poluição do Alviela vai durar mais alguns anos

Adora o que faz e a terra onde nasceu. Salomé Vieira, 42 anos, Presidente da Junta de Freguesia de Pernes, eleita pela CDU, é a mulher autarca mais nova do concelho de Santarém. Alguns colegas chamam-lhe “mascote” mas ela não liga. Autarca, técnica de contas e actriz amadora, afirma não ter medo de se impor num mundo de homens.

Em Portugal há meses que só se ouve falar em cortes. A Junta de Freguesia também teve que cortar?Pernes não é excepção. Também afectada, como é óbvio. Sobrecarregam-nos com novas competências sem nos darem os correspondentes meios financeiros e não temos opção. Para fazermos certas coisas, não fazemos outras que, quanto a nós, eram bem necessárias. Vamos levando isto com calma. Neste mandato se conseguirmos alguma proximidade com os nossos “clientes, como costumo chamar aos nossos moradores, já é bom. Não aspiro a grandes obras porque vejo que as condições económicas são péssimas. Mas só que eu consiga essa gestão da proximidade, fazer o máximo que eu puder pela limpeza; pela sociabilidade cultural… penso que já é muito bom. O que é possível fazer nestas circunstâncias para melhorar a vida de quem vive em Pernes?Para melhorar a vida das pessoas é preciso, essencialmente, ouvi-las. Queremos manter o posto dos CTT aberto e com esta reorganização dos serviços querem fechá-lo, por exemplo. Vamos tentar manter todos os serviços que temos. Resolver caso a caso quando nos é pedido. Vamos estar junto da população e resolver pequenas coisas que fazem a diferença.Qual o impacto deste seu primeiro ano enquanto presidente da Junta de Freguesia?Eu já contava com muitas dificuldades mas isto ultrapassa tudo. Estando de fora é fácil julgar mas a situação é extremamente difícil. Ainda se criam empregos em Pernes?Estamos à espera que a zona industrial seja uma realidade. É uma vergonha que existindo industrias interessadas o projecto não avance! Tenho andado de volta do vereador João Leite à procura de soluções. Se não estou em erro, são cinco indústrias interessadas em instalar-se em Pernes. Se existem empresas é uma vergonha que não se avance.Como se encontram os serviços como a Saúde, Educação ou a Segurança Social?Temos o nosso posto de saúde aberto, a Unidade de Saúde do Alviela até recebeu um prémio pela boa gestão no ano passado. Já temos um sistema de senhas e o atendimento está bem organizado, melhorou. A Segurança Social fechou e faz falta. Tentámos que abrisse à sexta-feira, no dia do mercado, mas não deu. Propuseram-nos ficar com essa responsabilidade, mas não havia possibilidade de mantermos um funcionário. Na Educação põe-se a questão dos mega-agrupamentos. É preocupante se os nossos alunos do 5º ao 9º ano vão para Santarém. O transporte do 1º ciclo é feito pela Junta de Freguesia, que é um encargo significativo mas que eu acho importante.Que consequências trará a transferência dos alunos para Santarém?Se as crianças vão para Santarém, fecha-se o Jardim-de-Infância na Chã e o 1º ciclo. Perdem-se as crianças cá, os edifícios ficam devolutos. Tivemos uma reunião com a Associação de Pais, em que se fez um abaixo-assinado que vai ser enviado à Ministra da Educação, à Câmara Municipal de Santarém e às Juntas de Freguesia. Da minha parte, também vou escrever à Ministra da Educação. Que obra gostaria de ver realizada em Pernes?Pernes vai tentando evoluir, acompanhando os tempos. Gostaríamos de ver o nosso Mouchão com movimento como há uns anos. Pedimos à Câmara Municipal um projecto para uma sala de chá para reabilitar o espaço. A sensação que se tem é que os pobres das cidades têm mais dificuldades que os do interior. É verdade ou é mito?Há realmente pobreza em Pernes mas vai sendo colmatada com actividades como a entrega de alimentos. Aqui sente-se o interior mas é um meio rural citadino. A Junta de Freguesia está a fazer recolha de candidaturas para apoios alimentares mas o que fazemos sobretudo é relatar a quem de direito, nós pouco podemos fazer.Há um aumento dos pedidos de apoio?Há um acréscimo de pessoas a pedirem, sim. Há situações de pobreza. Mas também julgo que devia haver mais fiscalização dos subsídios de inserção.É possível falar de uma política ambiental do país enquanto se mantiver o problema da poluição do Alviela?Há que motivar as pessoas para a questão ambiental porque é fundamental para o futuro. Vamos receber mais EcoPontos, as pessoas fazem reciclagem. Penso que vale a pena investir. Na questão do Alviela sinto uma tristeza profunda, porque desde que me lembro que oiço falar na poluição. Há algumas medidas em curso, mas penso que não servirão para resolver o problema de vez. Vamos ter poluição por mais alguns anos. Que memórias tem da Feira de Pernes da altura em que era criança?Nesse tempo, a Feira de Pernes era onde nos divertíamos, onde comprávamos os sapatos, os casacos. Lembro-me das fogueiras, com a carne a assar e o movimento, que era bastante grande, com muita animação que hoje já não há. Era na Feira que nos divertíamos. Havia os aviões, a barraca dos tiros. Julgo que nunca será mais a mesma coisa porque hoje as pessoas compram quando têm necessidade. Mas penso que podemos fazer um esforço para animar.Como se iniciou enquanto actriz no Grupo de Teatro de Pernes?Primeiro fiz figuração. É muito engraçado a camaradagem que se cria. Não tenho medo de enfrentar o público, gosto de ver a casa cheia. Nos primeiros tempos ia muito nervosa, mas em palco acabava por relaxar. Estreei-me como actriz na peça “Mar”, de Miguel Torga, por volta de 2002 ou 2003. Fiz duma mulher do mar que praticamente só fazia renda e dizia um poema.Na família havia ligações ao teatro?O meu pai tinha feito teatro em tempos, mas nunca o vi representar. Os meus irmãos, em pequenos, também fizeram figuração. Não é fácil. É preciso disponibilidade e tempo. Temos que fazer muitos sacrifícios e as condições nem sempre são as melhores. Aqui é a prata de casa que faz tudo, o cenário, os vestuários…“Acho que sou uma mulher com coragem”Salomé Vieira nasceu em Pernes a 26 de Agosto de1968. Fez a escolaridade em Pernes e Santarém, tendo-se licenciado em Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA) em Lisboa. Mãe de um rapaz de 15 anos, confessa que muitas vezes a família vai ficando para trás num quotidiano bastante atarefado. O gosto pela política surgiu de pais e irmãos, que eram opositores ao regime político anterior ao 25 de Abril e que chegaram a ser presos pela PIDE (Polícia Política). Técnica de contas, o seu gabinete fica mesmo ao lado da Junta de Freguesia de Pernes. Não se considera ambiciosa, preferindo levar “um dia de cada vez”. “O meu pai esteve sempre ligado à política e foi daí que veio o meu interesse”, explica. “O meu irmão mais velho fazia parte dos sindicatos”. Quando entrou para a vida pública começou enquanto tesoureira do então presidente da freguesia, Vicente Batalha. Passou pela Assembleia de Freguesia, não tendo acabado o mandato por questões de saúde. Em 2009 concorreu à Junta de Freguesia e venceu. O seu dia começa pelas 9h, muitas vezes passando pela Junta de Freguesia antes de ir para o emprego. “Às vezes chamam-me a meio da manhã para ir à Junta, mas como o Vicente Batalha (Secretário da Junta de Freguesia) tem alguma disponibilidade, passa muito tempo na Junta, comunicamos via telefone ou pelo gmail, para o caso de ser preciso decidir alguma coisa”. É para a autarquia que se dirige ao fim do dia, pelas 18h30, e onde se mantém muitas vezes até depois da meia-noite. Confessa que já teve alguns dissabores em política por ser mulher, mas afirma não ter medo. “Ainda vivemos num mundo muito machista”, refere. “Não tenho medo de enfrentar os homens. Temos as nossas fraquezas, mas eles também têm as deles. Acho que sou uma mulher com alguma coragem”.Gosta de ler qualquer tipo de livro. Não gosta de filmes de terror e prefere o cinema mais realista. O inglês aperfeiçoou-o a ouvir música. Mas o seu fascínio é pelo teatro, onde entrou pela mão de Vicente Batalha, no Grupo de Teatro de Pernes. “Eu já tinha o bichinho de ver. Gosto de representar. Não me considero uma actriz, de maneira nenhuma, mas até dizem que tenho algum jeito”, comenta rindo. “Temos feito peças que têm sido muito aplaudidas e isso é gratificante”, comenta. “O Vicente ralha muito connosco, mas é com esses ralhetes que vamos atingindo um certo nível”. Nos tempos livres gosta de se refugiar no Baleal ou num moinho de vento, que pertence ao avô, para onde se dirige em dias menos bons. “É um cantinho entre Pernes e Vaqueiros. É o meu refúgio”.
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